17/10/2024 – 18h14
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
A Comissão de Saúde se reuniu nesta quinta-feira para discutir o piso salarial das categorias
As regras do salário mínimo para médicos e dentistas foram tema de debate na Comissão de Saúde da Câmara. Há quase dez anos, a Câmara discute o projeto de lei (PL) 765/15, que aumenta o salário mínimo de médicos e dentistas. As regras em vigor são Lei 3.999/61que fixa o salário base dos médicos em três vezes o salário mínimo. O projeto de 2015 estabelece salário de R$ 10.513, com reajuste anual INPCo índice de inflação medido pelo IBGE.
Com a alíquota acumulada do INPC, o mínimo aplicado atualmente pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam) é de R$ 19.404 para jornada de trabalho de 20 horas semanais. O valor é utilizado para negociações salariais em todo o Brasil, segundo a presidente da Fenam, Lúcia Santos.
“Esse piso, esse valor é baseado em uma pesquisa, um estudo do que seria justo um médico receber. E você não tem o caminho certo. E, se o profissional médico não receber o atendimento adequado, certamente esse cuidado à saúde ficará comprometido”, afirmou.
Ela defende um projeto em tramitação no Senado (PL 1365/22) que estabelece valor mínimo de R$ 10,9 mil para médicos e dentistas e adicional de 50% do valor para horas extras. Uma proposta de conteúdo semelhante (PL 1507/22) acompanha o projeto da Câmara e é defendida pelo presidente da Federação Interestadual de Dentistas, José Carrijo Brom. Ele alerta que há colegas que recebem R$ 1,8 mil e trabalham 40 horas semanais. Situação semelhante foi relatada pelo representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Leonardo Vilela.
“Temos médicos e cirurgiões-dentistas ganhando muito pouco, como já foi dito, R$ 2 mil, R$ 3 mil, R$ 4 mil, mas também temos outros profissionais bem remunerados, com valores muito superiores a isso. Temos profissionais que pagam R$ 18,20 mil por 20 horas semanais. Então há uma discrepância muito grande”, disse.
A disparidade também se deve à diferença na capacidade de pagamento dos municípios, segundo Vilela. Uma decisão de 2022 do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou as regras da lei de 1961, lembra o vice-presidente da Federação Médica Brasileira (FMB), Fernando Luiz de Mendonça. Atualmente, o salário mínimo seria de R$ 3.636 por 20 horas semanais, mas essa desvalorização afasta os médicos da prestação de cuidados.
“É uma garantia para a gestão. A gestão terá profissionais em caráter permanente e isso ficou evidenciado na epidemia. As cidades que contavam com profissionais permanentes em seu quadro técnico apresentavam melhores indicadores de sobrevivência de sua população. Cidades que precarizaram durante anos seu sistema de saúde, principalmente seus profissionais, foram as que mais vitimaram a população”, disse Mendonça.
Viabilidade técnica
O representante do Ministério da Saúde no debate, Gustavo Hoff, colocou a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde à disposição para estudos de viabilidade técnica de readequação do piso para médicos e dentistas. Segundo ele, o ministério criou recentemente uma coordenação específica para políticas de remuneração em saúde.
“O estudo de impacto orçamental vai dar-nos todas as condições para discutir e promover a negociação, identificar a origem dos recursos. Temos dispositivos que elencam esses elementos como requisitos fundamentais para a boa tramitação do projeto de lei”, explicou.
A audiência pública foi solicitada pelo deputado Eduardo Velloso (União-AC), que é relator do projeto na Comissão de Saúde. Ele está otimista com o projeto porque o salário mínimo em Rio Branco passou de R$ 1,8 mil para R$ 11 mil.
“Acredito que esse piso pode sim se tornar realidade, porque hoje o estado do Acre é um dos mais pobres da federação e o prefeito da capital conseguiu esse feito”, afirmou.
Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Edição – Ana Chalub
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