11/05/2024 – 13h41
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Anielle Franco participou de debate na Câmara dos Deputados
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou nesta terça-feira (5) que o combate ao racismo exige o reconhecimento da sociedade sobre a importância de políticas afirmativas, como cotas no ensino superior e concursos públicos.
“A construção de um país sem racismo e discriminação passa pela sala de aula”, disse o ministro em seminário sobre justiça racial realizado pela Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara dos Deputados.
O evento analisou as recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) a partir da visita ao Brasil, em 2023, do Mecanismo Internacional de Especialistas Independentes para Promover a Justiça e a Igualdade Racial na Aplicação da Lei.
“Os afrodescendentes continuam a enfrentar o racismo sistêmico no Brasil”, disse a especialista da ONU Tracie Keesee, que esteve no país no ano passado, no seminário. “Isso exige respostas e será responsabilidade de todos”, disse ele.
Os dados sobre a violência policial, especialmente contra os jovens pobres, chamaram a atenção dos especialistas da ONU. “As pessoas de ascendência africana têm três vezes mais probabilidades de serem mortas pela polícia do que as pessoas brancas”, concluíram.
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
A especialista da ONU Tracie Keesee participou do debate
“A violência policial e o encarceramento em massa são sintomas de um sistema que ainda vê os corpos negros como uma ameaça”, disse a deputada Daiana Santos (PCdoB-RS). Presidente da comissão, ela propôs o debate e dirigiu os trabalhos.
“Não há democracia possível enquanto persistir o racismo no Brasil”, comentou a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ). Além dela, participaram do seminário os deputados Damião Feliciano (União-PB) e Gisela Simona (União-MT).
Recomendações
Entre outros pontos, o Documento das Nações Unidas recomendou que o Brasil exija a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais pelos policiais – uma proposta com esse objetivo já está em análise na Câmara (Projeto de Lei 3.295/24). O relatório sugeriu ainda:
- adoptar legislação sobre o uso da força que cumpra as normas internacionais de direitos humanos, especialmente os princípios da legalidade, precaução, necessidade, proporcionalidade, responsabilidade e não discriminação, e a obrigação de proteger e respeitar o direito à vida;
- assegurar a responsabilização adequada em casos de uso excessivo da força e outras violações dos direitos humanos por parte dos agentes responsáveis pela aplicação da lei, incluindo superiores e comandantes e também a polícia enquanto instituição; e
- garantir legalmente o direito das vítimas a reparações, através de um mecanismo especializado independente, com um orçamento suficiente e concebido para apoiar indivíduos e comunidades afectadas.
O relatório da ONU também alertou sobre o respeito aos direitos dos agentes de segurança e o cuidado com sua saúde mental. “Em 2023, 118 policiais cometeram suicídio, um aumento de 26,2% em relação ao ano anterior”, destacou.
“É um relatório objetivo, com recomendações concretas, e espero que possamos pensar efetivamente sobre essas recomendações”, comentou o diretor do Instituto Internacional de Raça, Igualdade e Direitos Humanos Rodnei Jericó.
Outras participações
No seminário, o Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, anunciou a criação de um sistema de monitoramento e resposta aos organismos internacionais, visando também a formulação e execução de políticas públicas.
“Os formuladores de políticas públicas, os parlamentares e o Poder Judiciário precisam se apropriar dessas recomendações e entendê-las como contribuições significativas para o avanço da promoção e proteção dos direitos humanos”, afirmou o ministro.
Participaram também do seminário o defensor público federal, Leonardo Magalhães; a representante do Itamaraty Bruna Vieira de Paula; a coordenadora geral da ONG Criola, Lúcia Xavier; a pró-reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia Maria do Carmo Rebouças; o babalorixá do Ilê Axé Omiojuarô, Adailton Moreira Costa; e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Garrido.
Relatório – Ralph Machado
Edição – Rachel Librelon
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