31/10/2024 – 07:41
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Flávia Morais (C) exigiu do governo um plano de ação de curto prazo para combater o câncer
Em debate na Comissão de Saúde da Câmara sobre a regulamentação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, os participantes destacaram a importância de aumentar o financiamento do sistema público para o tratamento da doença. Os especialistas entrevistados também destacaram a necessidade de fortalecer a atenção básica à saúde, responsável pelo diagnóstico inicial e pelas ações de prevenção.
Segundo Hérika Rodrigues, representante do Instituto Lado a Lado, pesquisas realizadas pela instituição mostraram que a oncologia recebe apenas 1,17% do orçamento federal destinado à saúde. Os dados são de 2023, quando o governo investiu R$ 4,75 bilhões no tratamento do câncer, segundo o pesquisador. O orçamento da União para o Sistema Único de Saúde (SUS) foi de R$ 194,2 bilhões.
Segundo Hérika Rodrigues, o remanejamento de recursos permitiria aumentar o financiamento da área de oncologia para R$ 13 bilhões anuais, um aumento de 197%.
O assessor técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) Rodrigo Lacerda também sustentou que “o cobertor está curto” e o SUS precisa de muito mais dinheiro. Segundo ele, os municípios estão investindo 24% dos recursos próprios na saúde, quando a lei determina que devam destinar 15%.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Mulheres relembram campanha Outubro Rosa para conscientizar sobre o câncer de mama
Diante dessa cobrança por mais verbas para a oncologia, o deputado Weliton Prado (Solidariedade-MG) cobrou que o governo se comprometa a aprovar projetos em análise na Câmara que destinem recursos ao setor. O parlamentar é autor do Projeto de Lei Complementar 95/24, que obriga a União, estados e municípios com população superior a 200 mil habitantes a aplicar percentuais mínimos do orçamento à oncologia.
“Temos projetos tramitando na Câmara e são muito simples, podemos ter recursos a partir do ano que vem. Mas até hoje não vi nenhum posicionamento. Temos dinheiro proveniente de moedas virtuais, recursos apreendidos do crime, por que não usar no combate ao câncer? A manta é curta, vamos aprovar os projetos. É um projeto simples, ninguém tem oposição. Até hoje ainda não entendo por que não aprovamos.”
Diagnóstico
O representante do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde Rodrigo Lacerda disse que as normas que regulamentam a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer estão praticamente prontas. Segundo ele, são quatro textos que tratam de prevenção e controle; organizar o acesso do paciente ao diagnóstico; o programa de navegação do paciente no sistema; e assistência farmacêutica.
Porém, para o especialista, o mais importante é investir na atenção básica, nas unidades básicas de saúde. No SUS, a assistência começa pela atenção básica, que é responsável pelo diagnóstico inicial. Havendo suspeita, o paciente é encaminhado para unidades de média complexidade para exames complementares. O tratamento, no caso do câncer e de outras doenças complexas, fica a cargo da atenção especializada.
E, como destacaram Rodrigo Lacerda e os demais participantes do debate, o maior problema do Brasil é a demora nos diagnósticos.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Luciana Holtz: mais da metade dos casos de câncer são diagnosticados em estágio avançado
Segundo a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, mais da metade dos casos de câncer são diagnosticados em estágios avançados. No caso dos tumores de pulmão, entre 80 e 90% dos casos são detectados nos estágios 3 e 4, quando quase não há chance de cura.
O coordenador geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, José Barreto Campello Carvalheira, garantiu que as medidas adotadas na implementação da política nacional reduzirão o tempo de diagnóstico dos pacientes para 30 dias. Entre as medidas previstas pelo governo, conforme dito, está a criação de 50 policlínicas equipadas para realizar praticamente todos os exames de detecção de câncer.
Para a deputada Flávia Morais (PDT-GO), essa solução pode demorar e é preciso prever ações de curto prazo. O deputado, que pediu a realização da audiência pública, sugeriu que o governo apresente um plano para que, a partir de então, os parlamentares possam pensar em formas de financiamento.
“Assim que tiver esse plano de ação, vamos buscar recursos. O orçamento está aqui. O que oferecemos aqui é o apoio do parlamento, que hoje tem grande poder sobre o orçamento. O que falta é saber quanto e para onde vamos.”
Os cuidados básicos de saúde também são importantes, segundo os debatedores, nas ações de prevenção. Segundo a coordenadora adjunta de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Maria Beatriz Kneipp Dias, 30% dos casos de câncer podem ser prevenidos. Além da adoção de hábitos saudáveis, a pesquisadora destacou a importância das vacinas contra o HPV e a hepatite tipo B no combate à doença.
Reportagem -Maria Neves
Edição – Georgia Moraes
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