11/09/2024 – 14:51
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Debatedores reclamaram de custos e dificuldades do setor
Em audiência pública da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados, o secretário de Transportes Ferroviários do Ministério dos Transportes, Leonardo Ribeiro, disse que as mudanças serão anunciadas até o final do ano em Direito Ferroviárioa partir de 2021, inclusive para permitir leilões com aportes de recursos públicos. Os usuários do sistema reclamam das altas taxas e da pouca transparência por parte das empresas.
O marco regulatório do setor inovou ao criar a figura da autorização no setor, como acontece no setor de telecomunicações. Contudo, neste instrumento não há participação do setor público. Ribeiro disse que a ideia é fazer parceria com a iniciativa privada por meio de leilões com recursos públicos.
“Até então fizemos obras públicas e depois concedemos. O mundo nos ensina que é possível fazer diferente, fazer leilões com investimento, elevar a taxa interna de retorno dos projetos a uma taxa mínima de atratividade. Atrair o setor privado de forma eficiente”, explicou.
Outra mudança é a regulamentação de chamada pública para trechos com pouca utilização ou mesmo abandonados pelas atuais concessionárias. Isso, segundo ele, dependia de um acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a precificação dos trechos devolvidos.
O secretário do Ministério dos Transportes citou como medidas em curso a serem adotadas:
- Interoperabilidade – portaria regulamentará a obrigatoriedade de integração da rede
- Passageiros – será emitido decreto para promover alguns trechos
- Renovações antecipadas – uma portaria permitiu essas renovações de concessão acompanhadas de novos compromissos de investimento
- Recursos – incentivos fiscais por meio de debêntures incentivadas e ICMS
- Projetos – o governo trabalha em uma carteira de estudos de viabilidade técnica para novos projetos, incluindo a Ferrogrão, o anel ferroviário Rio de Janeiro-Vitória, o corredor Leste-Oeste, a integração Minas Gerais-Bahia, o corredor Brasília-Luziânia
Taxas acessórias
O presidente da Associação Nacional de Transporte de Cargas, Luis Baldez, reclamou das chamadas taxas acessórias, que são custos cobrados pelas concessionárias por serviços extras como limpeza. Segundo ele, a tarifa de transporte é regulamentada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas esses custos acessórios não têm limite. Para Baldez, as empresas calibram essas tarifas para que o custo total seja apenas 5% inferior ao custo rodoviário.
Disse ainda que não existe rede ferroviária propriamente dita porque os troços não estão integrados.
Alexandre Barra, da Associação Brasileira de Óleos Vegetais, disse que a demanda por transporte é alta e a oferta muito concentrada. “A frase que mais ouvimos na associação é que a concessionária disse que foi ‘levada’, ou seja, não tem espaço, não pode cobrar. É uma situação séria. Se a concessionária ferroviária não puder transportar a carga do usuário, que tem baixo valor agregado, como fará isso? Vai ser enviado de caminhão, vai ficar muito mais caro e vai começar a inviabilizar o negócio”, afirmou.
Para a Barra, a ANTT precisa colocar em funcionamento em breve um sistema, chamado CNSO, que permitirá o monitoramento online da movimentação de cargas, além da abertura dos dados. Ele afirmou ainda que os usuários têm medo de fazer denúncias e sofrer represálias.
Yuri Pontual, da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, destacou que os investimentos em curso deverão aumentar o transporte ferroviário de cargas do patamar atual de 21% para 35% do total.
Mais investimentos
O deputado Gilberto Abramo (Republicanos-MG), presidente da comissão, destacou que os usuários estão pedindo mais investimentos para aproveitar os trechos existentes, o que não estaria sendo feito pelas concessionárias. “Se o Estado entende e nós entendemos que há necessidade de investimento, temos então de abrir o mercado. Aqueles que detêm estas concessões não são, em teoria, tão favoráveis à abertura e expansão deste mercado, como é o caso das companhias aéreas.”
Abramo disse que apresentará pedidos para obter mais dados sobre o uso da rede. Para ele, os problemas mencionados na audiência poderiam até motivar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Relatório – Silvia Mugnatto
Edição – Rachel Librelon
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