12/12/2024 – 15h30
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Deputado Coronel Fernanda (C) convocou debate sobre mulheres trans nas prisões
Numa audiência pública na Câmara dos Deputados sobre mulheres trans nas prisões, os participantes defenderam que elas deveriam ser mantidas em alas separadas das mulheres que nasceram mulheres. Para o autor do pedido de realização do debate, deputado Coronel Fernanda (PL-MT), essa situação pode representar riscos físicos e psicológicos para as mulheres biológicas. Segundo as alegações, isso ocorre porque as mulheres trans têm a mesma força física que os homens.
“O convívio com homens em ambientes destinados às mulheres pode aumentar o sentimento de punição e insegurança, configurando, em alguns casos, uma forma de tortura psicológica para mulheres que já estão privadas de liberdade. As diferenças biológicas devem ser respeitadas. Os homens, via de regra, apresentam maior força física que as mulheres, o que pode criar desequilíbrio de poder e aumentar vulnerabilidades em espaços compartilhados”, disse o deputado.
Na audiência pública, que aconteceu nesta quinta-feira (12) na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, os participantes debateram uma resolução aprovada pelo Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIAPN+ em conjunto com o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Conforme explicou o deputado Coronel Fernanda, a norma permite que presidiários e presidiárias utilizem nomes sociais e escolham o tipo de prisão em que desejam cumprir a pena, masculino ou feminino.
A promotora federal Tatiana Almeida de Andrade Dornelles, autora do livro “PrisioneirXs – Transmulheres nos presídios femininos e o X do problema”, afirmou que as mulheres trans seguem o mesmo padrão de violência dos homens. Ela afirma que o grupo comete mais crimes violentos, com armas de fogo e até crimes sexuais, do que mulheres que nasceram mulheres.
Segundo a policial criminal Rayana de Brito Machado Tomaz, representante do Sindicato dos Policiais Criminais do Distrito Federal na audiência, o comportamento das presidiárias transexuais no presídio feminino da capital federal varia. Segundo ele, alguns seguem as regras sem problemas, enquanto outros têm dificuldade em seguir ordens. O policial explicou ainda que no DF as mulheres trans já são mantidas em uma ala separada das demais presidiárias.
Autonomia do Estado
A vice-coordenadora de Assistência Religiosa, Jurídica e Social do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Alessandra de Souza Ramos Gomes, esclareceu que o ministério não pode ditar regras de funcionamento dos presídios aos estados. Essas entidades têm autonomia para tratar da segurança pública. Como resultado, a agência não consegue determinar que os presos transexuais ocupem apenas as suas próprias alas. No entanto, ele sustentou que essa já é a recomendação.
Alessandra Gomes informou ainda que o Ministério da Justiça está implementando o comitê de classificação técnica. O grupo, disse, será formado por uma equipe multidisciplinar, com psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e psiquiatras. O trabalho desses profissionais será individualizar a pena de cada preso e recomendar as condições em que cada um deverá cumprir sua pena.
“Essa comissão de classificação técnica vai criar um plano de sentença individualizado. Assim, cada indivíduo dentro do sistema será conhecido. A partir desses profissionais você fará um levantamento de sua vida pregressa, vida interna e atitudes dentro da unidade. Então a pessoa vai se autodeclarar, mas terá todo o suporte profissional para que se saiba se a pessoa está apenas usando isso para escolher em qual estabelecimento quer se hospedar”, disse.
A coronel Fernanda e outros participantes do debate afirmam que atualmente alguns criminosos se declaram trans apenas para cumprir pena em presídio feminino. O deputado critica ainda a determinação de que a decisão sobre o local de execução da pena seja escolhida apenas com base em autodeclaração.
A representante do Ministério da Justiça Alessandra Gomes destacou que o direito à autodeclaração está previsto em lei.
Reportagem – Maria Neves
Montagem – Roberto Seabra
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