“Não me derrotaram. Eu não tô preso”, diz Lula sobre fim da saidinha

Quase um mês depois do Congresso derrubar o veto presidencial ao projeto de lei que restringe a libertação temporária de prisioneiros do regime semiaberto, a chamada “saidinha”, Lula comentou nesta sexta-feira, em entrevista ao Rádio Meio, do Piauí, que os deputados e senadores não o “derrotaram” porque ele não está preso. O presidente também relembrou os 580 dias que passou preso.

“Eles não me derrotaram, eles não me derrotaram. Não estou preso, não quero ir embora. Mas derrotaram uma parte do povo brasileiro e enfraqueceram a dignidade de muitas pessoas neste país”, declarou.

Ele foi questionado sobre a relação do governo com o Legislativo e mencionou a derrubada do veto, no dia 28 de junho, sem ser questionado especificamente sobre o tema.

“Foi minha decisão moral”

“Dizem que Lula perdeu o veto do partido. Deixa eu te contar uma coisa: a decisão de sair foi uma decisão unipessoal, foi uma decisão moral minha, muito moral, porque eu sabia que todos os deputados queriam que eu não vetasse, que deixasse passar, porque vai haver eleições e é um tema delicado… Mas antes de ser presidente sou um ser humano, tenho formação política, tenho caráter, tenho compromisso ideológico, tenho família”, afirmou Lula.

“E eu disse: como é possível numa sociedade democrática, onde a base da sociedade é a família, e o Estado prende um cidadão que cometeu um crime, e se o prende não é só para puni-lo, é para recuperá-lo, e quando o cidadão sai para ver sua família, que é uma das fontes de sua recuperação, é proibido? Como é que é proibido a um pai ver uma mãe, a um filho ver uma mãe, a um irmão ver um irmão, a uma mãe ver uma filha? Por que ele cometeu um crime? Você pagará pelo seu crime e voltará a ser uma pessoa livre”, completou.

580 dias de prisão

O presidente disse ainda que deseja que a família tenha direito a receber os presos e lembrou que nem todos teriam direito ao benefício, que não atingiria quem tivesse cometido crime hediondo ou estupro, mas sim “comportamento a partir do qual as pessoas podem ser recuperadas”. “’Ah, mas de vez em quando as pessoas fogem.’ Mas a percentagem dos que não regressam é tão pequena que não vale a pena destruirmos a capacidade da família falar com aquela pessoa”, acrescentou.

“Fiquei preso por 580 dias. Vocês não têm ideia de qual foi o meu prazer quando recebi meus filhos para me verem. Agora você proíbe uma família, uma mulher e filhos, de receber o marido porque ele cometeu um crime, você não está apostando na recuperação dele. E como eu acredito muito na base da sociedade democrática, que tem a família como principal alicerce, queria que as pessoas tivessem uma escapadinha”, relatou Lula.