No dia 31, o presidente Lula recebeu governadores para tratar de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para a área de segurança públicaque estava prometido há meses, mas tinha sido colocado em segundo plano devido a uma disputa interna entre os ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e a Casa Civil, Rui Costa.
Levado à mesa de negociações quatro dias após a derrota do PT e de esquerda nas eleições municipais, a PEC confere à União o poder de estabelecer diretrizes gerais na política de segurança, amplia o escopo de atuação da Polícia Rodoviária Federal e fortalece o papel do Polícia Federal na luta contra organizações criminosas e milícias. Politicamente, é a principal aposta do presidente para sair das cordas num tema usado por Jair Bolsonaro e pelo direito de desgastar o governo.
Jogo difícil
O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), elogiou a iniciativa e afirmou que a primeira impressão da PEC foi positiva. Apesar desta declaração, o caminho para a aprovação da proposta será longo e tortuoso. Ligar para membros banco de bala anunciaram sua intenção de votar um projeto alternativo, escrito por eles. Alguns governadores já manifestaram preocupação com a possibilidade de o governo federal acabar com a autonomia dos estados em determinadas questões de segurança.
Em tese, esse confronto de posições divergentes pode servir de impulsionador para o aprimoramento do texto. O problema é que a maior parte dos atores envolvidos na questão está mais preocupada com o impacto eleitoral do que com o mérito da PEC. Os políticos de direita não querem abrir mão do discurso, que tem forte apelo popular, de que jogam duro contra os criminosos, enquanto Lula e o PT “defendem os criminosos”, como gostam de repetir nas redes sociais e nos plenários da Câmara e do Senado.
Esse cenário eleitoral, que poderia dificultar o resultado final da proposta, ficou evidente durante a reunião do presidente com os governadores. Na reunião, Ronaldo Caiado, pré-candidato à Presidência da União Brasil, reclamou de uma suposta tentativa de usurpar a prerrogativa dos governadores e afirmou ter derrotado o crime organizado em Goiás. Lula recorreu à ironia ao responder: “Tive hoje a oportunidade de conhecer o único Estado que não tem problema de segurança”.
Desgaste e falta de direção
Desde o início do terceiro mandato de Lula, o governo e o PT buscam um discurso e uma proposta para reagir à direita na questão da segurança pública. A PEC é uma tentativa dos governantes de encontrar um caminho a seguir e evitar que a esquerda perca a disputa política por não ter ou não saber o que dizer. Ou porque não tem coragem de defender o que realmente pensa, como aconteceu quando foi votada a votação do projeto que endureceu as regras de saída de presos.
Após um período de omissão e inação, Lula decidiu quebrar o silêncio do governo num setor que tanta preocupação preocupa a população —e que gera tantos dividendos eleitorais para a oposição. “A PEC representa uma tentativa do governo de mostrar liderança na questão da segurança pública, na qual o governo ainda deixa muito a desejar”, afirma Rafael Alcadipani, professor da FGV e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “A PEC não terá vida fácil no Congresso, pois a direita não quer oferecer liderança à esquerda num tema que lhe é tão caro.”
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