11/07/2024 – 17:44
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Pedro Uczai é autor de proposta que cria o Programa de Renda Energética Básica
Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Pólis e apresentada nesta quinta-feira (11) em seminário da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados revela que 36% das famílias brasileiras gastam mais da metade do seu orçamento mensal com luz e gás de cozinha. Nas regiões Norte e Nordeste do país esses gastos superam até mesmo os gastos com alimentação, comprometendo a segurança alimentar das famílias.
Os dados da pesquisa Justiça Energética Eles foram produzidos pela Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria e apresentados durante debate promovido pela deputada Carla Ayres (PT-SC), deputada no mandato do deputado Pedro Uczai (SC), licenciada para tratamento de saúde.
Henrique Frota, um dos representantes do Instituto Pólis, informou que o objetivo da pesquisa é entender a opinião da população brasileira sobre o peso da energia elétrica e do gás de cozinha no orçamento familiar. “A energia eléctrica apareceu juntamente com a alimentação como o principal factor de despesa no rendimento familiar das diferentes classes sociais, evidentemente com maior peso nas famílias de baixos rendimentos”, apontou.
Também representando o Pólis, Maria Gabriela Feitosa destacou que a principal conclusão da pesquisa é que a energia elétrica empobreceu a população brasileira. “Pagar a conta de luz tem sido um desafio para os mais pobres. 60% das famílias das classes D e E, com renda familiar de até um salário mínimo, declararam atraso na conta de luz”, disse. “A solução adotada por 30% dos entrevistados foi reduzir ou deixar de comprar alimentos básicos e bens de consumo”, acrescentou Maria Gabriela.
O representante do Pólis relatou ainda que, quando questionados sobre o que fariam se conseguissem reduzir os gastos com a conta de luz, mais de 50% dos entrevistados revelaram que comprariam alimentos.
Isenção para radiodifusão e outros serviços
Maria Gabriela também sugeriu a aprovação do Projeto de Lei 1.804/24, do senador Weverton Rocha, que isenta os usuários de baixa renda do pagamento de tarifas de uso dos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica. A ideia é conseguir uma tarifa social justa, complementar à atual Tarifa Social de Energia Elétrica, que já oferece descontos para consumidores de baixa renda, isentos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e da contribuição ao Programa de Incentivo à Energia. Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).
“A proposta é que a população que já recebe esse benefício fique isenta da tarifa de uso do sistema de distribuição, que é o que faz a energia chegar até nossas casas. Como são essas pessoas que menos consomem e exigem do sistema, então não deveriam pagar essa tarifa”, argumentou.
Leonardo Araujo, da Frente Nacional de Consumidores de Energia, destacou que hoje os consumidores pagam duas vezes pela energia elétrica. “Ele paga a conta de luz que chega em sua casa, muitas vezes deixando de comprar alimentos, e paga novamente incluso no preço dos produtos e serviços”, destacou.
Segundo Araújo, estudo da Abrace, associação que representa grandes consumidores de energia, mostra que, por exemplo, na padaria pão e leite, 30% do custo, em média, é energia elétrica.
O deputado Pedro Uczai, que participou pessoalmente do seminário como cidadão, revelou dificuldades para avançar com sua proposta que cria o Programa de Renda Energética Básica. Já aprovado na Câmara, o texto aguarda análise do Senado e, segundo Uczai, ainda enfrenta resistências dentro do governo.
A ideia do Projeto de Lei 624/23 é substituir gradativamente o subsídio destinado à Tarifa Social para energia gerada em usinas de energia solar fotovoltaica, beneficiando consumidores de baixa renda com consumo de até 220 kWh/mês.
“Se formos capazes de fornecer 220 kWh/mês em créditos de energia para todas as famílias pobres deste país, alcançaremos uma justiça social que terá muito mais impacto do que muitas outras políticas sociais”, disse Uczai,
Representante da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que desenvolve estudos e pesquisas para apoiar o Ministério de Minas e Energia (MME) no planejamento do setor, Carla Achão disse que a EPE tem trabalhado com uma rede de indicadores para entender melhor o que é a pobreza como a energia no Brasil.
“Estamos desenvolvendo uma base de indicadores, considerando a multiplicidade e a complexidade que é o Brasil, o histórico das diferentes nuances regionais, enfim, as classes de renda, a questão de gênero, para que possamos entender as reais necessidades dos diferentes segmentos e pensar em soluções mais adequadas, inclusive do ponto de vista de melhoria das políticas existentes”, explicou.
Reportagem – Murilo Souza
Edição – Ana Chalub
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