Em menos de dois anos, já foram registrados dois atos criminosos e típicos de terrorismo em aeroportos internacionais, áreas que estão sob jurisdição federal.
Em ambos os casos há evidências de leniência por parte dos governos federal e estadual. Apresentam sinais da ruína política do Estado brasileiro em um de seus alicerces, o monopólio da coerção pela força legítima.
Na véspera do Natal de 2022, extremistas deixaram um acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército com o objetivo de explodir bombas no aeroporto internacional de Brasília para criar um “clima” propício a um golpe de Estado. Na semana seguinte, esperava-se a chegada de chefes de estado e de governo convidados para a posse de Lula.
Vale lembrar: durante 55 dias, até a noite do ataque fracassado, uma rotina de manifestações e conspirações contra o regime democrático neste campo irregular foi sustentada com a cumplicidade do governo Jair Bolsonaro; o governo do Distrito Federal; comando das Forças Armadas; com o apoio ativista de delegados da Polícia Militar e também de alguns parlamentares distritais, deputados federais e senadores.
São estes os mesmos políticos que agora defendem a amnistia para os condenados pela tentativa de insurreição uma semana após a tomada de posse presidencial, no domingo, 8 de janeiro de 2023.
Na última sexta-feira (11/08) um operador financeiro da máfia paulista foi executado em frente à ala de desembarque do aeroporto internacional de São Paulo. Há indícios do envolvimento de agentes da Polícia Civil e Militar.
Naquele final de semana, parte das delegações governamentais e privadas que participaram das reuniões anteriores do G-20 no Rio desembarcaram na capital paulista. Presidido pelo Brasil, este evento reúne chefes de estado e de governo das nações mais desenvolvidas, países convidados da América Latina e da União Africana e lideranças de 15 organizações internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
Vistos isoladamente, os casos de Brasília e de São Paulo apresentariam apenas uma infeliz coincidência no calendário de eventos relevantes, como a posse presidencial e a reunião do G-20.
Juntos, os dois episódios mostram um Estado desafiado na vitrine brasileira. Está ocorrendo uma liquefação institucional. Por conveniência, não é admitido ou reconhecido nos palácios do Planalto e dos Bandeirantes, no Congresso e no Judiciário.
No entanto, está lá, visível tanto nas iniciativas de múltiplas facções do extremismo político – incluindo grupos neonazis no Sul – como nas ações de guerra urbana levadas a cabo pelas máfias do tráfico de droga e pelas milícias paramilitares em todo o país.
De Lula a Tarcísio de Freitas, governantes conversam sobre emendas à Constituição, novas leis penais, planos de segurança pública e forças-tarefa para casos específicos, sem indicar disposição para o saneamento básico das forças de segurança e sua necessária integração nacional, com a capacidade de mapear e desmantelar a estrutura financeira, onde os lucros ilícitos são branqueados com apoio político.
Enquanto isso, multiplicam-se os sinais de contaminação das instituições pelo crime. Por exemplo, são eloquentes os relatos sobre suspeitas de eleições de sete dezenas de parlamentares federais em 2022 e de muitos outros nas recentes eleições municipais, especialmente no Rio e em São Paulo.
Quem quiser pode continuar fingindo que não vê, mas a deterioração institucional já aproximou o Brasil do México e da Colômbia no mapa da insegurança sul-americana.
Em áreas específicas, como o terço do território carioca controlado por narcotraficantes e milicianos, e também em algumas cidades da Amazônia, existe um estado em pré-falência, aproximando-se da situação que caracteriza a Venezuela hoje.
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