11/08/2024 – 12h41
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Presidentes dos parlamentos do G20, reunidos em Brasília
A declaração final da 10ª Cúpula de Presidentes dos Parlamentos do G20 (P20), divulgada nesta sexta-feira (8), reforça o compromisso dos parlamentares em combater a fome e a pobreza, defender o desenvolvimento sustentável e reformar a governança global.
“Se um parlamento é o fórum por excelência das discussões da sociedade, a união dos parlamentos não poderia ser outra coisa senão um palco de grandes debates sobre problemas e desafios globais”, afirmou o presidente da Câmara, Arthur Lira, ao final da cúpula , que aconteceu de quinta (7) a sexta (8).
O documento será entregue durante a cúpula do G20 no Rio de Janeiro, que acontece nos dias 18 e 19 deste mês. O lema do P20 deste ano, sob a presidência do Brasil, é “Parlamentos por um mundo justo e um planeta sustentável”. A delegação argentina não quis assinar a declaração final. A próxima edição do evento acontecerá na África do Sul, em 2025.
Leia o documento final completo.
A declaração final está estruturada em torno de três eixos temáticos:
. a luta contra a fome, a pobreza e a desigualdade;
. as três dimensões do desenvolvimento sustentável (económica, social e ambiental); e
. reforma da governação global.
A presidente da União Interparlamentar, Tulia Ackson, defendeu maior responsabilização dos parlamentos pelos compromissos constantes do documento. “Agora é o momento de levar esta declaração conjunta para as nossas casas e garantir que as nossas palavras sejam apoiadas por ações concretas”, disse ele.
O documento reforça a necessidade de esforços conjuntos para oferecer uma contribuição parlamentar eficaz e relevante ao processo do G20, incluindo o trabalho em conjunto com os respetivos governos para cumprir os compromissos assumidos na cimeira deste ano.
“Agradeço o espírito construtivo que todos os envolvidos manifestaram ao longo do processo de consulta, mesmo em relação aos temas mais complexos”, disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em comunicado lido por Lira. Pacheco não compareceu ao encerramento por motivos familiares.
Marina Ramos/Câmara dos Deputados
Representantes dos países na Cimeira dos Parlamentos do G20
Desigualdade
A declaração propõe o desenvolvimento de instrumentos para garantir a segurança alimentar e nutricional, o estabelecimento de condições de trabalho adequadas e o acesso equitativo a oportunidades e recursos, incluindo água, educação, saúde e saneamento básico, para enfrentar a desigualdade socioeconómica.
O texto define que isto deve incluir esforços para aumentar a ajuda humanitária aos países afetados por crises alimentares. “A erradicação da pobreza é um desafio global fundamental e uma condição condição sine qua non para o desenvolvimento sustentável”, afirmam os signatários do documento.
A eliminação de todas as formas de discriminação, assédio e violência, on-line e off-linecom especial atenção às mulheres e meninas em todas as áreas das suas vidas, foram destacadas no texto. A declaração reconhece a importância de reforçar e expandir a cobertura dos programas de protecção social e de promover políticas públicas de inclusão, especialmente no que diz respeito aos direitos das pessoas com deficiência.
Clima
O documento reforça a urgência do combate às alterações climáticas e a necessidade de intensificar esforços para manter o aumento da temperatura média global nos níveis definidos no Acordo de Paris de 2015, ou seja, limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima de níveis pré-industriais.
O financiamento climático pelas nações desenvolvidas para apoiar os países em desenvolvimento, incluindo o financiamento de perdas e danos, foi enfatizado para garantir medidas de adaptação, resposta e recuperação ambiental. “Pedimos aos governos e parlamentos do G20 que identifiquem e implementem formas apropriadas e equitativas de financiar transições energéticas justas”, afirmaram os parlamentares no comunicado.
A transição energética justa, a promoção das energias renováveis e a protecção da biodiversidade devem ser apoiadas por acções parlamentares, além da procura de garantir a integração entre o crescimento económico, a inclusão social e a protecção ambiental.
Governança global
A reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), uma reivindicação de longa data do Brasil, foi incluída na versão final do documento. Bem como mudanças em outros órgãos da ONU e uma mudança no sistema financeiro internacional para garantir mais transparência das instituições financeiras em todos os níveis e atenção aos países em desenvolvimento, com práticas como alívio, reestruturação ou cancelamento de dívidas.
O documento também pede a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), com regras previsíveis, sem discriminação, equitativas e capazes de promover o desenvolvimento sustentável, com restauração do seu sistema de solução de controvérsias.
O texto destaca a preocupação com o défice democrático nas relações internacionais e apela a um maior envolvimento parlamentar nos compromissos internacionais por ser o poder que está mais próximo das exigências da sociedade civil. “Os desafios urgentes que temos de enfrentar exigem que os nossos parlamentos não só permaneçam focados nas questões actuais, mas incluam a ‘dimensão futura’ na agenda parlamentar”, afirmaram os congressistas no comunicado conjunto.
IA e novas tecnologias
A declaração destaca a utilização de tecnologias digitais, incluindo a inteligência artificial (IA), para enfrentar os desafios globais e a necessidade de abordar a desigualdade digital entre países. O uso dessas tecnologias, segundo o texto, deve ter uma abordagem ética, transparente e centrada no ser humano. O tema foi tema da última reunião do P20 na Índia em 2023.
Os países signatários incentivam o desenvolvimento de normas internacionais para a utilização de novas tecnologias que respeitem os direitos humanos e reforcem a confiança na economia digital. Reconhece o potencial da IA para ampliar ou reduzir a disparidade de produtividade entre os países e promover o desenvolvimento sustentável. O texto também menciona a necessidade de todos os governos e parlamentos promoverem o direito humanitário internacional, com especial atenção aos desafios decorrentes da utilização de novas tecnologias em conflitos armados.
Participação feminina
A Carta de Alagoas, documento final da reunião de mulheres parlamentares de julho, foi incorporada como anexo ao texto final, que recomenda a manutenção deste fórum de discussão nas futuras reuniões do P20. A Declaração Final da Carta de Alagoas reúne oito recomendações em três áreas prioritárias:
. justiça climática e desenvolvimento sustentável para mulheres e raparigas;
. ampliação da representatividade feminina nos espaços de decisão; e
. combater as desigualdades de género e promover a autonomia económica das mulheres.
Reportagem – Tiago Miranda
Montagem – Roberto Seabra
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