FOLHAPRESS – As seis construtoras que tentam rever os pagamentos de multas bilionárias acordadas na Operação Lava Jato apresentaram documentação com seus pedidos. O governo Lula (PT) analisa agora as considerações feitas pelas empresas nas negociações.
O prazo para responder formalmente à CGU (Controladoria-Geral da União) era às 23h59 desta segunda-feira (24).
O governo estuda o alcance das solicitações feitas quanto ao formato de cálculo dos novos prazos e pagamentos. Há também construtoras que fizeram considerações e não condições: entendem que, se aceitas, as condições de pagamento melhorarão, mas, se recusadas, a aceitação será mantida.
Após a finalização desse saldo, os contratantes que continuarem negociando deverão ter mais 30 dias para discutir formas de pagamento, prazos e detalhes dos novos termos.
Após quase 120 dias de negociações definidas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) André Mendonça, o feedback positivo foi dado às vésperas do prazo do tribunal. Nesta quarta-feira (26), termina o prazo estabelecido para consenso.
Os acordos de leniência foram assinados no auge das investigações da Lava Jato. A leniência é uma espécie de delação premiada para empresas, em que há pagamento em troca da possibilidade de continuar a obter contratos públicos.
As empresas em negociação são Metha (ex-OAS), Novonor (ex-Odebrecht), UTC, Engevix, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Também nas negociações com o governo, a Braskem não participou da discussão desta terça-feira (25) porque, diferentemente das demais, não teria prejuízo fiscal para usar no pagamento de multas de leniência. Juntos, eles devem aos cofres públicos R$ 11,8 bilhões em valores corrigidos.
Um dos principais pontos de divergência até então era a chamada utilização de prejuízos fiscais para pagamento de multas apuradas. As construtoras recusaram a proposta anterior do governo e, após a recusa, a CGU convocou nova reunião.
Os prejuízos fiscais são definidos na contabilidade quando a empresa antecipa o pagamento de impostos sobre um lucro que não é realizado posteriormente. Quando isso ocorre, o governo permite compensar o valor em pagamentos futuros de impostos.
No início da negociação, os empreiteiros argumentaram que a legislação e a jurisprudência autorizam a utilização de créditos tributários de até 70% para quitação de dívidas com a União.
Na mesa de negociações da última terça-feira (18), o governo cedeu e propôs o uso de até 50%, um meio-termo.
O ponto permanece, no entanto, uma questão de discussão. Algumas empresas entendem que esse teto de 50% deve ser calculado com base no valor total da dívida e não no saldo devedor remanescente de cada contratante. Dessa forma, cresceria o valor que cada um poderia utilizar do prejuízo fiscal e dessa forma eles poderiam pagar uma proporção maior do que devem.
A utilização de prejuízos fiscais para pagamento de multas provenientes de acordos de leniência é permitida por lei aprovada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Outra divergência apresentada é quanto à aplicação no cálculo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). O governo propôs a isenção de juros de mora – apenas com atualização pelo IPCA – até o momento, isenção de multas moratórias e indenização por improbidade administrativa e leis anticorrupção.
Algumas empresas querem revisitar este tópico. Um dos benefícios oferecidos foi o desconto para correção de dívidas. Da data dos contratos até 31 de maio de 2024, a correção vinha sendo feita com juros compostos, utilizando a taxa Selic do Banco Central. Pela proposta, essa correção passou a ser feita pelo IPCA, mas com a previsão de utilização da Selic da Receita Federal, o que é simples, a partir do fim do ciclo de renegociação.
Algumas construtoras disseram ao governo que o ideal é continuar aplicando o IPCA. Isso tornaria a dívida menos onerosa e capaz de ser paga em menos tempo.
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