BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A resultados das eleições municipais reavivaram projeções e lançaram holofotes sobre candidatos à terceira via em 2026, mas dirigentes partidários levantam dúvidas sobre as possíveis consequências da eleição daqui a dois anos, além de afirmarem que, por enquanto, Lula (PT) e JairBolsonaro (PL) mantenham o protagonismo eleitoral.
Apesar das incertezas inerentes ao ambiente político, alguns cenários foram destacados por estes políticos, que regressaram ao Congresso na semana passada.
Na esquerda, Lula assistiu a um desempenho muito fraco do seu partido e das siglas que sempre orbitaram em torno do PT, o que reforçou a necessidade de apoio dos cinco partidos de centro-direita e direita que hoje o apoiam de forma oscilante – não apenas pelos dois anos restantes de seu mandato, mas para uma possível tentativa de reeleição.
Neste grupo, o PSD de Gilberto Kassab e o MDB de Baleia Rossi, hoje com três ministérios cada, estão inclinados a uma relação mais alinhada com o governo e trazem consigo um bom desempenho nas eleições municipais. Foram, respectivamente, campeões e vice-campeões nas eleições de prefeitos de todo o país.
Para 2026, permanecer no barco de Lula passaria necessariamente por disputar o cargo de vice-presidente, hoje ocupado por Geraldo Alckmin (PSB).
Nada disso é certo, considerando que a fragilidade da esquerda é tamanha que os dois presidentes desses partidos estão hoje formalmente ligados ao governador e ao prefeito de São Paulo. Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ricardo Nunes (MDB), aliados de Bolsonaro, descartam a adesão ao PT.
União Brasil (três ministérios), PP (um) e Republicanos (um) têm maior potencial para serem aliados problemáticos.
A primeira é a nova cara do PFL/DEM, rival histórico do PT. A segunda é presidida pelo senador Ciro Nogueira (PI), ex-organizador político de Bolsonaro e hoje um membro anti-PT. A terceira está ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, também com histórico de antagonismo a Lula e ao PT.
Apesar de tudo isso, esses partidos, além de ocuparem ministérios do governo, possuem outros vínculos significativos com o Planalto.
O provável próximo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), é um desses elos. O favorito para presidir a Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já conta com o apoio formal do PT, numa coordenação liderada pelo atual comandante da Câmara e do centrão, Arthur Lira (PP-AL).
Em qual barco eles estarão em 2026? É uma incógnita.
Já na oposição, Bolsonaro teve um desempenho muito melhor nas eleições municipais do que Lula, mas sofreu derrotas importantes no segundo turno.
Ele lidera a tentativa de anular sua inelegibilidade e repetir o duelo com o petista em 2026. Mesmo que não consiga recuperar seus direitos políticos, provavelmente será um importante eleitor de direita na disputa.
Tanto sua inelegibilidade quanto suas derrotas, aliadas à fragilidade da esquerda, trazem de volta a discussão sobre nomes que podem ter alguma chance eleitoral mesmo que não tenham ligação direta com Lula ou Bolsonaro.
O discurso, que pode ser interpretado como uma avaliação, mas também como um desejo não necessariamente condizente com a realidade, é exemplificado pela palavras do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
“Ninguém aguenta mais, é uma conversa chata, cansativa, doentia, as pessoas acham que de repente são professores de Deus. ‘Tem que ser assim, falar assim, se não for assim, você é comunista’, essas coisas envelheceram”, disse o governador, após seu candidato derrotar o nome de Bolsonaro em Goiânia.
Caiado diz que se candidatará à Presidência em 2026 com ou sem o apoio do ex-presidente e que lutará para ir à segunda volta e, aí, unificar a direita.
Além dele, Tarcísio e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), que também lutou e venceu uma disputa com o chamado bolsonarismo de raiz em Curitiba. Há, claro, o nome de Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro lugar após um primeiro turno acirrado em São Paulo.
“O PSD é protagonista nacional e tem a obrigação de apresentar opções para o país. Não pode ser sublenda de ninguém”, afirmou Ratinho, que, tal como Caiado, está no segundo mandato.
Até Romeu Zema, governador de Minas Gerais, que não se deu bem com os nomes que apoiou em outubro, fez um roadshow privado para apoiar Candidatos do Novo e do Bolsonarismo em todo o país e tentar permanecer no centro das atenções.
O discurso desses governadores é que a eleição municipal provou que o eleitorado está preocupado com o seu cotidiano e não com questões ideológicas de esquerda e direita, afirmação que, se for verdade na disputa nacional de 2026, nem mesmo alguns dos eles dizem que sabem responder.
Outro grupo ecoa a avaliação de que uma eleição municipal não está relacionada com a disputa nacional.
A história mostra exemplos tanto para validar esta afirmação como para negá-la.
Em 2000, o PT conseguiu ter Marta Suplicy no comando da maior cidade do país, São Paulo, e de outras cinco capitais, sendo a principal vencedora dessa disputa, em contraste com o esvaziamento de aliados do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Dois anos depois, Lula conquistou pela primeira vez nas urnas o direito de chegar ao Palácio do Planalto.
Em 2004, porém, o PT perdeu espaço nas grandes cidades – Marta não conseguiu se reeleger – e o PSDB assumiu o controle da capital paulista. Isso não impediu que Lula conseguisse um segundo mandato, derrotando novamente os tucanos dois anos depois.
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Mais recentemente, nas eleições de 2016, o PT acompanhou o impeachment de Dilma Rousseff e foi o maior perdedor.
O prefeito Fernando Haddad foi derrotado por João Doria (PSDB) no primeiro turno, única vez que a eleição na capital paulista foi decidida no primeiro estágio desde o advento dos dois turnos.
Fiador da campanha tucana, o então governador Geraldo Alckmin, à época no PSDB, viu fortalecida sua candidatura à Presidência.
A onda que varreu as eleições de 2018, porém, deu o cargo a Jair Bolsonaro, então no PSL, e deixou Alckmin num humilhante quarto lugar, até então o pior resultado da história do partido.
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