O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros Camilo Santana (Educação) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) se reúnem, hoje, às 10h, com reitores de universidades e institutos federais para traçar novas diretrizes e anunciar aumento de recursos para o ensino superior e , assim, fortalecer negociações que possam acabar com a greve no setor.
A greve já dura quase dois meses entre os professores e dura 90 dias para os técnicos administrativos.
O Executivo deve anunciar a inclusão do Ministério da Educação (MEC) no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além da recomposição orçamentária das universidades. O atual orçamento de financiamento das instituições de ensino superior, de R$ 6,8 bilhões, é considerado insuficiente.
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) estima que seria necessário um investimento de R$ 2,5 bilhões para atender às demandas das universidades. Na semana passada, a Educação anunciou uma recuperação de R$ 250 milhões.
“O ministro (Camilo Santana) se comprometeu a retomar imediatamente os valores que estavam na lei orçamentária de 2023, que ainda estão muito distantes dos valores necessários para as nossas universidades, mas consideramos que é um começo importante para a retomada do orçamento das nossas universidades federais”, disse Márcia Abrahão, reitora da Andifes e reitora da Universidade de Brasília (UnB), ao Correspondência.
O professor destacou que a reunião com os chefes de departamentos decorre de uma exigência feita pelos diretores desde janeiro para que o governo cumpra o compromisso que assumiu na campanha eleitoral junto aos reitores.
“É também uma reivindicação nossa apresentar os trabalhos do PAC das universidades, a recomposição orçamentária, que é uma reivindicação das nossas instituições e uma necessidade para fechar o ano e certamente o tema da greve de professores e técnicos nas universidades e institutos Vamos, nesta oportunidade, reforçar a importância das universidades para a sociedade e para a reconstrução do país”, destacou.
A greve envolve outros pontos, além da reestruturação orçamentária do ensino superior federal. No entanto, a categoria não conseguiu chegar a um acordo com o governo sobre a questão da recuperação salarial. A exigência dos professores é de reajustes de 3,69% em 2024; 9% em 2025; e 5,16%, em 2026. Segundo o Comando de Greve Nacional do Sindicato Nacional dos Professores das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), o impacto financeiro seria absorvido pela União neste ano.
“A proposta é viável financeiramente porque não exige grande volume de recursos para ser atendida e nem sequer rompe com as regras do arcabouço fiscal. Para atender uma das demandas importantes da categoria, como a substituição em 2024 da inflação dos últimos 12 meses, seriam necessários cerca de R$ 580 milhões, dos quais pelo menos 27,5% retornariam imediatamente aos cofres do governo na forma de arrecadação de impostos”, diz a nota de Irenísia Oliveira, do Comando Local de Greve da Polícia Federal Universidade do Ceará (UFC).
Mobilização
Até a Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) interveio para tentar mediar o fim da greve. Novas rodadas de negociações estão previstas para o decorrer da semana. O Ministério da Gestão e Inovação nos Serviços Públicos (MGI) e o MEC também se reunirão, amanhã, com os técnicos paralisados. Os professores se reunirão com representantes do departamento na sexta-feira.
“Tivemos uma semana de muitas reuniões, grandes movimentações do PT e dos parlamentares. Temos esperança de que o governo chegue às reuniões com propostas que se aproximem das nossas reivindicações”, destacou David Lobão, coordenador-geral do Conselho Nacional Sindicato dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe).
Mesmo que a categoria esteja otimista, Lobão classifica como “lamentável” que os sindicatos não tenham sido convocados para a reunião que tratará do PAC das universidades, o que também é um dos motivos que motivam o movimento.
“O que é lamentável nesta reunião é que o governo não convidou os sindicatos para esta reunião. No entanto, temos certeza de que esta medida do governo só ocorre em consequência da nossa greve”, disse. “Cabe a nós registrar essa vitória e fazer uma análise, após o anúncio, para realmente ver se o governo tratará a educação federal com o cuidado que ela merece”, completou.
Professores exigem promessas
Professor do Instituto Federal de Brasília (IFB) e membro da diretoria do Sinasefe regional Lucas Barbosa afirmou que haverá, hoje, mobilização em defesa da classe. Reiterou que o fim da greve depende “de uma proposta de reestruturação das carreiras docente e técnica e de reajuste salarial”.
“Seria importante que Lula e o ministro recebessem também os funcionários em greve e não apenas os reitores. Até porque não será uma reunião com os diretores de universidades e institutos que porá fim à greve, porque também envolve reajustes salariais e reestruturação de carreiras”, afirmou.
O evento acontecerá na Praça dos Três Poderes, durante o encontro entre o Presidente da República e os reitores. “Não tenho dúvidas de que o envolvimento do alto escalão, principalmente do Lula, acelera a construção do acordo. O que é lamentável é a falta de vontade do governo em receber os sindicatos. nossa greve, mas ela só convoca os gestores, deixando os sindicatos de fora”, disse Lobão.
Sem acordo
Há também outro componente da greve. No dia 27 de maio, o MGI assinou convênio com a Federação dos Sindicatos dos Professores e Docentes das Instituições Federais de Ensino Superior e Ensino Técnico e Tecnológico Básico (Proifes), sem o apoio da Andes. O acordo foi suspenso judicialmente e prevê reajuste de 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026, mas não indica correção para este ano —ponto do qual a Andes não abrirá mão.
No serviço público não existem convenções e acordos coletivos de trabalho, típicos das negociações do setor privado. O aumento salarial no serviço público só vale quando virar lei. Assim, o acordo entre o Proifes e o governo não tem valor jurídico, apenas valor político. “Embora não tenhamos conseguido um ajustamento em 2024, e tenhamos protestado por causa disso, as nossas reivindicações foram quase integralmente atendidas: uma nova turma de ingresso, tornando a carreira docente mais atrativa e o reequilíbrio da carreira, com o ajustamento”, apontou destaca o presidente do Proifes, Wellington Duarte.
Lobão, do Sinasefe, avalia que existe a possibilidade de o governo decidir não apresentar nova proposta, dada a aceitação do Proifes. “Acredito que esta seria a pior escolha do governo, pois seria um grande desrespeito aos milhares de professores que estão em greve neste país. Com a direita tentando capitalizar a greve federal na educação, seria altamente irresponsável para o governo a seguir esse caminho”, observou.
A Comissão de Educação da Câmara, liderada pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), aprovou a criação de um grupo de trabalho para “analisar e propor soluções técnicas relativas às reivindicações das Universidades e Institutos Federais de Ensino em greve”. Por outro lado, parlamentares da base governista, como Érika Kokay (PT-DF), Érika Hilton (PSol-RJ), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), assinaram carta em apoio da greve dos trabalhadores. professores.
De acordo com o balanço do movimento grevista, divulgado na passada quinta-feira, 62 instituições estão paralisadas, estando outras três previstas para iniciar hoje greve. “Na quarta-feira, os professores da UFMG aprovaram a suspensão da greve, mas as mobilizações foram mantidas”, dizia o boletim do grupo.
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