17/12/2024 – 19h08
Fernando Frazão/Agência Brasil
Consultores analisam políticas brasileiras de distribuição de renda
Quais são as causas da persistente desigualdade econômica no Brasil? Por que a desigualdade permanece estável ao longo dos anos, apesar das políticas públicas que visam promover a redistribuição de renda, como o Bolsa Família?
As causas são complexas e variadas, segundo Thiago Caldeira, organizador da publicação Agenda Brasileira: Desigualdade Econômica, das Edições Câmara.
Nesta publicação, os autores analisam, em dez artigos, o papel das políticas públicas, previstas em leis, regulamentos e programas sociais, na distribuição de renda.
Segundo Thiago Caldeira, um fator persistente na manutenção das desigualdades sociais são os chamados estoques de capital social e humano das diferentes classes sociais. Isto significa que as crianças das classes mais ricas herdam não apenas bens materiais, mas também bens culturais e toda uma rede de contactos que as tornam mais propensas a ter sucesso do que as crianças da parte mais pobre da população.
Os consultores legislativos da Câmara dos Deputados que produziram o estudo sobre a desigualdade econômica analisam aspectos como reformas tributária e previdenciária, políticas habitacionais, subsídios no setor elétrico e desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres no mercado de trabalho.
Redistribuição de renda
Concluem que as regulamentações actuais produzem redistribuição de rendimentos, mas nem sempre no sentido de promover mais justiça social. Pelo contrário, na maioria dos casos analisados, a transferência de rendimentos ocorre dos mais pobres para os mais ricos.
“Existem algumas políticas que vêm com a intenção de promover o crescimento económico, mas, com vista a dar transparência e a sociedade fazendo uma análise detalhada disso, vão perceber que algumas dessas políticas geram maus resultados em termos de desigualdade económica” , diz Caldeira.
Segregação de classes
Um dos fatores que perpetuam as desigualdades no acesso aos bens culturais e humanos são as políticas urbanas que promovem a segregação entre as classes sociais.
Segundo os autores, a proximidade entre diferentes classes permitiria não apenas a absorção de referências e comportamentos que agregariam ao capital humano dos pobres, mas também a formação de redes de amizade que contribuiriam para sua trajetória no mercado de trabalho.
Contrariamente a isto, as políticas de zoneamento urbano dificultam a expansão das áreas mais valorizadas e deslocam os mais pobres para regiões cada vez mais distantes. Isto leva os autores a afirmar que o zoneamento é o “mecanismo de segregação de maior sucesso já inventado”.
Pensão
Outro exemplo de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos citado na obra são as regras previdenciárias. Um dos aspectos destacados pelo estudo é o caso dos microempreendedores individuais (MEI) no Regime Geral da Previdência Social.
Enquanto os demais trabalhadores contribuem com alíquotas que variam de 7,5% a 14% da renda, dependendo da sua remuneração, os microempreendedores pagam uma alíquota fixa de 5% sobre o valor de um salário mínimo.
O limite anual de receita bruta para ser considerado MEI é de R$ 81 mil, o que equivale a um faturamento mensal de R$ 6.750. Com isso, segundo os autores, em 2023, apenas 18,4% dos contribuintes cadastrados como MEI estavam entre os 50% mais pobres da população. Assim, os 81,6% restantes estavam entre os 50% mais ricos.
Essa situação faz com que trabalhadores com rendimentos mais baixos contribuam para o pagamento de benefícios previdenciários dos microempreendedores individuais, mesmo que tenham rendimentos muito mais elevados.
Reembolso
Na direção oposta, de transferência dos ricos para os pobres, os consultores citam a reforma tributária, principalmente com a adoção do chamado reembolsoe algumas políticas educacionais, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
O reembolso É um mecanismo de devolução de impostos pagos sobre produtos essenciais pela parcela mais pobre da população. Os autores afirmam que o mecanismo beneficiará 71 milhões de pessoas.
A publicação é disponível em versão digital gratuitamente na Biblioteca Digital da Câmara ou em plataformas de livros em celulares, tablets e outros dispositivos móveis.
Reportagem – Maria Neves
Edição – Natalia Doederlein
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