Direita faz ofensiva na Câmara por aumento de pena para estuprador após desgaste

Direita faz ofensiva na Câmara por aumento de pena para estuprador após desgaste



FOLHAPRESS – Deputados da direita estão trabalhando juntos para aprovar matérias que endurecem penas contra estupradores depois que o Projeto de Lei Antiaborto por Estupro gerou desgastes e críticas na sociedade.

Além de o autor do projeto, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ter sugerido o aumento da pena para estupradores, os deputados também deverão votar na CCJ (Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça) outra proposta sobre o tema.

Em outra frente, deputados do PL, partido de Jair Bolsonaro, coletam assinaturas para votar com urgência outro texto nos mesmos moldes. As propostas também retornam a uma antiga bandeira do bolsonarismo: a castração química de criminosos.

Como Folha de S.Paulo mostrou, representantes dos setores de centro e conservadores no Congresso avaliaram que a direita perdeu para a esquerda no debate sobre essa proposta – uma ala desses parlamentares diz que o projeto foi um “tiro no pé”.

Com as críticas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou em junho que uma comissão especial analisará o projeto no segundo semestre.

A presidente da CCJ da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC), incluiu na pauta de votação do colegiado desta terça-feira (2) um projeto que aumenta a pena para estupradores – segundo ela, a pedido de parlamentares do PL. “Espero que o governo apoie. Depois de tantas críticas ao PL 1.904, isso é o mínimo que se pode esperar”, afirma.

Apresentado originalmente em 2010, o PL foi adicionado a outros 56 artigos de conteúdo semelhante. Relator do assunto na CCJ, o deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) afirma ao relator que é preciso aproveitar as oportunidades da política para avançar em agendas que interessam aos parlamentares de direita. Ainda é possível solicitar visualizações (mais tempo de análise).

“Como a esquerda trouxe essa narrativa, é uma boa oportunidade para levar o assunto adiante e fazer com que seja aprovado com votos tanto da direita quanto da esquerda”, afirma.

“Se forem coerentes com o discurso sobre a protecção da mulher e as críticas ao projecto anti-aborto, há tudo para que possamos aprovar facilmente este projecto”, afirma.

O relatório do deputado altera o Código Penal e aumenta a pena máxima de 10 para 20 anos para quem cometer estupro. Se a vítima tiver menos de 18 anos e mais de 14 anos, a pena máxima será aumentada de 12 para 22 anos.

O parecer prevê ainda que o crime de violação de menores de 14 anos terá pena máxima aumentada de 15 para 20 anos, e se resultar em lesões corporais graves, de 20 para 24 anos.

O relator também incluiu um dispositivo que trata da castração química, tema que foi discutido e aprovado recentemente em comissão do Senado.

O texto condiciona a progressão do regime e a concessão de liberdade condicional caso a pessoa condenada por estupro “concorde em submeter-se voluntariamente a tratamento químico-hormonal para reduzir o desejo sexual e a libido”.

Um parlamentar da oposição diz que esse projeto, avançando ou não, trará bônus à direita: se for referendado pelo governo e for aprovado, será uma vitória, pois é um tema defendido pelos deputados; Se for contra, a direita poderá usar isso para prejudicar a imagem do Executivo.

O governo tem evitado se posicionar sobre questões criminais que se enquadram na chamada agenda aduaneira, para não ficar vinculado a possíveis derrotas e para reforçar que a prioridade do Executivo é a agenda econômica.

Uma pessoa que acompanha as discussões diz, com ressalvas, que o governo poderia apoiar o projeto se tratasse apenas de penas mais duras para estupradores. Mas como o relator incluiu a castração química, a tendência é que o Executivo não oriente ou se posicione contrário ao texto na comissão.

Os parlamentares de centro, por sua vez, devem endossar a questão.

Apesar dessa ofensiva, dois parlamentares de direita avaliam que o tema poderia até ser votado na CCJ, mas que só deveria ir ao plenário da Câmara após as eleições municipais de outubro.

Isso porque o recesso parlamentar começa no dia 18 de julho e a Câmara fica historicamente vazia durante o processo eleitoral.

Uma das propostas que acompanha o projeto que será discutido na CCJ é de autoria dos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Filipe Barros (PL-PR), líder da oposição na Câmara. Nas últimas semanas, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) começou a coletar assinaturas para um pedido urgente dessa proposta.

Na prática, se aprovado e aprovado, esse requerimento agiliza a tramitação do Projeto de Lei na Câmara, pois não precisa ser analisado pelas comissões temáticas e segue direto para o plenário.

Barros diz ao repórter que endurecer penas para estupradores é uma “agenda histórica da direita”. “Cada vez a esquerda bloqueou qualquer tipo de avanço nesse sentido. Queremos retomar essa agenda para deixar claro que nós, da direita, defendemos o aumento da pena para estupradores”, afirma.

Para Nikolas, parte da esquerda deveria apoiar a proposta, por medo de desgaste no período eleitoral.

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Nikolas também reclamou do debate em torno do Projeto de Lei Antiaborto por Estupro, que, segundo ele, foi pautado por “mentiras” e “desinformação”. “Claro que sim, [o novo PL vai] mostrar quem é realmente a favor do aumento da pena do estuprador e quem não é. E expor aqueles que estão realmente dizendo que somos o banco dos estupros.”

Além dessas propostas, Sóstenes disse à coluna Mônica Bergamo que defende que uma mulher estuprada que opte por interromper a gravidez nesta fase da gravidez não seja mais acusada de cometer crime.

Ele disse que essa mudança ocorreu depois que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro divulgou um vídeo dizendo que o aborto deveria ser punido sem que a mulher fosse criminalizada.

Michelle demorou para se posicionar nas redes. Na última terça-feira (25), ela postou um vídeo em que fazia sugestões, como aumentar a punição para estupradores, sem progressão de regime. A exceção seria para aqueles que concordassem em se submeter à castração química.



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