Contaminação por agrotóxicos tem afetado comunidades indígenas, apontam debatedores – Notícias

Contaminação por agrotóxicos tem afetado comunidades indígenas, apontam debatedores – Notícias


26/08/2024 – 14h32

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

A Comissão da Amazônia debateu o tema nesta segunda-feira

Lideranças e pesquisadores indígenas afirmaram nesta segunda-feira (26), em audiência pública na Câmara dos Deputados, que a contaminação por agrotóxicos tem afetado comunidades indígenas no país. A situação é mais grave em aldeias localizadas à beira de grandes áreas de monocultura, como soja e milho.

O assunto foi debatido na Comissão da Amazônia e dos Povos Originais e Tradicionais, a pedido da deputada Célia Xakriabá (Psol-MG).

Pesquisa apresentada durante a audiência destacou casos de contaminação. Segundo a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fernanda Savicki, que participou de uma pesquisa em aldeias indígenas de Caarapó (MS), as comunidades estão cada vez mais vulneráveis ​​aos impactos dos agrotóxicos.

Em alguns locais, foram encontrados nas águas (rios, córregos e até chuva) compostos altamente tóxicos, permitidos no Brasil e proibidos na União Europeia, como os herbicidas atrazina e ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D ). Segundo Savicki, existe uma “mistura de agrotóxicos” nas águas das regiões pesquisadas.

O coordenador regional da Comissão Guarani Yvyrupa, Celso Japoty Alves, relatou situação semelhante no oeste do Paraná, em terras ocupadas por comunidades indígenas. “Hoje é difícil colher frutas boas por causa do veneno”, disse ele.

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Fernanda Savicki: comunidades estão cada vez mais vulneráveis ​​aos impactos dos agrotóxicos

A líder do Tekoha Guyraroká (MS), Erileide Domingues Kaiowá, lamentou que nada tenha sido feito para conter a contaminação das aldeias por agrotóxicos, apesar dos dados serem de conhecimento público. “A diarreia é constante nas crianças. É aborto, é falta de produção [agrícola]é fraqueza. Não sei o que mais podemos fazer”, disse ela.

O diretor de promoção do bem-estar indígena do Ministério dos Povos Indígenas, Bruno Potiguara, afirmou que o ministério tem trabalhado junto ao governo para efetivar o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), atualmente em discussão.

Ele também defendeu que a Câmara aprove o Projeto de Lei 4347/21, que institui a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas (PNGATI). A proposta é de autoria da ex-deputada e atual presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.

Monitoramento
Também presente no debate, o promotor público de Dourados (MS), Marco Antônio Almeida, afirmou que a falta de monitoramento sistemático do uso de agrotóxicos no país tem contribuído para a situação atual. “Não temos uma estrutura estatal que faça isso de forma sistemática”, disse ele.

Segundo ele, é preciso investir em laboratórios públicos que sejam instalados próximos às áreas de maior contaminação e realizar esse tipo de levantamento, beneficiando toda a população.

A deputada Célia Xakriabá, que propôs a audiência pública, concordou com a ideia. Ela disse que o assunto poderia ser trabalhado na forma de um projeto de lei. “Um dos maiores inimigos dos povos indígenas é a ‘agenda dos agrotóxicos’, que está associada aos interesses do agronegócio”, acrescentou Xakriabá.

Relatório – Janary Júnior
Edição – Georgia Moraes



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