Com o dia da ida às urnas batendo à porta, as denúncias sobre irregularidades nas campanhas somam dezenas de milhares nos sistemas da Justiça Eleitoral. Os canais abertos para receber informações dos eleitores respondem pela maior parcela dos cadastros, e algumas das denúncias já obrigam os candidatos a mudarem de rota em busca de votos. Com mais de 11 mil ativações, o eleitorado mineiro é o segundo que mais alerta as autoridades sobre possíveis infrações em publicidades e representa mais de 15% de todas as denúncias feitas no país.
Em agosto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disponibilizou a versão atualizada do Pardal, aplicativo para smartphones no qual o eleitor pode denunciar possíveis infrações às regras de publicidade eleitoral. Em funcionamento há mais de dois meses, o sistema já registrou 73.134 reclamações em todo o país, segundo consulta feita pela reportagem nesta quarta-feira (2/10).
Com 13.976 reclamações, São Paulo lidera o ranking nacional e é seguido de perto por Minas Gerais, que tem 11.354 reclamações. A maioria das reclamações está relacionada aos materiais de campanha dos vereadores, totalizando 5.139 reclamações, ou 45,26% do total.
As campanhas para prefeitos de Minas Gerais somam 4.249 reclamações, 37,42% do total. Menores são as campanhas para vice-prefeito, que foram alvo de apenas 72 denúncias; e ações dirigidas a partidos, coligações ou federações totalizam 1.894 ocorrências.
Tipo de irregularidade
O levantamento feito pelo TSE com dados do Pardal também lista os tipos de irregularidades mais citadas nas denúncias. Em Minas Gerais, as maiores causas de ativações no aplicativo foram relacionadas a banners, cartazes e banners, que totalizam 32% de todas as ativações. A segunda causa mais comum foi a utilização de bens públicos em eventos eleitorais, com 14% das ocorrências.
Em seguida, vem o uso indevido de propriedade privada e a publicidade na internet, que foram a causa, cada uma, de 12% das reclamações feitas no aplicativo. As outras fontes de reclamações são irregularidades em adesivos, com 8%; infrações em outdoors, com 6%; alto-falantes ou amplificadores de som, com 5%; e omissão de informações obrigatórias, com 3%. Em percentagens mais pequenas há problemas destacados nos comícios; publicidade em jornais e revistas; confecção e distribuição de presentes; conduta proibida em emissoras de rádio e televisão; e urna eleitoral.
Relatório de candidatos
Se os eleitores estão cientes de possíveis infrações cometidas nas campanhas, os que estão na disputa ficam com olhos e ouvidos atentos o tempo todo para perceber eventuais irregularidades no trabalho de seus adversários e ataques aos seus materiais. Em Belo Horizonte, a disputa para prefeito e vereador já foi marcada por episódios em que os próprios candidatos iniciaram ações judiciais.
Na briga pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) já determinou medidas como a suspensão de peças de campanha do deputado federal Bruno Engler (PL) e do deputado federal Rogério Correia (PT) após ação movida pelo presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB). O emedebista candidato ao Executivo entrou com ação judicial após constatar que os candidatos usaram mais de 25% do tempo em suas propagandas mostrando seus padrinhos políticos, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e violaram a lei eleitoral.
O próprio Gabriel já teve sua campanha alterada depois que o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), obteve direito de resposta na Justiça após ter processado o TRE-MG alegando que o vereador publicou conteúdo em que era abordado com expressões depreciativas. O candidato à reeleição encontrou espaço nas redes do rival para transmitir sua defesa.
Essa disputa paralela às urnas não vive apenas de ações entre si. Esta semana, dois candidatos anunciaram na capital que acionaram a Polícia Federal (PF) para investigar atos de vandalismo em seus materiais de campanha. Na eleição para prefeitura, o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) acionou a corporação para investigar vídeos e fotos que mostram a destruição de velas com imagens do candidato e de sua deputada, Luísa Barreto (Novo).
O mesmo aconteceu com a vereadora e candidata à reeleição Iza Lourença (PSOL), que teve uma bandeira derrubada e outra queimada. O parlamentar acionou a PF para investigar os casos. Em uma das ocorrências, câmeras de segurança flagraram um homem atravessando a rua e atacando agressivamente o material com um objeto pontiagudo.
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A reportagem teve acesso ao vídeo que registra o momento em que o homem atravessa a Rua da Bahia, esquina com a Avenida Augusto de Lima, no centro da capital, e arranca a bandeira do candidato, instalada a poucos metros do comitê de campanha de Iza . “Quando rasgam o rosto de uma mulher, na verdade mandam uma mensagem para toda a sociedade. É como se dissessem que nós, jovens negras, LGBTQIAPN+, não deveríamos ocupar política e espaços de poder. Mas não nos vão calar e muito menos interromper as nossas lutas contra a extrema direita e por uma cidade onde a periferia esteja no centro do orçamento”, afirmou Iza Lourença.
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