Empresários e trabalhadores apoiam programa Nova Indústria Brasil, mas sugerem ajustes – Notícias

Empresários e trabalhadores apoiam programa Nova Indústria Brasil, mas sugerem ajustes – Notícias


30/10/2024 – 21h06

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Daniel Almeida (C) defendeu a participação da Comissão de Desenvolvimento Económico

No mesmo dia em que o governo anunciou mais investimentos no programa Nova Indústria Brasil (NIB), empresários e trabalhadores sugeriram, na Câmara dos Deputados, ajustes na política industrial para aumentar o número de empregos e a participação do setor no PIB.

O debate aconteceu nesta quarta-feira (30) na Comissão de Desenvolvimento Econômico. O programa foi lançado no início do ano com objetivos de “neoindustrialização”, muito mais audaciosos que os projetos de reindustrialização, pois exploram novos segmentos de alta complexidade tecnológica.

As diversas entidades que participaram da audiência pública manifestaram apoio à nova política, mas com algumas ressalvas destacadas por Samantha Ferreira e Cunha, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Precisa ser uma política de Estado para que possamos reduzir as desigualdades e voltar a crescer em taxas mais elevadas”, destacou.

Outra sugestão do representante da indústria foi uma maior coordenação público-privada. “Precisamos de um órgão de coordenação eficaz: como podemos verificar se os resultados estão a ser alcançados? Então, temos medidas que empurram positivamente a indústria de um lado, mas temos problemas no ambiente de negócios que nos puxam para baixo, do outro lado .”

Desde 2012, a indústria transformadora encolheu 1,4%. No mesmo período, registou-se um crescimento médio anual de 2,7% na agricultura e de 0,8% no sector dos serviços.

O Brasil já esteve entre as dez maiores indústrias do mundo, mas caiu para a 16ª posição, superado por países como Rússia, Taiwan, Turquia e Indonésia. Apesar de representar atualmente 25,5% do PIB, o setor ainda responde por 66% das exportações brasileiras de bens e serviços e 34% da arrecadação de impostos federais, além de manter um salário médio (R$ 3 mil) superior à média nacional. (R$ 2.700), segundo a CNI.

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Ubiraci Dantas defendeu redução dos juros e aumento do investimento público no setor

Os empresários e os trabalhadores concordaram que a “neo-industrialização” envolve a superação das elevadas taxas de juro, da burocracia, da tecnologia ultrapassada, das infra-estruturas deficientes e da concorrência com os produtos manufacturados asiáticos.

Vice-presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Ubiraci Dantas leu um documento com sugestões para, segundo ele, “libertar o país da estagnação econômica e dos altos juros liderados pelo Banco Central”.

“O principal é reduzir as taxas de juro, aumentar o investimento público, estimular o investimento privado a um novo patamar, disponibilizar crédito abundante e barato para o desenvolvimento tecnológico e concentrar as compras governamentais em empresas de conteúdo nacional.”

Ubiraci chamou o programa da Nova Indústria Brasil de “fenomenal”, mas criticou as limitações impostas pelo arcabouço fiscal e pela Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Outras entidades sindicais – como a Federação dos Metalúrgicos (FITMETAL) e as confederações dos trabalhadores industriais (CNTI, CNTA e CONTTMAF) – exigiram maior participação na implementação do programa.

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

James Gorgen: investimentos podem chegar a quase R$ 2 trilhões

Organizador do debate, o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) concordou: “As coisas estão avançando e achamos que a Comissão de Desenvolvimento Econômico não pode ficar de fora, orientando e construindo coletivamente a participação dos trabalhadores, para a qual deveria ser destinada a maior parte dessas ações .”

O coordenador da Secretaria de Desenvolvimento Industrial do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, James Gorgen, informou que, nos próximos meses, serão criados grupos de trabalho para coordenar as 22 cadeias prioritárias da Nova Indústria Brasil. Gorgen também fez previsões de investimentos. “São mais de R$ 400 bilhões em crédito só dos bancos públicos (BNDES, BNB, Basa e Finep). E entendemos que há muito mais recursos: isso pode chegar perto de R$ 2 trilhões.”

Somente para os setores de infraestrutura, saneamento básico, habitação e mobilidade, o governo anunciou anteriormente no Palácio do Planalto investimentos de R$ 1,6 trilhão até 2033, envolvendo recursos públicos e privados. O programa Nova Indústria Brasil também conta com ações em cadeias agroindustriais sustentáveis; complexo industrial da saúde; transformação digital; bioeconomia, transição energética e descarbonização; e tecnologias de soberania e defesa nacional.

Para o diretor da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), André Godoy, os efeitos práticos já aparecem em medições recentes do PIB industrial. “Já está funcionando. Já estamos falando de um aumento em relação ao ano passado de 4,3% no último trimestre. Existem outros fatores, como a balança comercial, mas também é o investimento que já está gerando resultados.”

Face às alterações climáticas e às elevadas emissões de gases com efeito de estufa, os países ricos (EUA, Japão, países da União Europeia, China e outros) lançaram políticas industriais recentes que prevêem cerca de 12 biliões de dólares em investimentos, com direito a subsídios, barreiras às importações e compras públicas, segundo projeções da CNI.

Reportagem – José Carlos Oliveira
Edição – Georgia Moraes



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