Como fica a situação da dívida de Minas com o Propag na ordem do dia

Como fica a situação da dívida de Minas com o Propag na ordem do dia



Hoje chega ao fim um dos capítulos mais decisivos da longa e prolongada novela da dívida mineira com a União. Nesta segunda-feira (13/1), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomará sua decisão sobre o Programa de Pagamento Integral da Dívida do Estado (Propag) após o Projeto de Lei Complementar (PLP) 121/2024 ser aprovado no Congresso Nacional e submetido algumas alterações em relação ao texto original. Independentemente dos possíveis trechos vetados e sancionados, com o plano em vigor, Minas precisará se adequar aos seus parâmetros para que, em 30 anos, consiga resolver a dívida que já existia por período semelhante. Os auditores fiscais estão otimistas com o cenário e calculam como ficariam as contas de Minas Gerais com a adesão ao modelo.

A Propag começou a ser criada no final de 2023 sob liderança do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O senador mineiro manteve conversas entre representantes do governo federal e de autoridades estaduais, especialmente membros da Assembleia Legislativa (ALMG), presidida por Tadeu Martins Leite (MDB). A ideia principal da articulação era criar uma alternativa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), até então defendido pelo governador Romeu Zema (Novo) como a única solução viável para a saúde financeira do estado, que deve cerca de R$ 165 bilhões para a União.

O cerne da Propag é estabelecer condições para que os estados endividados se adaptem e, com isso, reduzir os juros cobrados sobre a dívida, atualmente determinados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se um estado conseguir cumprir todos os requisitos, é possível parcelar a dívida ao longo de três décadas sem aumento real do estoque da dívida, bastando ajustar o valor de acordo com o índice de inflação.

Filiado à ideia da Propag, o Sindicato dos Servidores Estaduais de Tributação, Fiscalização e Arrecadação (Sinfazfisco-MG) elaborou uma série de cálculos que mostram como Minas Gerais poderia adequar sua realidade fiscal aos parâmetros do programa. O primeiro destaque dado pelos auditores é que os estados têm até 31 de dezembro deste ano para aderir ao projeto e, a partir daí, dividir sua dívida em 360 parcelas. O prazo original para cumprimento do programa era de 120 dias, mas foi ampliado por meio de alterações feitas durante a tramitação no Congresso.

A partir daí, é preciso entender quais são as condições que permitem a redução dos juros. Para reduzir em um ponto percentual a alíquota adicionada ao IPCA, é necessário amortizar pelo menos 10% do estoque da dívida com ativos estatais. Se esse valor atingir 20% do total devido, a redução é de dois pontos percentuais. No caso de Minas Gerais, o caminho mais aceito para alcançar a redução total é através da federalização de empresas públicas, como a Companhia Mineira de Desenvolvimento Econômico (Codemig), a Companhia Mineira de Energia (Cemig) e a Companhia Mineira de Saneamento ( Cemig) Minas Gerais (Copasa).

Os outros dois parâmetros para que o IPCA se torne o único indexador de juros são o aporte anual de 1% da dívida ao Fundo Federativo de Equalização (FEF) e o investimento em setores estratégicos com prioridade para infraestrutura e criação de vagas de ensino de nível médio e técnico .

O aporte à FEF foi feito na Câmara dos Deputados e no Senado Federal para facilitar a tramitação e aprovação acelerada da Propag no Legislativo, uma vez que representantes de estados sem dívidas ou com dívidas insignificantes, especialmente os do Norte e Nordeste, questionaram o aprovação de uma lei que, em tese, favoreceria exclusivamente as unidades federativas com contas no vermelho. A determinação de como esses critérios serão avaliados é um dos pontos de quem critica a Propag ou, pelo menos, acredita que o projeto não representa uma solução tão rápida e simples como defendem seus entusiastas.

Federalização e parcelamento

Pelo cálculo do Sinfazfisco, a federalização da Codemig, Cemig e Copasa seria suficiente para reduzir R$ 65 bilhões da dívida, quase o dobro do mínimo de 20% determinado na Propag. Os valores de mercado das estatais mineiras variam e o projeto não determina a base de cálculo do valor das empresas.

O texto final da Propag que saiu do Congresso e foi enviado à Presidência da República também prevê o parcelamento progressivo, sendo a redução máxima determinada em 20% do valor da dívida no primeiro ano, 40% no o segundo, 60% no terceiro, 80% no quarto e, a partir do quinto ano, pagamento com base no estoque total.

Nesse contexto, o cálculo das condições ideais feito pelo Sinfazfisco prevê o pagamento progressivo por Minas Gerais de R$ 1,13 bilhão no primeiro ano; depois R$ 2,26 bilhões; R$ 3,4 bilhões; R$ 4,52 bilhões; até a fixação do valor padrão no quinto ano em R$ 5,66 bilhões. A título de comparação, no âmbito do RRF, Minas Gerais planeja pagar cerca de R$ 14 bilhões anualmente em amortização de dívidas.

Em relação ao teto de gastos previsto na Propag, a análise é que se trata de um modelo menos austero que o do RRF. Caso não haja aumento de arrecadação no ano anterior, o limite de gastos é fixado no IPCA. Em caso de variação positiva da receita com resultado primário nulo ou negativo, o IPCA é acrescido de metade da variação positiva da receita. Na melhor das hipóteses, com variação real positiva da receita primária e resultado primário positivo, o teto incide sobre o IPCA mais 70% do superávit.

Possíveis vetos

Conforme avançado por jornalista Guilherme Amado no PlatôBRLula deverá vetar o trecho do projeto que permite a utilização do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional (FNDR) para amortizar o estoque da dívida. Além deste ponto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP) já sinalizou que haverá vetos em todos os pontos identificados pela equipe econômica como possivelmente causadores de impacto nos resultados primários das contas públicas.

Para Hugo René de Souza, diretor de Relações Intersindicais e Parlamentares do Sinfazfisco, os vetos não devem ser significativos para a Propag em relação aos seus pontos básicos. Ele destaca que o Planalto teve participação efetiva na criação do projeto.

“A Propag é para que os estados que já estão endividados e, em quase todos os casos, dívidas que têm a União como fiadora, comecem a pagar. Não creio que haja grandes impactos na meta fiscal e nem seria prudente o presidente fazer muitos vetos. É um projeto que envolve muitos estados, mesmo aqueles que não são endividados, então acho que o Pacheco ficou muito feliz em criar o projeto. Ele recebeu informações da Assembleia Legislativa e, como o presidente vivenciava diariamente as negociações, isso não caiu no esquecimento”, analisa.



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