Musk é criticado por pedir que a Alemanha esqueça culpa por passado nazista

BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O discurso nacionalista de Elon Musk num comício da AfD, o partido de extrema direita da Alemanha, foi criticado por políticos e autoridades da Europa e de Israel. O bilionário declarou neste sábado (25/1) que os alemães deveriam deixar de lado o excesso de “culpa pelo passado”, de culpa “pelos pecados dos bisavós”.

“É muito importante que as pessoas na Alemanha tenham orgulho de serem alemãs”, afirmou o empresário, membro e conselheiro do governo de Donald Trump nos EUA, através do grande ecrã. Ao mesmo tempo que discursava, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de grandes cidades alemãs, como Colónia e Berlim, para protestar contra a AfD e a ascensão da extrema direita na Alemanha e na Europa. Musk, bem como a sua orientação para líderes autoritários, era um dos alvos preferidos dos manifestantes.

O argumento da culpa, típico da militância da AfD, ganha ressonância extra na Alemanha, que expia de forma contundente e institucionalizada o custo histórico do regime nazi na Segunda Guerra Mundial. Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia, afirmou no fim de semana no X que a manifestação de Musk foi “muito familiar e ameaçadora”, especialmente às vésperas do 80º aniversário da libertação de Auschwitz, comemorado nesta segunda-feira (27).

Olaf Scholz, o primeiro-ministro alemão, comentou a postagem do seu colega: “Só posso concordar”. Na semana passada, num outro evento dedicado à memória do que aconteceu no campo de concentração, em que 1,1 milhões de pessoas, a maioria judeus, foram assassinadas, Scholz já tinha declarado que o Holocausto é uma “responsabilidade permanente” do seu país. Todo alemão tem o dever de lembrar o que aconteceu no país durante o regime de Adolf Hitler, “independentemente da história familiar, religião ou local de nascimento dos pais e avós”, declarou Scholz em Berlim. “Não devemos e não aceitaremos qualquer relativização”.

O primeiro-ministro alemão, que enfrenta uma dura campanha eleitoral e, ao que parece, vive as últimas semanas no cargo, não mencionou Musk, mas nem precisava. Dias antes, o bilionário, num evento nos EUA, fez um gesto de agradecimento que nega ter sido uma saudação nazi, mas que foi entendido como tal por grande parte do planeta, nomeadamente na Alemanha.

“Recordar e reconhecer o passado sombrio do país e do seu povo deve ser o foco da formação da sociedade alemã”, disse Dani Dayan, presidente do Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. “Não fazer isso é um insulto às vítimas do nacional-socialismo e um claro perigo para o futuro democrático da Alemanha.”

O embaixador alemão em Israel, Steffen Seibert, também utilizou a rede social do empresário para criticá-lo. “Elon Musk parece não conhecer bem o nosso país.”

O bilionário, porém, conhece bem o léxico que agrada aos extremistas. No sábado (27), como fez inúmeras vezes na campanha de Trump nos EUA, Musk usou o tom apocalíptico para pedir votos para Alice Weidel, candidata da AfD a primeira-ministra. “O futuro da civilização pode depender desta escolha”, declarou.

A participação do dono da Tesla na campanha do parlamentar é contestada pelos adversários de Weidel na Alemanha e também por autoridades de vários países europeus. Emmanuel Macron, presidente da França, Keir Starmer, primeiro-ministro britânico, e Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, entre outros, manifestaram-se contra o que descrevem como tentativas de Musk de interferir na política europeia.

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Há cerca de um ano, Musk, acusado de permitir conteúdo extremista e nazista no X, foi convidado a visitar Auschwitz pelo museu que preserva as instalações do campo na Polônia. Ainda em fase moderada e ameaçado de perder anunciantes na rede social, o empresário participou de uma breve cerimônia e depositou uma coroa de flores no chamado muro da morte.