A ministra Simone Tebet anunciou que vai provar por A mais B que o governo vai deter 15 bilhões para conseguir cumprir o quadro fiscal.
Entretanto, o resto do governo está a provar por A vezes B que o governo vai explodir esse quadro fiscal – e/ou aumentar os impostos –, colocando a conta nos… pobres.
O esforço da semana é o recém-lançado programa Voa Brasil, com o qual o governo pretende subsidiar passagens aéreas a 200 reais para aposentados. Diz que beneficiará até 23 milhões de pessoas.
O governo acredita, ou pelo menos diz acreditar, que a despesa não virá do orçamento federal. A explicação é que ele chegou a um acordo com as companhias aéreas pelo qual aposentados voadores preencherão as vagas.
Acontece que, assim como não existe almoço grátis, também não existe voo grátis. As companhias aéreas não são idiotas: se valesse a pena, ou se fosse possível, vender os assentos atualmente ociosos por 200 reais, eles já estariam sendo vendidos nessas condições. A conta não fecha.
Ou seja, a mudança trará custos. Não só o custo das passagens em si, mas também o custo do site onde os aposentados comprarão suas passagens, o desenvolvimento do sistema que controlará o número de voos dos aposentados (eles só podem voar uma vez por ano), o pessoal para operar o sistema etc.
No final da linha descobriremos que:
1. Aposentados não as pessoas pobres ficarão bem – afinal, independentemente do custo da passagem, as pessoas verdadeiramente pobres não têm dinheiro para fazer turismo. (E é bom lembrar que todos os reformados já são subsidiados, porque a Segurança Social está em défice, e o défice é pago com o dinheiro dos impostos.)
2. As companhias aéreas – quer vendendo mais bilhetes que não venderiam noutras circunstâncias, quer através de algum tipo de reembolso constante de tal “acordo” (um acordo deste tipo tem sempre uma cláusula que diz que se a conta não fechar , o governo paga a diferença) — eles se darão bem.
3. Quem vai sair prejudicado são os pobres (principalmente os que trabalham), cujos impostos acabarão pagando a conta.
O que não deveria surpreender ninguém, porque cada vez que um governo surge com algo bonito para beneficiar alguém que não é realmente pobre, a conta acaba nos bolsos de alguém que é realmente pobre.
O Brasil é um país com pouco dinheiro e muitas injustiças: precisa estabelecer cuidadosamente suas prioridades, e passagens aéreas baratas para aposentados não deveriam ser uma delas.
Mas estabelecer prioridades é algo que o actual governo simplesmente não pode fazer.
(É certo que o governo anterior também foi péssimo neste assunto, mas o governo anterior nunca escondeu a sua falta de interesse em estabelecer prioridades ou combater injustiças.)
(Por Ricardo Rangel em 26/07/2024)
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