28/08/2024 – 19:23
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Comissão de Educação reuniu-se esta quarta-feira
O diretor de Regulação e Supervisão do Ensino Superior do Ministério da Educação (MEC), Daniel Ximenes, disse nesta quarta-feira (28) que autorizar a abertura de novos cursos de graduação a distância (EaD) neste momento seria irresponsável, dada a discussão atual de novas referências para o setor. Os critérios atuais são de 2016.
Ximenes compareceu à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para esclarecer a portaria do MEC (528/24) que estabelece prazo até o final do ano para a criação de novos referenciais de qualidade e marco regulatório para a oferta de cursos de graduação a distância, por o ministério.
“Se neste momento permitimos a abertura de cursos a distância – e estamos respeitando ao máximo aqueles que já estão em processo de avaliação avançado -, quando estamos discutindo os rumos do ensino a distância com novas referências até o final do ano ano, seria uma irresponsabilidade do MEC”, declarou Ximenes.
Suspensão
A deputada Adriana Ventura (Novo-SP), que solicitou o debate, havia questionado a suspensão, prevista na portaria do MEC, da criação de novos cursos de graduação na modalidade a distância, o aumento de vagas nesses cursos e a criação de centros de ensino a distância, exceto aqueles oferecidos por instituições públicas do sistema federal de ensino vinculadas a políticas e programas governamentais.
“A medida foi aplicada de forma linear, irrestrita a todas as instituições privadas, independentemente da atuação das instituições”, criticou Adriana. “Alguns são bem avaliados, outros nem tanto. Há casos de instituições públicas que não foram afetadas, apesar de terem uma classificação baixa. A prioridade deve ser a qualidade do ensino”, argumentou.
A preocupação de Adriana Ventura é a mesma dos demais participantes da plateia. O presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), João Mattar, por exemplo, pediu flexibilização nas suspensões.
“Os credenciamentos e novos cursos EAD foram suspensos. Também foram suspensas a criação de novos polos e o aumento de vagas para cursos já autorizados e já avaliados. Entendemos isso como negativo”, disse Mattar.
Na opinião do presidente da Abed, o Brasil precisa sim discutir novas referências para o ensino a distância para acompanhar a evolução da educação em um mundo que já discute o ensino híbrido, principalmente após a pandemia e num contexto de avanço da inteligência artificial . Mas sem contratempos, enfatizou.
Crescimento
Na audiência, representantes do MEC abordaram o enorme crescimento da modalidade EAD no Brasil nos últimos anos. Dados citados por Daniel Ximenes indicam que, em censo a ser divulgado em breve pelo ministério, as matrículas na educação a distância vão superar as presenciais.
Hoje, segundo ele, 66% das matrículas na iniciativa privada já fazem parte de cursos de graduação a distância, ante 34% presenciais. São 20 milhões de vagas autorizadas, das quais 4 milhões são preenchidas no setor privado. “Considerando esse crescimento, devemos observar como podemos orientar a expansão com qualidade. Precisamos de ensino a distância no ensino superior”, afirmou Ximenes.
Os alunos do ensino a distância têm um perfil definido, segundo o diretor de Avaliação da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Ulysses Tavares Teixeira. Entre os estudantes, 80% não têm pai nem mãe diplomados; 75,9% têm renda familiar mensal de até 4,5 salários mínimos; 33% têm entre 31 e 40 anos; e 70% trabalham 40 horas ou mais por semana.
Nesse contexto, o presidente da Comissão de Educação do Instituto Brasileiro de Direito Regulatório (IBDRE), Vitor Beux Martins, acredita que o ensino a distância é um fator de acesso de uma população que depende do ensino superior para mudar sua renda e escapar da pobreza. “É o setor privado que muitas vezes chega trazendo oportunidades para os cantos do país.”
Princípios
Os novos norteadores da educação que chega a essas pessoas abordarão, entre outros pontos, ferramentas de interatividade, acervos bibliográficos virtuais e inteligência artificial.
A avaliação é muito bem-vinda, na opinião da presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas (Anup), Beth Guedes. O ambiente atual, disse ela, é “desregulamentado e desorganizado”. “Hoje, criar hubs significa escrever um endereço. Não preciso nem provar que tem alguém lá dentro”, ressalta.
Ainda segundo Beth Guedes, a portaria do MEC caminha no sentido de entender o que está acontecendo no Brasil. Ela disse entender a importância do ensino a distância, mas avaliou que a modalidade não cabe em alguns cursos, como os da saúde.
Reportagem – Noeli Nobre
Edição – Ana Chalub
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