Só em 2023, as tribunas da Câmara e do Senado foram três vezes mais ocupadas por parlamentares com discursos a favor da ampliação do acesso às armas para a população civil do que por declarações de quem defende o controle das armas. O levantamento é do Instituto Fogo Cruzado, organização que coleta dados sobre violência armada em quatro capitais do país. O estudo mostra o crescimento da bancada da bala ao longo dos anos no Parlamento.
A pesquisa O que diz o Congresso Nacional sobre armas civis?divulgado nesta segunda-feira, identificou os discursos desde 1951, quando foi encontrada a primeira defesa do controle civil de armas, até 2023. Por outro lado, um dos primeiros discursos a favor das armas ocorreu apenas em 1963, no mesmo ano em que o Pai do ex-presidente Fernando Collor de Mello, o senador alagoano Arnon de Melo mataria por engano, no Senado, seu colega José Kairala, do Acre.
A coordenadora da pesquisa, Terine Coelho, disse ao Correspondência que, apesar da derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022, o movimento pró-armamento no Congresso, além de dobrar a bancada, tem pautado o debate sobre o tema.
“Até 2015, o grupo que defendia o controlo de armas dominava o debate no Parlamento sobre armas. Mas, depois da aprovação do estatuto (do desarmamento) e do referendo, este grupo começou a desmantelar-se, ao mesmo tempo que o grupo a favor da guerra civil as armas começaram a se organizar”, explicou. “Quando Bolsonaro toma posse, ele não tem maioria no Congresso para ampliar o acesso a armas para a população civil, então opta por implementar suas políticas por meio de decretos, mas o Parlamento não reage. grupo de armamento e um grupo contra ele que não se mobiliza.”
Na 55ª legislatura, entre 2015 e 2019, os parlamentares favoráveis às armas fizeram 198 discursos defendendo a entrega de armas à população civil, enquanto a posição contrária foi destacada apenas 65 vezes neste período.
Para o policial federal e pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Roberto Uchôa, o estudo mostra a mudança de discurso ao mesmo tempo em que o país vivia um enorme confronto entre as principais organizações criminosas do país, registrando um aumento nos homicídios em 2017. Segundo para ele, este foi o pano de fundo para justificar a política a favor do armamento da população.
“Em vez de se preocuparem em melhorar o sistema de justiça criminal e como combater o aumento da violência, muitos parlamentares preferiram argumentar que a solução era armar a população para que ela pudesse se defender”, analisou.
Na avaliação dele, o estudo contribui para a compreensão de como o tema tem sido tratado na política e aponta que somente por meio do Congresso o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguirá manter um controle mais rígido sobre as armas de fogo.
“Se o governo Lula quiser realmente manter uma política mais rígida de controle da circulação de armas de fogo, não bastará editar decretos, será necessária muita negociação no Parlamento e que os parlamentares pró-controle tenham uma postura mais firme em defesa das armas. essa agenda”, enfatizou.
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