Como a viúva de Bruno Pereira vê a política indigenista de Lula

Como a viúva de Bruno Pereira vê a política indigenista de Lula



O antropólogo competente Beatriz Matoss, viúva de Bruna Pereiradeu um comunicado ao coluna sobre a situação dos povos indígenas nesta quarta-feira, 5, dois anos após a morte do maior indígena da história do Brasil.

Beatriz Matos diz que vive um momento ambíguo: um momento de esperança, mas ainda testemunha muitas dificuldades pela frente. A antropóloga, atualmente responsável pela área de povos indígenas isolados e de contato recente no ministério dos povos originários, afirma que neste ano e meio de Governo Lula serviu como um “esforço gigante para retomar a política indigenista [brasileira]”.

“Naquele dia, há dois anos, não tínhamos informação, não tínhamos apoio. Houve um presidente que difamou a memória deles. Na verdade, neste momento de memória, de homenagem agora, temos uma noção de como as coisas são diferentes. E ao mesmo tempo, vendo que há uma complexidade muito grande”, afirmou Beatriz Matos, lembrando o comportamento grotesco de Jair Bolsonaro de culpabilizar as vítimas na hora dos assassinatos.

Mas o antropólogo também afirma que é necessário mais orçamento para a Ibama e para o Funaie em tudo que se refere aos povos originários no governo federal.

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Leia abaixo os principais trechos do depoimento de Beatriz Matos ao coluna.

“Acho que a sensação é de que existe uma possibilidade, um horizonte de avanço. Vemos muitos momentos comparando com o que aconteceu naquela época, com o que passamos quando o Bruno e o Dom morreram. Naquele dia, há dois anos, não tínhamos informação, não tínhamos apoio. Houve um presidente que difamou a memória deles. Na verdade, neste momento de memória, de homenagem, sentimos como as coisas são diferentes. E ao mesmo tempo, ver que existe uma complexidade.

A situação em que se encontram hoje as terras indígenas – o Vale do Javari, mas, na verdade, todas as terras indígenas – nos mostra um enorme desafio. Estando no governo, trabalhando dentro do governo, vejo um esforço gigante para poder retomar a política indigenista, para retomar as políticas de proteção aos povos indígenas, aos povos isolados, porque foi agravado muito pelo descaso total do governo anterior . Passámos o último ano e meio a tentar reconstruir isto.

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A convite da Sônia Guajajara, vim para Brasília, com meus filhos, nesse esforço de mudança, fizemos essa aposta: vamos ajudar a construir esse ministério, vamos ajudar a reconstruir a política indigenista. A partir daquele momento foi um momento de reconstrução. Me sinto assim quando vejo os ministérios comprometidos com o Plano de Proteção do Javari, que estamos tentando implementar desde o ano passado. Preparamos no ano passado e agora podemos iniciar as primeiras ações deste plano de proteção, com a colaboração de vários ministérios. Há um vislumbre de esperança de que esta proteção será contínua. Não faz sentido tomar ações específicas.

Agora é preciso mais orçamento, mais condições para os profissionais da área trabalharem. Avançamos no plano de carreira e no concurso da Funai, aumentando o quadro de funcionários, mas ainda é insuficiente. O orçamento da Funai ainda é insuficiente, o orçamento do Ibama é insuficiente. O Ibama se comprometeu a abrir o escritório em Tabatinga, que atende a região do Vale do Javari. Precisamos reabrir todos esses escritórios, precisamos dar condições para que os funcionários do Ibama possam trabalhar.

Então, é ambíguo: estamos num momento de esperança e também num momento em que ainda vemos muitas dificuldades pela frente. Acho que isso resume toda a turbulência nos dois anos desde a morte de Bruno.”



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