Morre Dona Antônia, secretária de Tancredo Neves por 14 anos

Correio Braziliense – Figura importante nos bastidores da política brasileira, Antônia Gonçalves de Araújo, que trabalhou por 14 anos ao lado de Tancredo Neves, foi exemplo de amor à família e dedicação ao serviço público. O corpo do goiano Pires do Rio foi sepultado na tarde desta terça-feira (17/9), no Campo da Esperança da Asa Sul, em Brasília (DF).

Dona Antônia, como era conhecida, faleceu na noite da última segunda-feira (16/9), em casa, aos 91 anos, em decorrência de complicações de pneumonia e leucemia.

Cerca de 100 pessoas, entre amigos e familiares, reuniram-se para prestar as últimas homenagens num velório marcado por comoção, orações e cantos religiosos. Descrita pelos seus entes queridos como uma das figuras centrais da família, Antônia era uma mulher de personalidade forte, mas de coração nobre.

O sobrinho dela, Flávio Araújo, servidor público de 59 anos, compartilha lembranças do relacionamento com a tia. “Ela sempre esteve muito atenta às necessidades de todos os seus familiares, muito próxima, preocupada, sempre presente. Ela deixou marcas profundas em todos nós. Apesar desse momento triste, temos muito carinho e orgulho de quem ela foi”, disse. disse, com lágrimas nos olhos. olhos.

“Ela foi uma mulher à frente de seu tempo, desbravadora, pioneira. Trabalhou nos Estados Unidos na década de 1950 e, de volta ao Brasil, desempenhou funções que não eram comuns para uma mulher solteira naquela época”, acrescentou Flávio.

Para Maria Flávia Gonçalves, aposentada, de 55 anos, também sobrinha de Dona Antônia, a perda foi sentida de forma ainda mais intensa, pois via a tia como uma segunda mãe. “Ela era um pouco brava, mas com uma capacidade incrível de amar. Ela era como uma mãe, pois perdi a minha muito cedo. Dona Antônia é um pedaço da minha mãe, e sou imensamente grata por tudo que ela fez por mim e por família”, disse ela, emocionada.

A técnica de enfermagem Maria Lopes, 55 anos, foi uma das cuidadoras de Dona Antônia, que sofria de Alzheimer, e relembrou o carinho e os momentos de descontração, mesmo nos períodos mais difíceis. “Ela tinha um jeito especial de brincar, sempre nos fazia rir. Até os últimos momentos, ela era uma pessoa feliz, apesar das limitações. Faleceu segurando minhas mãos. Foi um momento triste, mas muito especial”, confidenciou. .

Gratidão

A trajetória de Dona Antônia é marcada como exemplo de dedicação, força e inteligência. O presidente José Sarney lamentou sua morte. “Tenho profundo respeito pelo trabalho e pela história de Dona Antonia Gonçalves de Araújo. Ela foi muito importante na campanha e eleição do presidente Tancredo Neves”, disse ao repórter.

O ex-governador José Roberto Arruda, que foi seu colega na Companhia Energética de Brasília (CEB), descreveu a importância de Dona Antônia no cenário político brasileiro. “Ela foi peça fundamental na redemocratização do Brasil. Como braço direito de Tancredo Neves, era ela quem filtrava as decisões e os compromissos políticos. para entender as pessoas ao seu redor, sem sombra de dúvida, uma grande perda”, afirma.

Da experiência com Tancredo, a jornalista Liana Sabo, no livro Histórias dos sabores que experimenteilembra que, durante anos, ele e Dona Antônia jantavam todos os domingos no famoso restaurante Kazebre 13, na Asa Sul, onde tinham mesa privativa. Os pratos eram sempre os mesmos: frango e pizza de calabresa.

Para quem compartilhou experiências com ela, a gratidão é imensa. “Ela se preocupava profundamente com o correto uso dos recursos públicos e era extremamente respeitada por sua discrição e competência. Era uma pessoa muito simpática e é assim que vou me lembrar dela”, destaca Vinícius Benevides, ex-vizinho e amigo, diretor da Adasa .