Eleições: O candidato que não pedia voto nem fazia comício, e só falava de economia

Eleições: O candidato que não pedia voto nem fazia comício, e só falava de economia



Alguém estava falando, mas apenas as paredes ouviam. O resto estava conversando ou conspirando. Na segunda fila de cadeiras, isolada no canto direito, o tempo e a história pareciam congelados para o civil mais poderoso da ditadura, o ex-ministro, signatário do Ato Institucional nº 5, e o ex-militante comunista, preso e torturado no luta armada, hoje líder do Partido dos Trabalhadores. Delfim Netto e José Genoino riram dos outros ou talvez de si mesmos numa cena banal de plenário, sob a luz invisível da democracia.

Delfim governava a economia como ninguém, antes ou depois, não governava nada desde o fim da ditadura, em 1985, e na democracia dependia de centenas de milhares de pessoas que não conhecia para renovar seu mandato a cada quatro anos. Foi deputado federal por duas décadas, o dobro do tempo que esteve no governo. Vivenciou a intimidade do poder como poucos e foi uma das figuras mais influentes na redemocratização dentro do Congresso, onde valia apenas um voto entre 584 parlamentares.

Venceu cinco eleições consecutivas, mas foi um candidato atípico. Ele não pediu voto, porque achou constrangedor: “As pessoas sabem que sou candidato, pedir seria ofender a inteligência deles”. Não fazia comícios, apenas palestras —em média três por dia, às vezes percorrendo mil quilômetros no interior do Estado de São Paulo.

E só falava de temas áridos como inflação, câmbio e base monetária para plateias reunidas em salas de Rotary Clubs ou associações comerciais, onde as pessoas o tratavam como “professor” – raramente como “deputado” ou “ministro”, nunca como um “candidato”.

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Ele estava sempre vestindo terno escuro, gravata preta sobre camisa branca. Ela falou, respondeu perguntas, deu autógrafos e cumprimentou cada eleitor da fila da mesma forma, sem abraços, despedindo-se com a mesma frase: “Foi uma alegria”.

Era uma espécie de bordão que usava desde os tempos do “regime autoritário”, como se referia à ditadura. Regime era uma palavra com significado peculiar para Delfim, que oscilava entre 90 e 130 quilos cultivados com pão e mortadela defumada em épocas eleitorais.

O Estado brasileiro deveria fazer alguma coisa, acreditava ele, porque ganhava peso a cada decisão perdulária tomada pelo governo ou pelo Congresso. Ele continuou tentando, explicando ao público: “Comprei uma esteira mecânica nos Estados Unidos. Eu nunca usei isso. Quando eu era ministro, eu tinha essa coisa de remar sem sair do lugar. Sim, aos 14 anos ele remou no Rio Tietê. Então, comecei a usar no ministério…” O público riu, imaginando a cena. “Aí percebi que estava remando e pensando no Balanço de Pagamentos [sempre sob ameaça de déficit]. Eu desisti!

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Ele era da oposição, liberal, de direita, elegante e cruel. “Deve-se acreditar no Ministro das Finanças?” – era uma pergunta recorrente. Ele rebateu, com o exemplo do início do Plano Real com câmbio fixo, implementado há 30 anos por seu principal adversário na política e na academia, Fernando Henrique Cardoso: “Vejam a ‘humilhação’ a ​​que submetemos o Japão. Um japonês precisa de 100 ienes para comprar um dólar e 110 ienes para comprar um real… As pessoas acreditam. É uma ilusão de ótica. Mas somos uma sociedade simples, de crentes, e queremos acreditar…Não esperem nada mais do Plano Real, a não ser estabilidade. Não esperem mais empregos, mais desenvolvimento, o plano não pode proporcionar isso.”

Num dia de campanha, no Rotary em Votuporanga (SP), um jovem funcionário do Banco do Brasil, sindicalista e militante do PT, expressou sua preocupação com a batalha salarial dos bancários. Delfim respondeu com um sorriso: “O problema do Partido dos Trabalhadores é que ele só conhece o proletariado como Marx conheceu – através da literatura. O PT é contra o lucro e diz que vai criar mais empregos; Bem, isso não tem chance de acontecer. O que vai acontecer no setor financeiro é o que eu gostaria que acontecesse comigo: perder peso. Acredito que o desemprego reduzirá a pressão salarial, mas desejo-lhe boa sorte.”

Às vésperas de cada eleição, ouvia a mesma pergunta: “Você acha que foi eleito?” E ele respondia sempre da mesma forma: “Nada. O diabo é que, depois de tudo, você ainda não tem ideia, nem tem certeza de que aquelas pessoas que você conhece vão te dar um único voto. Você sofre até o fim…”

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Teve sucesso nas urnas e conquistou cinco mandatos como deputado, entre 1987 e 2007. Derrotado, aposentou-se, sem deixar de ser referência para políticos, empresários e novos aliados, como Lula, cuja carreira política no ABC paulista começou quando se descobriu que a inflação de 1973 havia sido manipulada no Ministério da Fazenda de Delfim (o truque: a oferta de certos produtos foi aumentada em sites de pesquisa de preços). Tudo sob a luz invisível da democracia. Ele morreu na segunda-feira (8/12), aos 96 anos.



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