A última semana em Brasília foi marcada por festas pomposas que reuniram as principais autoridades da República em eventos animados que incluíram shows de artistas como o sambista Dudu Nobre e o grupo Timbalada, além de comidas e bebidas gratuitas. Anfitriões de ambos os eventos, os deputados Antonio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União-BA) mostrou força em sua candidatura à presidência da Câmara ao sinalizar proximidade com políticos de diferentes matizes, reunindo aliados de primeira viagem no mesmo ambiente JairBolsonaro Isso é Lulae fizeram questão de mobilizar suas equipes para registrar momentos de descontração fora do horário de trabalho.
Além disso, num gesto de parceria, todos compareceram às festas uns dos outros – inclusive com a presença de outros candidatos, como deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP), também considerado um nome forte na disputa, e Isnaldo Bulhões (MDB-AL), Hugo Motta (Republicanos-PB) e Doutor Luizinho (PP-RJ), que correm lá fora.
No cenário ideal, a definição do próximo presidente da Câmara será a seguinte: o atual comandante, Artur Lira (PP-AL), apresentará ao presidente Lula no próximo mês um nome por ele indicado e previamente acertado com os principais líderes políticos. Se também não houver resistência palaciana, este deputado concorrerá para suceder Lira em uma eleição praticamente sem adversários e garantindo uma vitória pacífica.
Faltando pouco mais de seis meses para a eleição, marcada para fevereiro de 2025, o roteiro traçado pelo atual presidente da Câmara ainda não parece fácil de executar. Silenciosamente, alguns governistas e deputados veem com desconfiança os planos de Lira, traçam alternativas ao projeto, aumentam as cobranças por barganhas e planejam uma reação caso não se sintam incluídos na escolha do cacique.
Rede de intrigas
Os adversários de Elmar Nascimento, considerado o favorito à indicação de Lira para a sucessão, tentam minar sua campanha e espalhar a notícia de que existe um clima de insatisfação com o atual presidente que pode repercutir no deputado baiano. A resistência ocorreria principalmente entre os “antecedentes do plenário”como são conhecidos os parlamentares com menor influência política, mas que têm o mesmo peso na hora de votar, depois que Lira promoveu votações polêmicas na queda do chapéu, como propostas relacionadas ao aborto e à delação premiada.
Há também críticas à atuação de Lira com a “faca no pescoço” do governo – termo comumente repetido para se referir ao método de negociação do cacique, que nem conversa com o ministro Alexandre Padilha, responsável pela articulação política. Já o presidente da Câmara costuma dizer que representa todos os 513 deputados e que questões de interesse nacional, como a reforma tributária, ganharam avanços sem precedentes sob sua gestão.
Numa reação a Elmar, uma das hipóteses em cima da mesa seria reunir partidos centristas, como MDB, PSD e Republicanos, ellançar uma candidatura rival à de Lira. Pode parecer uma solução simples, mas dentro deste grupo a dificuldade é definir quem será o indicado e quem ficará no esquecimento.
Em meio às diversas articulações, os demais postulantes também são alvo de ataques e intrigas. Marcos Pereira, por exemplo, acumula versões de que estaria se distanciando de Lira, teria resistência do ex-presidente Jair Bolsonaro e de grandes emissoras de televisão e que seu sonho, na verdade, é ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, e não o comando da Câmara.
Já Antônio Brito, apesar de ser “amigo” de deputados dos mais diferentes espectros políticos, é tratado como alguém que não aguentaria a pressão do Palácio do Planalto diante de uma crise política, estaria sempre protegido pelo seu “chefe”, o líder Gilberto Kassab, e também não teria capacidade para comandar os deputados. Todos, claro, negam as críticas e acusações.
A reação de Lira
Ciente do movimento, Arthur Lira tenta superar divergências e forjar um acordo amplo para evitar surpresas mais adiante.
Esse acordo, claro, envolve cargos relevantes na diretoria e em comissões da Câmara, divisão de emendas parlamentares, entrega do comando do orçamento, promessa de apoiar agendas que atendem à esquerda e à direita e até um cargo de ministro da Corte Contas da União.
Tudo isto – além de um pequeno impulso de um clima festivo – deverá ajudar a conter a insatisfação.
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