Especialistas defendem projetos que combatem importunação sexual e violação de privacidade – Notícias

Especialistas defendem projetos que combatem importunação sexual e violação de privacidade – Notícias


24/06/2024 – 19:02

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Reunião da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher

Participantes de audiência na Câmara dos Deputados defenderam, nesta segunda-feira (24), a aprovação de dois projetos de lei que buscam combater casos de assédio sexual e violação de privacidade.

Um dos projetos (PL 348/24) impede a assinatura de acordo de não persecução penal em casos de crimes contra a dignidade sexual cometidos contra mulheres e aumenta a pena mínima para assédio sexual, de um para dois anos de prisão.

O acordo de não persecução penal é um acordo jurídico pré-processual celebrado entre o Ministério Público e o investigado. Nele, as partes negociam cláusulas a serem cumpridas pelo acusado, que, ao final, é favorecido com a extinção da pena.

A outra proposta (PL 4924/23) altera o Código Penal criar o crime de invasão virtual de domicílio, punido com pena de prisão de dois a cinco anos, acrescida de multa. O texto define crime como o ato de entrar ou permanecer, contra a vontade expressa de quem tem direito, na casa ou nas dependências de outra pessoa por meio de dispositivo eletrônico conectado ou não à rede de computadores.

Histórias
Autora de ambos os projetos, a deputada Dayany Bittencourt (União-CE) defendeu que os assuntos entrem na pauta do Plenário o mais rápido possível. A parlamentar, que realizou audiência na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, relatou que sua privacidade foi invadida. Câmeras foram encontradas em sua casa, inclusive no quarto e no banheiro.

“Tive que ter apoio psicológico e psiquiátrico. Até hoje, os problemas me perseguem. Hoje, quando viajo para algum lugar, antes de dormir tapo todos os buracos do quarto com papel higiênico. Não consigo mais me sentir confortável em nenhum hotel por medo”, declarou o parlamentar. “Quando vejo alguém sorrindo para mim, não sei se é alguém que está me reconhecendo de uma forma que eu não gostaria.”

A nutricionista Larissa Duarte Aguiar prestou o outro depoimento na audiência. Ela disse que foi assediada sexualmente em um elevador por um homem quando saiu do trabalho às 11h.

“Este homem apalpou minhas partes íntimas. Fiquei incrédula, chateada, um misto de sentimentos. Angústia, tristeza, revolta, sentimento de impunidade. Eu estava no meu ambiente de trabalho. Esse homem invadiu meu espaço, minha privacidade”, disse Larissa.

Ela chegou a denunciar o caso em uma delegacia, mas reconhece a dificuldade que muitas vítimas femininas têm em contar o que passaram. Larissa acredita que todo caso de estupro ou feminicídio é precedido de assédio sexual, o que, sem ser punido, dá coragem ao agressor para cometer crimes mais graves.

Na opinião da nutricionista, além de punições mais severas para o assédio sexual, o projeto de Dayany Bittencourt também deveria prever medidas educativas para os agressores e atendimento em grupos de reabilitação, para que eles tomem consciência da violência de gênero.

Falta de clareza
Segundo a delegada titular da Delegacia Especial da Mulher I, de Brasília, Adriana Romana, muitas vezes a vítima nem percebe que é vítima, principalmente quando é “persuadida” em um ônibus lotado, por exemplo.

Sobre as PLs, Adriana Romana avaliou que elas podem inibir o assédio sexual ou a invasão virtual de privacidade.

“Quanto mais eliminamos a possibilidade de acordo [de não persecução penal], mas enfrentaremos isso com seriedade. Se a pessoa praticar, for ao Judiciário, pagar não sei quanto e isso estiver resolvido, ele fará de novo”, considerou. “Relativamente ao outro projeto, já temos violação de dispositivo informático, que tem sido utilizado para este tipo de conduta, com pena de seis meses a dois anos. No projeto, vai de dois a cinco anos. Teremos penalidades mais duras por trabalhar um tema que é muito atual”, afirmou o delegado.

O advogado David Alcâncatara Isidoro também considerou os projetos importantes. Sua sugestão é que o PL que trata de invasão de privacidade inclua também os drones e todos os locais onde a vítima está e tem sua privacidade invadida, seja em casa, no trabalho ou em um hotel.

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Reportagem – Noeli Nobre
Edição – Ana Chalub



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