A três dias das eleições municipais que definirão quem vai ao segundo turno em Belo Horizonte, o voto útil passou a ocupar um espaço central entre os eleitores dos chamados candidatos progressistas. A estratégia tem sido abraçada por quem vê a disputa entre Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL), ambos de direita, como inevitável. Nos últimos dias, políticos, ativistas e influenciadores mobilizaram-se em torno de Fuad Noman (PSD), candidato centrista, mas com afinidade pela esquerda.
O voto útil é a escolha estratégica de um candidato que não é necessariamente a primeira opção do eleitor, com o objetivo de derrotar outro. As pesquisas de intenção de voto são um fator determinante nesta estratégia, pois os resultados orientam os eleitores a direcionar o seu voto de acordo com o cenário apresentado, ignorando as preferências individuais em favor de evitar o “mal maior” e eleger os “menos piores”. Em alguns casos, a decisão visa antecipar, no primeiro turno, uma escolha que só seria feita no segundo.
Em Belo Horizonte, a deputada estadual Lohanna França (PV), um dos principais nomes do campo progressista, participou na semana passada de um evento que reforçou a estratégia e formalizou o apoio de algumas lideranças de esquerda a Noman. Ao Estado de Minas, o parlamentar classificou o voto útil como um “voto responsável contra a extrema direita”.
“A candidatura de Fuad está consolidada. Estamos a três dias das eleições municipais e o campo progressista precisa perceber o real risco de haver um segundo turno entre direita e extrema direita, que trará consequências cruéis para nossa população, principalmente para pessoas negras, LGBTQIA+, mães solteiras …É cada vez mais claro que votar em Fuad é votar no diálogo. Ele não é de esquerda, mas está aberto a conversar conosco.”
Nas redes sociais, os influenciadores também aumentaram o apoio a votos úteis. Um exemplo é Zotha, fundadora da Teia dos Criadores, que tem 30 mil seguidores nas redes sociais. Depois de conversar com candidatos e políticos, decidiu, pela primeira vez, assumir uma postura política, manifestando apoio à reeleição de Fuad. Sua campanha foi compartilhada por vários usuários. “Sempre estive alinhado com Duda (do PDT) e Rogério (do PT), mas Rogério e Bella (do PSOL) se uniram, enquanto Duda permaneceu isolado. A expectativa era ver quem se destacaria nas pesquisas e se tornaria protagonista do campo progressista. Porém, ao ver que tanto Duda quanto Rogério perderam relevância e tiveram as maiores rejeições entre os eleitores, resolvi me posicionar de forma inédita.”
O influenciador também citou a movimentação de partidos de esquerda, que assinaram documento de apoio ao Fuad – mesmo evento do qual Lohanna participou – como motivo de sua decisão. “Fiquei sabendo que houve uma articulação esta semana, um movimento real, inclusive com assinaturas em apoio ao prefeito. Resolvi me filiar para formalizar minha posição neste primeiro turno, para deixar claro de uma vez por todas e também mostrar aos meus seguidores que é preciso assumir uma posição responsável.”
Rejeição do vício
O vice-presidente de Fuad Noman, Álvaro Damião (União Brasil), indicado pela direita, tem sido alvo de críticas de setores progressistas, que questionam sua atuação na Câmara Municipal e o acusam de ser de direita. Em entrevista ao EM, Damião negou as acusações e minimizou as críticas, afirmando que o foco deveria ser chegar ao segundo turno. “Recebemos o apoio muito bem-vindo. Somos o único partido que representa o diálogo. Embora não sejamos um candidato totalmente de esquerda, temos agendas progressistas. Os eleitores de BH já entenderam que é melhor optar por quem dialoga do que pela extrema direita. Fuad tem um ótimo relacionamento com a Câmara, inclusive com a esquerda. E aqui não estou me referindo apenas a nomes progressistas no Legislativo ou na Prefeitura, temos um diálogo aberto com os ativistas.”
críticas à estratégia
Sem ampla frente de esquerda na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, figuras políticas como Jô Moraes (PCdoB), Richard Romano (presidente do PCdoB-BH) e Bella Gonçalves (PSOL), deputada de Correia, se posicionaram contra o voto útil . Em nota ao EM, Jô e Richard criticaram a estratégia, afirmando: “A extrema direita promove uma verdadeira guerra cultural para vender a ilusão de sucesso individual. Em BH, o cenário eleitoral reflete a fragmentação política causada pelo avanço da extrema direita nas últimas eleições. É hora de continuar a luta por ideias progressistas.”
Bella Gonçalves, por sua vez, disse ontem ao Estado de Minas que acolhe quem opta pelo voto útil, entendendo o temor de uma disputa entre Tramonte e Engler. “Falei sobre votos úteis nas minhas redes. Acredito que, com tantos eleitores indecisos, essa discussão só faria sentido no segundo turno. Mas agora aceito os medos das pessoas”, disse ele. “Tramonte, não. Engler, nunca. Um segundo turno entre os dois não é o melhor caminho para BH. Ao mesmo tempo, já se passaram muitos anos desde que a capital elegeu um candidato progressista. Rogério e eu continuamos com coragem e esperança.”
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