Fim da escala 6×1 é a demanda ‘mais importante do século’, diz petista

Fim da escala 6×1 é a demanda ‘mais importante do século’, diz petista



A redução da jornada de trabalho liderada pelo movimento que pretende acabar com a escala 6×1em que o descanso remunerado ocorre apenas uma vez por semana, ganhou força nos últimos dias e motiva a tramitação de Propostas de Emenda Constitucional (PEC) que poderão regulamentar o tema. Em entrevista com Estado de Minasnesta segunda-feira (11/11) o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), autor de uma das propostas que reduz a jornada de trabalho para 36 horas semanais, classificou a agenda como a mais importante do século 21.

Atualmente, a Constituição determina jornada de trabalho limitada a 8 horas diárias e 44 horas semanais, permitindo compensação de tempo para redução de jornada de trabalho, por meio de acordo ou convenção coletiva de trabalho, resultando em seis dias de trabalho. Segundo Lopes, são poucos os setores que ainda operam na escala estabelecida no final do século passado, limitando-se aos cargos de menor remuneração.

“A redução da jornada de trabalho é a reivindicação mais importante do século. Com os avanços tecnológicos resultando em ganhos de produtividade e a reforma tributária, a redução é mais um ganho. Ela compartilha os resultados com os trabalhadores. É muito importante que eles consigam cuidar da família, tenham mais tempo para cuidar da saúde, do lazer, da cultura, da educação. E ainda tem potencial para aumentar a renda per capita”, declarou Reginaldo Lopes.

Segundo o deputado, a redução do tempo gasto pelos trabalhadores em atividades profissionais pode ajudá-los a se dedicarem à formação, beneficiando a economia com a formação de mão de obra especializada e aumentando a renda familiar. “Hoje a baixa renda é um desafio para a nossa economia. A redução da jornada de trabalho pode ajudar a formar trabalhadores mais qualificados e, consequentemente, aumentar os salários”, acrescentou.

A proposta do deputado petista, apresentada na PEC 221 de 2019, reduz a jornada de trabalho para 36 horas semanais sem alteração salarial. O texto é praticamente idêntico ao PEC apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP)que ganhou apoio nas redes sociais com a pressão para que os deputados assinassem a proposta e para que ela começasse a tramitar na Câmara.

Para ser debatida, uma emenda à Constituição precisa de pelo menos 171 assinaturas dos 513 deputados. Até esta segunda-feira, o deputado afirmou que a proposta ultrapassou 100 assinaturas. Caso seja protocolado, o texto deverá ser anexado à proposta do deputado mineiro, que voltou a tramitar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Apesar da mobilização para a criação oficial da PEC, poderá levar anos até que ela seja aprovada pelo Congresso Nacional. Com o protocolo, o texto será analisado pela CCJ e por uma comissão especial de mérito, que tem prazo de 40 sessões para votação. Depois, a PEC é analisada pelo Plenário, sendo necessário que 3/5 da Câmara (308) seja aprovada em dois turnos. O mesmo procedimento se repete no Senado e, caso não haja alterações, o texto é automaticamente promulgado.

Questionado sobre a dificuldade de aprovar uma PEC após reunir todas as assinaturas, Reginaldo Lopes lembrou que seu texto foi elaborado em um cenário adverso do governo Jair Bolsonaro (PL), e defendeu que a mobilização seja ampliada para incluir os sindicatos.

“Agora que estamos no governo Lula, falei aos sindicatos que essa deveria ser uma pauta para todas as negociações salariais, a lógica é traduzir essa mobilização em todos os acordos e reuniões. Estes são os trabalhadores com salários mais baixos que trabalham 44 horas por dia. Se você comparar empresas com 36 horas semanais com aquelas com 44 horas, algumas têm o mesmo nível de produtividade, ou até melhor”, disse o deputado ao EM.

Repercussão

O texto de Erika Hilton é formulado pelo movimento social Vida Além do Trabalho (VAT), liderado pelo vereador carioca Rick Azevedo (PSOL). A mobilização da esquerda ainda enfrenta resistências na Câmara dos Deputados, principalmente de partidos de direita que demonstram pouco apoio.

A União Brasil, por exemplo, havia fornecido apenas quatro assinaturas ao texto. O PSD teve dois. Republicanos, PSDB, Solidariedade, PP, PL e Avante com um cada. O PL (PL) do ex-presidente Jair Bolsonaro, maior partido da Câmara com 99 deputados, se posicionou em bloco contra o fim da escala 6×1.

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho (PT), disse que acompanha o debate de perto e afirmou que o debate é um tema que exige o envolvimento de todos os setores numa discussão aprofundada e detalhada, “considerando as necessidades específicas de cada área”. Ao contrário do que defende uma ala do PT, Marinho defendeu a redução para 40 horas semanais.

“O Ministério do Trabalho e Emprego entende que a questão do horário de trabalho 6×1 deve ser tratada nas convenções e acordos coletivos de trabalho. O departamento considera, no entanto, que a redução do horário de trabalho para 40 horas semanais é plenamente possível e saudável, quando resulta de uma decisão colectiva”, declarou o ministro.



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