12/12/2024 – 17h37
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Seminário debateu soluções para pacote de gastos e política de juros
Economistas e deputados criticaram nesta quinta-feira (12), em evento na Câmara dos Deputados, as novas regras do pacote fiscal enviado ao Congresso com o objetivo de reduzir gastos. Segundo eles, a atual regra do teto de gastos é incompatível com os direitos sociais e com a política de aumento do salário mínimo.
Participaram do seminário “O Novo Marco Fiscal e o Pacote de Corte de Gastos: impactos na saúde, na educação, na seguridade social e nos direitos trabalhistas”, organizado pela Comissão de Legislação Participativa.
Atualmente, existe uma política em vigor que permite reajustes reais do salário mínimo e aumento dos gastos com saúde e educação à medida que aumentam as receitas. Para o representante do Instituto de Finanças Funcionais para o Desenvolvimento, David Deccache, aplicar um teto ao salário mínimo e aos investimentos na saúde e na educação, um dos pontos de resistência do pacote fiscal, não representaria poupança de custos no curto prazo.
“A única alternativa para manutenção desses direitos sociais, com pisos constitucionais para saúde e educação e manutenção do salário mínimo, é a revogação do teto de gastos, ainda que se volte para a política de metas primárias”, disse.
Nesse sentido, defendeu a aprovação do Projeto de Lei Complementar 211/24, que revoga o teto de gastos e restabelece a política de meta de resultado primário, anterior ao governo Michel Temer, proposta pelas deputadas Sâmia Bomfim (Psol-SP), Fernanda Melchionna (Psol-SP). RS) e Glauber Braga (Psol-RJ), entre outros.
A deputada Sâmia Bomfim, que solicitou o debate, reforçou que é preciso discutir alternativas ao pacote proposto pelo governo, especialmente no que diz respeito à revisão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), concedido a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência, e o mínimo constitucional para saúde e educação.
“É preciso dar o pontapé inicial nesse debate para que a população saiba o que significa cortar o BPC e mudar a política de aumento do salário mínimo e o impacto que isso tem na população mais pobre do país que depende desses benefícios para sobreviver” , reforçado.
Aumento de juros
O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samuel Pessoa, também está preocupado com o atual cenário de conflito distributivo que, na sua opinião, é agravado pelo aumento das taxas de juros, as mais altas do mundo.
Explicou que a desvalorização do real, a manutenção de uma taxa de juros acima de 14%, aumentará a dívida pública e exigirá novos cortes de gastos, colocando em risco os direitos sociais, o financiamento público e os pisos constitucionais para a saúde e a educação. .
“É responsabilidade do Congresso Nacional e da Presidência da República criar soluções para conter o conflito distributivo, pode ser através do aumento de impostos, pode ser através do corte de gastos e pode ser através da soma das duas coisas. a inflação como mecanismo de resolução do conflito distributivo, só a guerra civil”, alertou.
Segundo ele, a dívida bruta, que era de 71% do PIB em 2022, subiu para 74% em 2023, e deverá chegar a 102% do PIB em 2030, se mantidas as atuais condições de financiamento do governo.
O presidente do Conselho Econômico Regional do Distrito Federal, José Luiz Pagnussat, também se posicionou contra o aumento dos juros. Para ele, a recente decisão do Banco Central de aumentar a taxa de juros em um ponto percentual implicará uma pressão de gastos da ordem de R$ 90 bilhões.
“Se o pacote (pacote fiscal do governo) para 2 anos está prevendo uma redução de R$ 70 bilhões, só no golpe de ontem você está pressionando R$ 90 bilhões, e nossa dívida bruta está em R$ 9 trilhões”, disse. . “Estamos gastando R$ 876 bilhões em juros de política monetária, em rolagens de dívidas”, acrescentou.
Reportagem – Emanuelle Brasil
Montagem – Roberto Seabra
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