MG: apenas 15% das prefeituras possuem orgão de políticas para as mulheres

MG: apenas 15% das prefeituras possuem orgão de políticas para as mulheres



Minas Gerais é o terceiro pior estado do país na estruturação de políticas públicas para mulheres em prefeituras. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85,1% dos municípios mineiros não possuem nenhum tipo de secretaria, diretoria ou coordenação para gestão de políticas voltadas às mulheres. Ao analisar o cenário nacional, mais da metade das cidades não possuem essas estruturas e o número chega a 67,8% dos municípios brasileiros.

Em Roraima, pior estado do ranking, a situação é ainda mais alarmante. Nenhum dos 15 municípios do estado possui estrutura para gerir políticas para as mulheres. Santa Catarina vem em segundo lugar, com ausência desses espaços administrativos em 88,5% dos municípios.

Na melhor posição do país, está Pernambuco. Dos 185 municípios do estado, 46 ​​possuem uma secretaria exclusiva para desenvolvimento de políticas para as mulheres, 139 possuem alguma estrutura subordinada a outro departamento ou ao chefe do Executivo. No estado, apenas dois municípios não possuem nenhum tipo de organização administrativa para gestão de políticas para as mulheres, o número representa 1,1% do total de cidades.

Considerando apenas a Região Sudeste, Minas lidera a lista com o menor número de estruturas executivas femininas. São Paulo chega a 79,2%; Espírito Santo com 69,2%; e Rio de Janeiro, o melhor no ranking regional, com 41,3% de municípios sem espaço administrativo específico para gestão de políticas para mulheres.

Cenário em Minas

Dos 853 municípios mineiros, nenhum possui secretaria exclusiva para mulheres; três possuem secretaria municipal articulada com outras políticas; 122 tratam de políticas para as mulheres num setor subordinado a outro departamento e dois municípios têm um setor diretamente subordinado ao chefe do Executivo. As restantes 726 não trabalham em políticas para as mulheres em nenhuma estrutura específica.

Belo Horizonte está entre as cidades que administram essas políticas administrativamente em um setor subordinado a outra secretaria. A capital conta com uma Diretoria de Políticas para as Mulheres (DIPM), vinculada à Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania. O órgão coordena o Centro Especializado de Atendimento à Mulher Benvinda, que atende mulheres em situação de violência, e o Comitê de Igualdade de Gênero da prefeitura.

Após a reeleição, o prefeito Fuad Noman (PSD) encaminhou ao Legislativo municipal uma proposta de reforma administrativa, que não inclui a criação de uma secretaria feminina. Foram apresentadas quatro novas secretarias: Segurança Alimentar e Nutricional; Mobilidade Urbana; Logística e Gestão de Ativos; e Secretaria Geral.

A cientista política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lívia de Souza afirmou que o cenário da capital mineira está longe do ideal. “Temos uma diretoria com uma política de acolhimento às mulheres vítimas de violência, mas não é suficiente. Se todas as mulheres vítimas fossem para lá, não haveria nem espaço”, afirmou.

“Tudo gira em torno de dinheiro. Um secretariado terá mais recursos e menos restrições para desenvolver políticas para as mulheres, que não incluem apenas a violência contra as mulheres, mas também políticas de emprego e habitação, por exemplo. O ideal seria que toda prefeitura tivesse uma secretaria, porque quando é diretoria perde força, e assim por diante”, explicou.

Entre os possíveis motivos para o número expressivo, o especialista destacou o conservadorismo. “Não ter estrutura também é uma escolha política. Minas Gerais é um estado tradicionalmente religioso e conservador. No Brasil, em geral, esse é um assunto ‘para depois’. A imagem da família tradicional mineira e brasileira é de uma mulher com filhos, então os governos precisam pensar como essa mulher vai criar esses filhos”, afirmou.

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A socióloga e professora da ESPM Karla Gobo explicou as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no cenário mineiro. “A análise de apenas dois pontos – a violência contra a mulher e sua posição no mercado de trabalho em Minas Gerais – revela a urgência de políticas públicas integradas e estruturantes. A alta incidência de feminicídios no estado, aliada à precariedade das condições de trabalho e à sobrecarga de responsabilidades atribuídas às mulheres chefes de família, evidencia a necessidade de ações que não apenas combatam a violência de gênero, mas também promovam a valorização e o apoio à cadeia de cuidado tradicionalmente assumido por eles”, afirmou.



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