Diante das dúvidas públicas do presidente Lula sobre a necessidade de cortar custos e a pressão PT pelo afrouxamento do ajuste fiscala decisão do governo de congelar 15 bilhões de reais no Orçamento para garantir o cumprimento da meta de déficit zero em 2024 soou como uma vitória do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. E foi de facto uma vitória, mas apenas parcial, que deu ao chefe da equipa económica alguns dias para se preparar para novos – e duros – confrontos.
A primeira delas será com os próprios colegas do governo. Na próxima terça-feira, dia 30, Haddad deverá anunciar quais ministérios serão atingidos pela tesoura. A lista ainda não foi definida, mas é certo que haverá pessoas insatisfeitas. Rui Costa, chefe da Casa Civil, não aceita perder recursos destinados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Jader Filho, das Cidades, quer preservar o Minha Casa, Minha Vida, mais uma menina dos olhos do presidente. E o próprio Lula, antes de endossar o congelamento bilionário, declarou mais de uma vez que nenhum ajuste poderia prejudicar obras e programas sociais.
Haddad sabe que os detalhes do congelamento causarão barulho, mas não fugirá da missão. Ele costuma dizer que, enquanto seus colegas olham para as respectivas árvores, cabe a ele cuidar de toda a floresta —no caso, das dificuldades das contas públicas.
Cruzada Solitária
Outro nó a ser desatado pelo ministro é o da indenização por redução de imposto sobre folha de pagamento de pagamento. Sua proposta de restringir o uso dos créditos do PIS/Cofins foi derrubada por uma colaboração envolvendo o presidente Lula, o ministro Rui Costa, representantes da indústria nacional e o comandante do Senado, Rodrigo Pacheco. Em tese, cabe aos parlamentares encontrar uma nova fonte de remuneração. Caso isso não aconteça, o fim da isenção, desejado pelo ministro desde o final do ano passado, voltará a vigorar.
Haddad sabe, porém, que Lula quer e espera um acordo —um acordo que, até agora, não está no horizonte. Sem a definição de compensação, a equipa económica alega que não consegue estimar a receita em 2025 e, portanto, não consegue preparar a proposta de Orçamento da União para o próximo ano. Para cumprir as metas fiscais de 2024 a 2026, o ministro conta com o aumento da receita, quer através do aumento da actividade económica, quer através da adopção de medidas fiscais.
O esforço para aprovar novos impostos levou a uma campanha de direita contra Haddad, apelidado de “Taxxad”. O epíteto ganhou força nas redes sociais e, na política, é utilizado para enfraquecer as iniciativas do ministro que, segundo ele, visam alcançar a justiça social. Haddad já se manifestou disposto a rever isenções fiscais bilionárias concedidas pelo governo, mas até o momento não conseguiu avançar muito, porque lobbies de determinados setores privados falam mais alto no Congresso e até no Palácio do Planalto, como ficou claro na regulamentação da reforma tributária na Câmara.
O congelamento de 15 bilhões de reais no Orçamento deu fôlego ao ministro, mas não foi suficiente para que ele superasse definitivamente nenhum de seus muitos desafios. No Ministério das Finanças, todos os dias há uma senhora em agonia.
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