Francisco, o primeiro terrorista suicida do Brasil

Francisco, o primeiro terrorista suicida do Brasil



Francisco Wanderley Luiz, o primeiro terrorista suicida da história do Brasil, escolheu o Supremo Tribunal Federal como alvo de sua tentativa de ataque. Sua ex-mulher afirmou que o plano era assassinar Alexandre de Moraes, o ministro do STF mais identificado com o combate ao radicalismo político, e depois se matar. O vídeo do atentado mostra que o terrorista, ex-candidato a vereador pelo PL em 2020, só se matou após ser abordado por seguranças do STF. Não parece que ele chegaria perto de matar Moraes, mas nunca se sabe.

O alvo não é surpreendente. Desde 2018, a extrema direita brasileira, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), trata o STF como uma instituição inimiga. Promotores da Operação Lava Jato, como Deltan Dallagnol (Partido Novo), continuam adotando essa postura. Alegando uma recente conversão à crença na democracia, como argumentado na Folha de S. Paulo, Bolsonaro divulgou uma nota diluída, desejando a “pacificação nacional”. Ele provavelmente teme ser preso em conexão com os atos (de terrorismo menos explícito, digamos) de 8 de janeiro do ano passado. Bolsonaro queria um golpe sem violência e, agora, não pela primeira vez na vida, tem ligação indireta com um ato terrorista mais tradicional.

Chamar o caso de Francisco de “explosão no STF” é um eufemismo. Foi o primeiro terrorista suicida da história do Brasil, considerando que as mortes dos soldados Guilherme Pereira do Rosário e Wilson Luís Chaves Machado, no Riocentro em 1981, foram acidentais.

Mas seria Francisco realmente um representante da extrema direita?

Vamos ver o que disse a deputada federal Carla Zambelli no Instagram: “O suicídio e possível terrorista deixaram claro [em postagens nas redes sociais] que não foi Lula nem Bolsonaro, pois ele pede que ambos deixem a vida pública. Além disso, foi candidato pelo PL [em 2020] quando Bolsonaro nem pensava em ingressar no partido, pois a situação com o PSL era tensa. Na minha opinião, ele estava pirando, pois além das mensagens estranhas que mandava para si mesmo e depois postava no Facebook, ele vestia uma roupa de Coringa (aquele que luta contra o Batman). Por fim, este episódio nada tem a ver com o dia 8 de janeiro de 2023, pois os presos políticos desse dia não possuíam armas letais ou explosivos.”

Zambelli, representante da extrema direita organizada no Brasil, não demonstra apoio nem condenação ao terrorista.

O que liga o terrorista aos golpistas do 8 de Janeiro é o sentimento antissistema, que por vezes se manifesta dentro do bolsonarismo. Segundo Bruce Hoffmann e Gordon McCormick (2014), no texto “Terrorismo, sinalização e ataque suicida” os ataques suicidas são um tipo de sinalização de forte compromisso ideológico. Além disso, se houver aceitação popular de tácticas de ataque suicida entre outros extremistas, a morte do terrorista poderá ser lamentada como uma perda colectiva.

No triste caso de Francisco Wanderley Luiz, ainda não vi manifestação pública de pesar pela sua morte. Se nenhum grupo político te vê como mártir ou vítima do “sistema”, as chances de alguém te imitar diminuem. Porém, não se pode dizer que tudo está normal e que ele era apenas um transtorno mental, pois não é e ele era apenas isso.

Sérgio Praça é professor e pesquisador da Faculdade de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV CPDOC). Doutor em Ciência Política pela USP, é autor de “Guerra à Corrupção: Lições da Lava Jato” e “Corrupção e Reforma Orçamentária no Brasil”



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