29/10/2024 – 18h25
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
O ex-embaixador Celso Amorim, hoje assessor especial da Presidência da República, afirmou nesta terça-feira (29) que o processo eleitoral da Venezuela é um assunto interno daquele país. “Estamos acompanhando de perto esse processo político, mas a solução precisa ser construída pelos próprios venezuelanos, por meio do diálogo, e não imposta de fora”, afirmou, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Deputados.
“Esse difícil entendimento é necessário, porque temos uma fronteira de 2 mil km com a Venezuela, temos que cooperar contra o crime internacional, proteger os povos indígenas e preservar a Floresta Amazônica”, acrescentou.
Disse ainda que o presidente Luiz Inácio da Silva não fala com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, desde as eleições: “O presidente Lula não conversou com o presidente Maduro porque não recebeu sinais de abertura para um diálogo franco”, afirmou .
Amorim também reforçou a posição do Itamaraty em relação às sanções impostas pela comunidade internacional à Venezuela: “As sanções e o isolamento internacional já se mostraram ineficazes e penalizam injustamente a população”.
Mal-estar
O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), um dos autores do pedido de audiência, quis saber se a diplomacia classifica o governo venezuelano como uma ditadura.
O parlamentar mostrou-se preocupado com o aumento dos “alinhamentos ideológicos” na diplomacia brasileira, o que, segundo ele, poderia levar o Brasil à posição de “anão político”.
“O que estamos vendo é um alinhamento do Estado brasileiro não com um governo de esquerda ou de direita, mas com alinhamento ideológico e partidário com grupos terroristas e organizações criminosas”, criticou o parlamentar.
Amorim, por sua vez, disse ser contra a “classificação dos países” em governos ditatoriais ou democráticos. No entanto, afirmou que o fato de o Brasil não ter apoiado oficialmente a vitória autodeclarada de Maduro nas eleições sinaliza “mal-estar nas relações bilaterais”.
“Há hoje um mal-estar, espero que isso desapareça, mas vai depender de ações”, respondeu o ex-chanceler.
O assessor reforçou que a ideia é manter o diálogo com o governo de Maduro. No entanto, observou que algumas das posições diplomáticas do país, como o veto informal à entrada da Venezuela nos BRICS (grupo que originalmente reunia Brasil, Rússia, Índia e China), “reduziram claramente” o nível de diálogo com os vizinhos país.
Dívida
O deputado Lucas Redecker (PSDB-RS), um dos que solicitaram a sabatina, questionou sobre os esforços da diplomacia brasileira para receber US$ 5 bilhões devidos pelo governo venezuelano.
Amorim discordou do valor da dívida, que, segundo ele, foi cotada pelo Ministério das Finanças em 1,28 mil milhões de dólares em prestações atrasadas e 400 milhões de dólares em juros. Salientou que esta é uma das razões para manter o diálogo com o vizinho latino-americano.
“Um dos objetivos de se reconectar rapidamente com a Venezuela era poder obter esse pagamento e continuar a fazer negócios”, disse. Acrescentou que em 2012 a Venezuela foi o terceiro país com superávit comercial com o Brasil, superado pela China e pelo Holanda .
O ex-chanceler aproveitou para informar aos deputados que uma mesa de negociação bilateral foi montada em julho deste ano para discutir o tema.
Reportagem – Emanuelle Brasil
Edição – Ana Chalub
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