O uso indiscriminado de medicamentos para diabetes e obesidade, como Ozempic e similares, para fins estéticos, pode trazer graves consequências para os pacientes que se automedicam. A pancreatite é um dos potenciais riscos à saúde dos usuários, conforme alertou o presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, Bruno Halpern.
“O tratamento da obesidade se confunde com o desejo social de perder peso. Então, muita gente, ao falar em remédios para emagrecer, pensa naquela pessoa magra que quer perder 4,5 quilos para ir à praia, quando, na verdade, esses são usados medicamentos para tratar uma doença crônica”, alerta.
A comercialização desses medicamentos e a necessidade de ampliação das restrições e classificação especial de medicamentos foi tema de debate na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (11).
Atualmente, os medicamentos são classificados com rótulo vermelho, que exigem prescrição médica, mas são vendidos sem receita em drogarias, farmácias de manipulação e até pela internet, segundo a pesquisadora da Universidade de São Paulo Tamires Capello, especialista em medicina, hospital e saúde.
“Houve um crescimento de 663% nas vendas em seis anos, o que significa que só em 2024 só o Ozempic, que é a semaglutida, vendeu mais de R$ 3 bilhões, mais de 3 milhões de unidades. É um número muito grande, um recorde de vendas”, afirma.
Ela entende que se trata de um medicamento revolucionário, muito bom e eficaz para doenças crônicas que matam muita gente. “Temos muito a agradecer por esse desenvolvimento. Mas esse crescimento tem que ser acompanhado com responsabilidade”, afirmou.
O presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos, Nelson Mussolini, defendeu maior controle nas vendas. “A indústria farmacêutica defende de forma muito clara, muito transparente, que todos os produtos que tenham rótulo vermelho devem ter receita médica”, explicou.
Medicação segura
O presidente executivo da Associação da Indústria de Pesquisa Farmacêutica (Interfarma), Renato Alencar Porto, explica que o medicamento é seguro. O problema seria o contrabando e a falsificação do medicamento, que inclusive é oferecido a granel.
“Este produto tem um grau de segurança muito elevado. Estamos falando de pesquisas clínicas com mais de 25 mil pacientes. Mais de 13 milhões de pessoas já utilizaram este produto e não há dados que mostrem riscos extraordinários do seu uso”, afirmou. “Mas os medicamentos precisam ser tomados de forma racional, adequada, pela pessoa certa, na dose certa e na hora certa”, acrescentou.
O representante do Conselho Federal de Medicina Raphael Parente apresentou relatório defendendo a retenção da receita na compra do medicamento. Ele destacou que os medicamentos são de uso contínuo.
“O uso desses medicamentos é para o resto da vida, é crônico. É como remédio para hipertensão ou diabetes. Muitas pessoas usam por um ano, dois anos e perdem uma quantidade razoável de peso. Mas estudos mostram que depois esse peso volta a ser o que era antes”, alerta.
O deputado Dr Francisco (PT-PI), que solicitou o debate, defendeu a aprovação de uma proposta (PL 2115/24, do deputado Fábio Teruel (MDB-SP)), da qual é relator, que exige prescrição médica e receita de retenção para venda de medicamentos para obesidade e diabetes.
“O objetivo é utilizar as informações do debate para ampliar o conhecimento no julgamento de valor do nosso relatório sobre o projeto e trazê-lo para discussão na Comissão de Saúde”, afirmou.
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