É preciso adequar a reforma do ensino médio e evitar outros retrocessos

É preciso adequar a reforma do ensino médio e evitar outros retrocessos



Devido a um esforço brutal de políticas públicas nas últimas duas décadas, conseguimos, mesmo que não completamente, garantir que milhares de crianças e adolescentes concluíssem o ensino fundamental. Digo brutal, porque desde a década de 1990 até hoje, mesmo com tentativas de retrocessos – felizmente sem sucesso – avançamos na implementação de políticas que permitem a conclusão desta etapa do ensino.

Há, no entanto, um lugar onde é pouco provável que seja ultrapassado um abismo: o ensino secundário, especialmente a colocação dos jovens no mercado de trabalho. Na última semana avançamos um pouco e recuamos muito nas discussões. Se, por um lado, há uma tentativa de esclarecer as coisas sobre a reforma do ensino secundário; por outro, o projeto que busca inserir jovens de 14 anos no mercado formal de trabalho vai contra a ideia de soluções de médio e longo prazo.

A nova reforma do ensino secundário propôs-se resolver algumas distorções na relação entre estudo e formação profissional. O tema é importante e necessário porque, de fato, existe uma lacuna entre o que é ensinado e a realidade que os jovens vivenciarão no dia a dia. A equação é complexa. Por um lado, os defensores de uma educação mais intelectualizada e integral acreditam que tal ensino tende a ser mais libertador e a permitir perspectivas, pelo menos no campo ideal. Quem defende algo mais realista, baseado na educação profissional, o faz porque entende que a realidade se impõe. Ambos, é claro, estão certos.

A própria reforma propôs esse meio-termo, mas com pouco debate e em meio a toda a crise de 2016 e 2017, aprovou algo que fracassou parcialmente. Tentámos balançar demasiado o pêndulo no sentido da flexibilidade e esquecemos que algumas das disciplinas do currículo tradicional são importantes e necessárias, especialmente em tempos de rápidas mudanças tecnológicas.

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Estudioso e profissional experiente na área de educação, o ex-secretário de educação da cidade do Rio e professor da FGV, Claudia Costin vem chamando a atenção para o tema há anos. Não é porque temos falado de inteligência artificial e de tecnologias de todo o tipo que questões como a Filosofia, a Sociologia, as competências emocionais, artísticas e culturais têm de ficar fora de discussão. Pelo contrário. É neste contexto que as soft skills são mais necessárias. Engana-se quem acredita – falámos deste tema há algumas semanas nesta coluna – que militarizar as escolas e criar ordem aqui e ali resolverá o problema. Se quisermos competir, ou melhor, se quisermos conviver com a inteligência artificial e muitas outras tecnologias disponíveis, que seja o que fazemos de melhor, que é refletir, criar e inovar. Ir além da máquina é essencial e primordial neste caso.

A discussão é longa e, como dito, complexa de resolver. Ó Senado abordou o tema e procurou equilibrar a carga horária das disciplinas obrigatórias, bem como as do chamado itinerário formativo. A Câmara, por meio do relator, o deputado e ex-ministro da Educação Mendonça Filho, responsável pela implementação da reforma em 2017, disse que não aceitará as mudanças. Para o deputado, o texto do Senado não permite uma formação profissional adequada, como previa a proposta original de reforma.

A discussão é saudável e necessária. É preciso, porém, não acertar o relógio do ensino médio e cometer um grande erro ao aprovar o que passou esta semana na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados – claramente inconstitucional – que permite que adolescentes entre 14 e 16 anos possam trabalhar com contrato formal assinado.

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O tema está inteiramente ligado à reforma do Ensino médio, uma vez que estamos a pensar no futuro dos jovens que necessitam de uma formação razoavelmente qualificada para serem minimamente competitivos no mercado de trabalho. Ao permitir livremente o ingresso no emprego formal aos 14 anos com carteira assinada, sinalizamos que lutar por uma educação de qualidade não é necessário e fundamental.

Além disso, não esqueçamos, a própria legislação já permite a condição de jovem aprendiz desde que os horários sejam respeitados e a escolaridade seja obrigatória. A lei é clara ao dizer que os jovens não podem ser empregados em funções como serviços domésticos, agricultura e pecuária e indústrias transformadoras, por exemplo. O que parece ser o mínimo se, de facto, quisermos pensar no futuro deste jovem e nas suas qualificações.

Em vez de ir na contramão das discussões, o deputado Gilson Marques (Novo-SC) – relator da proposta na CCJ – Poderia ser juntar-se ao coro daqueles que pensam no longo prazo e entender que o ensino médio e a entrada de qualidade no mercado de trabalho são condições essenciais para pensar o futuro do trabalho para milhares de jovens e adolescentes brasileiros. A menos que queiramos jogar a toalha e colocar meninas e meninos à mercê de trabalhos árduos na agricultura e pecuária ou transformá-los em empregados domésticos em lares de classe média, cuidando de crianças que terão a oportunidade de estudar e *entrar quando eles estão devidamente preparados. Ó O que temos nas mãos é uma decisão do país.

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Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutor em Ciência Política (UFPR-PR). Estudou História (PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribua semanalmente para a coluna



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