19/11/2024 – 17:19
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Ministra Vera Lúcia Araújo criticou descumprimento por parte dos partidos políticos de cotas para mulheres
A ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral Vera Lúcia Santana Araújo defendeu nesta terça-feira (19) novas normas para garantir representação da mulher no Legislativo compatível com a representatividade na população brasileira, de mais de 51%.
Ela participou de debate na Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher, do Congresso Nacional, sobre as ações da campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, que começa nesta quarta-feira (20).
O ministro lamenta que as regras já criadas pelo Congresso Nacional não sejam cumpridas pelos próprios partidos políticos, havendo fraudes, por exemplo, na cota de 30% para candidatas mulheres e na obrigatoriedade de destinação de pelo menos 30% dos recursos públicos para o campanha eleitoral dos candidatos.
“Essas leis não são cumpridas nem pelos partidos que aqui as elaboram, o que é no mínimo estranho”, apontou. “Se os partidos que compõem o Congresso preparam essas regras, como podem não cumprir as regras que eles próprios elaboram?”, questionou.
Medidas insuficientes
Na avaliação da ministra, com mais mulheres nos espaços políticos, em todos os poderes, serão formuladas outras políticas de combate à violência de género. “Todas as medidas já implementadas não são suficientes”, alertou.
Segundo ela, para enfrentar efetivamente os números ainda alarmantes da violência contra as mulheres, não basta, por exemplo, aprovar penas privativas de liberdade cada vez maiores. “Este mecanismo já se mostra ineficaz”, destacou.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Senadora Damares Alves sugeriu que as próprias mulheres administrassem recursos partidários destinados a candidatas
Partidos políticos
“Não adianta ter a melhor lei se ela não for executada como deveria”, reiterou a senadora Augusta Brito (PT-CE). “Quando garantimos uma maior participação das mulheres na política, estamos garantindo vidas”, acrescentou.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) observou que as candidatas mulheres têm dificuldade de acesso aos recursos que lhes são garantidos. “Não tenho acesso ao meu dinheiro, que vem do fundo para mulheres. Para gastarmos, tenho que pedir ao tesoureiro do partido que me autorize a gastar. Conheço a necessidade do movimento de mulheres dentro do partido”, afirmou. “Não é altura de revermos porque é que o fundo partidário atribuído às mulheres tem de ser gerido por mulheres?”, perguntou.
Casa da Mulher Brasileira
Secretária Nacional de Combate à Violência contra a Mulher do Ministério da Mulher, Denise Mota Dau falou sobre o Painel de Acompanhamento da Casa da Mulher Brasileiraque traz dados como o valor investido em cada unidade e a previsão para a próxima fase de execução, que será atualizada mensalmente.
“São dez Casas da Mulher Brasileira em funcionamento, seis em construção, uma em processo de licitação, quatro em fase de projeto executivo até aprovação pela Caixa e 17 Casas da Mulher Brasileira já com convênio firmado com o Ministério da Justiça e Segurança Pública” , relatado.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Denise Mota Dau: Casa da Mulher Brasileira tem como objetivo prestar atendimento multidisciplinar e humanizado às vítimas de violência
O governo federal investiu R$ 296 milhões na construção das Casas da Mulher Brasileira desde 2023. Os recursos são provenientes do Ministério da Mulher e do Fundo Nacional de Segurança Pública, gerido pelo Ministério da Justiça. O valor representa 65% do total de recursos destinados ao programa desde seu lançamento, em 2013. Outros R$ 10 milhões foram investidos desde janeiro de 2023 em licitações para equipamentos e aquisição de veículos para esses espaços.
A Casa da Mulher Brasileira tem como objetivo prestar atendimento multidisciplinar e humanizado às mulheres, integrando, em um mesmo espaço, diversos serviços especializados para atender mulheres em situação de violência, como apoio psicossocial; delegacia de polícia; Tribunal; Ministério Público, Defensoria Pública; promoção da autonomia económica; e cuidados infantis.
CBF
A representante do Ministério da Mulher informou ainda que a ministra Cida Gonçalves celebra nesta terça-feira (19) uma parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para assinar a Carta Compromisso pelo Feminicídio Zero e o Acordo de Cooperação Técnica para a implementação do Não não há protocolo nos estádios.
A parceria visa garantir a segurança de meninas e mulheres nos estádios e demais espaços onde sejam torcedores, técnicos e atletas.
Estados
Denise Mota Dau informou ainda que no dia 26 de novembro será realizado um encontro nacional de secretarias de políticas para as mulheres para que os estados adiram ao Pacto Nacional de Combate ao Feminicídio, que já conta com a participação de nove ministérios. Além disso, os departamentos estaduais de segurança pública ingressarão na Ligue 180 no mesmo dia.
A secretária destacou ainda a importância da mudança de mentalidade para combater o problema, com toda a sociedade se posicionando e denunciando a violência contra a mulher.
Defensor Público
A defensora pública federal Daniela Corrêa Jacques Brauner destacou, entre outras iniciativas, que a Defensoria Pública da União criou o Observatório da Violência Contra a Mulher, para criar estratégias para melhorar a atuação do órgão nessa área.
A campanha
A Câmara dos Deputados e o Senado Federal participam anualmente da Campanha Mundial “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, que no Brasil acontece de 20 de novembro a 10 de dezembro e se chama “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”. Mulheres”. A data escolhida para o seu início, o Dia da Consciência Negra, leva em consideração a dupla vulnerabilidade das mulheres negras.
À escala global, a campanha realiza-se desde 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência contra as Mulheres, até 10 de dezembro, data em que foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A campanha é uma homenagem às irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa Mirabal, assassinadas em 1960, na República Dominicana. As irmãs foram vítimas de diversas formas de violência e tortura e foram silenciadas pelo regime ditatorial da época.
Relatório – Lara Haje
Edição – Georgia Moraes
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