07/03/2024 – 18:54
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Anielle Franco: 85% dos recursos do departamento foram investidos em políticas públicas
A pedido dos deputados Kim Kataguiri (União-SP) e Hélio Lopes (PL-RJ), a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, explicou na Câmara os gastos com viagens do ministério. Segundo Kim Kataguiri, no ano passado, praticamente metade do orçamento discricionário do Ministério da Igualdade Racial (cerca de R$ 6 milhões) foi gasto em viagens dentro e fora do país.
O ministro foi ouvido em reunião conjunta das comissões de Inspeção e Controlo Financeiro; e Direitos Humanos e das Minorias.
Kim Kataguiri disse que o ministério gastou R$ 170 mil apenas em uma viagem para participar do 10º Fórum Jurídico de Lisboa. Segundo o deputado, o que o incomoda “é a utilização de verbas públicas para passeios, quando não havia necessidade”.
Kataguiri também citou o aumento de 67% nos casos de racismo entre 2022 e 2023. “Enquanto você está atacando moinhos de vento, como se estivesse falando de racismo climático, ou dizendo que a expressão buraco negro é racista, o verdadeiro racismo está crescendo em nosso país sob a gestão de Vossa Excelência.”
Anielle Franco garantiu que não há irregularidade na aquisição dos ingressos. Segundo o ministro, quando o deputado consultou os dados estávamos em meados do ano e o orçamento ainda não tinha sido consolidado. Em 2023, ela informou que a agência gastou apenas 15% da dotação orçamentária em viagens.
“Existe o orçamento que é programado, o orçamento que é empenhado e o orçamento que é executado. Quando muitas pessoas relataram que tínhamos mais da metade do nosso orçamento para passagens e diárias, isso não é verdade. Chegamos ao Ministério da Igualdade Racial no final de 2023, com 85% do orçamento investido em políticas, e 15%, sim, em passagens e diárias para missões institucionais.”
Sobre a viagem a Lisboa, Anielle Franco citou uma série de compromissos durante a missão oficial, como a assinatura de um acordo com o Observatório Português do Racismo e Xenofobia e uma reunião com o presidente da imigração daquele país, para perceber quais as medidas que estão a ser tomadas. tomadas para casos de racismo e xenofobia contra brasileiros em Portugal.
O deputado Jorge Solla (PT-BA) acredita que o evento jurídico é o espaço mais importante para discutir a discriminação racial. “Você quer um espaço melhor do que um evento jurídico para discutir a nossa legislação e quão adequada ou não a legislação é para enfrentar essa causa?
Voo da FAB
Kim Kataguiri também questionou viagem do ministro e assessores em voo da FAB para São Paulo. Anielle Franco esclareceu que se trata de uma missão oficial, na qual foi assinado um acordo com a Confederação Brasileira de Futebol para combater o racismo no esporte. “Há também um decreto que nos permite, em missões institucionais, que possamos utilizá-lo”.
Racismo
O deputado Jorge Solla afirmou que, mesmo com todas as mudanças no país, o preconceito e a discriminação racial ainda persistem. Na opinião do parlamentar, o próprio pedido de explicações sobre as viagens de membros do Ministério da Igualdade Racial é um caso de racismo.
“Não vejo gente a questionar a quantidade de bilhetes que o Ministro da Agricultura utiliza para participar em eventos. O número de assessores-secretários que o ministro da Indústria e Comércio utiliza para participar em feiras e eventos, muito pelo contrário”, disse.
Ações
Anielle Franco também apresentou na plateia algumas conquistas do ministério. O ministro destacou que, até o momento, o governo investiu R$ 500 milhões no Plano Vivent Juventude Negra, que envolve 18 ministérios. O principal objetivo do plano é reduzir a violência letal contra a juventude negra. Como lembrou Anielle Franco, 75% das vítimas de homicídios no país são jovens negros.
Ainda segundo o ministro, por meio da Política de Direito à Terra e ao Território, o órgão concedeu sete títulos a territórios quilombolas. A medida, disse ele, beneficiou 876 famílias. Hoje, o país tem 214 mil famílias vivendo em quilombos no Brasil, o que soma 1,17 milhão de pessoas. Os dados são do censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que, como lembrou o ministro, incluiu pela primeira vez os quilombolas.
Reportagem -Maria Neves
Edição – Georgia Moraes
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