27/09/2024 – 14h57
Acácio Pinheiro/Agência Brasília
Violência é tema que domina debates envolvendo mulheres
Parlamentares apresentaram projeto de lei sobre violência de gênero a cada 30 horas em 2023. Levantamento da iniciativa Elas no Congresso, do Instituto AzMina, mostra que, dos 502 projetos de lei sobre direitos de meninas, mulheres e pessoas LGBTQIAP+ apresentados no ano passado, 282 ou 56% tratam do tema. A maioria sugere medidas preventivas ou punitivas contra agressões físicas e psicológicas.
A violência doméstica e familiar é a modalidade mais debatida —aparece em 117 propostas. A violência e a dignidade sexual são tema de 69 projetos, e o feminicídio, de 13.
Em setembro, um desses projetos foi aprovado pela Câmara dos Deputados – que aumenta as penas para feminicídio de 12 a 30 anos para 20 a 40 anos de prisão (PL 4266/23). Já aprovado pelo Senado Federal, o texto aguarda sanção presidencial.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Gisela Simona: “Hoje temos um grande sentimento de impunidade”
Mas será que as medidas sugeridas e aprovadas pelos parlamentares foram eficazes no combate à violência de género? Punir adequadamente os responsáveis por crimes contra as mulheres continua essencial e continua sendo um desafio no Brasil. Os especialistas ouvidos pelo programa Câmara de Rádio Mulheres de sua Palavrano entanto, destacam outro aspecto do problema que é ainda mais desafiador: prevenir a violência.
Ana Carolina Araújo, gerente de projetos do Instituto AzMina, à frente do Elas no Congresso e do MonitorA (observatório de violência política de gênero), considera importante o aumento das penas para o feminicídio, mas lembra que a medida surge num momento em que a mulher já foi assassinada .
“Sabemos, com base em evidências das ciências sociais e políticas, da antropologia, da ciência da segurança pública e do direito, que a punição não reduz esses crimes”, disse ele. crime.”
Sem impunidade
Por outro lado, a deputada Gisela Simona (União-MT), que denunciou o projeto que aumentou as penas para o feminicídio, acredita que a medida diminuirá o sentimento de impunidade.
O texto aprovado pelos parlamentares também proíbe liberdade condicional e restringe a progressão da pena para feminicídio. Nestes casos, o condenado terá que cumprir 55% da pena em regime fechado, mesmo que seja réu primário – em vez de 30% ou 40%, como determina a legislação geral.
“Hoje temos um grande sentimento de impunidade, não só por parte das mulheres, mas por parte de toda a sociedade”, lamentou Gisela. “[Isso porque]além da pena, que tinha esse limite de 20 anos, tivemos a situação de progressão do regime, com cumprimento de 30%, 40% já possibilitando a regressão da pena de isolamento para detenção e até liberdade condicional.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Adriana Ventura: “Aumentar penas não resolve tudo, mas inibe a criminalidade”
Primeiro passo
Na sessão de aprovação do projeto na Câmara, a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) afirmou que a proposta pode ajudar a inibir o feminicídio. “Acho que aumentar as penas não resolve tudo, mas inibe a criminalidade. Acho que cortar privilégios para quem comete abusos, para quem comete feminicídio, é um primeiro passo”, avaliou.
“A partir do momento em que proibimos a marcação [do agressor condenado] para cargos públicos, que vetamos as visitas conjugais e aumentamos a pena, que restringimos os direitos dos presos e passamos a submetê-los a outra norma, acho que avançamos, porque estamos no país da impunidade”, disse Adriana.
Crime previsível
A procuradora da Mulher na Câmara, deputada Soraya Santos (PL-RJ), destacou que o feminicídio é um crime previsível, que dá sinais antes de acontecer. “O que estamos a fazer aqui é ainda trabalhar nas consequências”, lamentou. “Temos que invadir as escolas, dar os sinais”.
“Vejo gente ligando para 190 para dizer que a festa do vizinho está incomodando. Temos que aprender a discar 190 para dizer que há uma briga de gritos”, disse Soraya.
O projeto aprovado pelos parlamentares também aumenta as penas para crimes contra a honra, lesões corporais e ameaças cometidas contra mulheres devido à sua condição feminina.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Soraya: precisamos educar porque continuamos trabalhando para punir as consequências
Políticas de prevenção
Ana Carolina Araújo, do Instituto AzMina, avalia que o trabalho legislativo em relação aos direitos das mulheres tem estado intimamente associado à punição na esfera penal. Ativista antipunitiva, defende principalmente políticas de prevenção nas escolas, famílias e comunidades.
“A sociedade já está tão convencida de que o castigo e a violência são o caminho a seguir, que quando falamos em ações educativas, nessa mobilização para prevenir a violência, parece que são ações menores. E de facto não são”, criticou.
“Temos evidências de que ações educativas e preventivas contra a violência são preditores muito maiores de índices mais baixos de violência do que punições”, disse Ana Carolina.
História autoritária
Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade de Brasília (UnB), a professora Ana Paula Antunes observa que a sociedade brasileira é marcada não apenas pela violência, mas também por uma história autoritária. Nesta sociedade, as ideias relativas à restrição da liberdade e à punição estão na ordem do dia. E a questão da violência contra as mulheres não é diferente.
Para Ana Paula, é necessário utilizar o direito penal para coibir essa violência, mas é preciso articular isso com os princípios dos direitos humanos, lembrando que a população carcerária do Brasil já é a terceira maior do mundo.
“Ao longo da nossa história, homens foram absolutamente absolvidos ou houve falhas na justiça em relação a essas tentativas de feminicídios, feminicídios consumados ou outras formas de violência”, afirmou. “É por isso que o uso do direito penal é uma estratégia de equidade utilizada em relação às mulheres”.
Alertou, no entanto, que “o aprofundamento das estratégias penais pode tornar-se ou caracterizar-se como uma estratégia punitiva à qual devemos prestar muita atenção”.
Vinícius Melo/SMDF
Especialistas defendem ações educativas e preventivas contra a violência
Maria da Penha
Para o professor da UnB, também é preciso focar em outras medidas previstas no Lei Maria da Penhaque completa 18 anos em 2024. Entre essas medidas está a articulação entre órgãos do sistema de justiça, do Poder Executivo e organizações não governamentais para o combate à violência contra a mulher.
Uma lei aprovada este ano pelos parlamentares (Lei 14.899/24) estabelece justamente que estados e municípios devem criar um plano de metas para o combate integrado à violência contra a mulher.
Além do plano de metas, os governos terão de criar uma rede estatal para combater esta violência e responder a estas questões. Estas redes podem ser compostas por órgãos de segurança pública, saúde, justiça, assistência social, educação e direitos humanos e organizações da sociedade civil.
A professora Ana Paula Antunes também destaca a importância das transformações culturais. Para tanto, ela defende mais estudos e pesquisas sobre violência contra a mulher, formação adequada de professores, entre outras estratégias de educação.
“Para dar um exemplo, a Universidade de Brasília tem uma iniciativa chamada Lei Maria da Penha vai à Universidade, que espelha o projeto Lei Maria da Penha vai à Escola.” O objetivo é prevenir essa violência, que ocorre principalmente entre mulheres jovens de 18 a 29 anos.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Alencar lembrou que na maioria das vezes os agressores são sócios ou ex-companheiros.
Educação para homens
Na sessão de aprovação do projeto que aumenta as penas para o feminicídio, o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) defendeu sobretudo a educação dos homens para enfrentar o problema, lembrando que a maioria dos feminicídios é cometida em casa, por parceiras ou ex. -companheiros da vítima.
“Não que acreditemos que o mero aumento das punições resolva o problema, mas contribui para certas situações dramáticas como o feminicídio. Nós, homens, temos que nos reeducar profundamente”, afirmou. “Não adianta ter um acervo intelectual muito grande e uma prática que é de miséria, de pobreza, inclusive intelectual e de postura.”
Ana Carolina Araújo, do Instituto AzMina, também destaca a importância de programas educativos voltados para homens, principalmente aqueles que já cometeram algum tipo de violência. “Se essas pessoas puderem ser integradas em programas educacionais e de monitoramento, isso poderá evitar que a violência pela qual ele foi condenado se transforme, por exemplo, em feminicídio”.
Outras leis
Outras duas leis aprovadas pelo Congresso Nacional este ano prevêem medidas educativas para combater a violência contra a mulher. Um deles (Lei 14.942/24), originado em projeto de lei (PL 147/24) da deputada Maria Arraes (Solidariedade-PE), prevê a instalação de bancadas vermelhas, em espaços públicos, com mensagens de reflexão sobre a violência contra a mulher e contatos para denúncia e apoio às vítimas — como o telefone da Central de Atendimento à Mulher, Ligue 180.
Em setembro, foi publicada outra lei aprovada pelos parlamentares (Lei 14.986/24) para prever que, nas escolas primárias e secundárias, públicas ou privadas, seja obrigatória a inclusão de abordagens baseadas nas experiências e perspectivas femininas nos conteúdos ministrados.
A lei, que altera o Lei de Diretrizes e Bases da Educaçãosurgiu do Projeto de Lei 557/20, da deputada Tabata Amaral (PSB-SP).
Relatório – Lara Haje
Edição – Natalia Doederlein
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