Às 6h15 do sábado, dia 14, o Ministro da Defesa, José Múcio, recebeu um telefonema do comandante do Exército, General Tomás Paiva, para anunciar que estava acontecendo um momento único na história do Brasil: a Polícia Federal estava em Apartamento de Walter Braga Netto, no Rio de Janeiro, para prender um dos dezenove generais de quatro estrelas, nível mais alto da hierarquia do Exército. Foi a primeira vez no país que um policial dessa categoria teve sua prisão ordenada pela Justiça —antes, outras prisões só ocorriam em períodos de turbulência institucional. Foi também o momento em que as investigações sobre a trama golpista eclodida no final de 2022 para impedir a posse de Lula se aproximaram de Jair Bolsonaro. Braga Netto não foi apenas um militar de alta patente: ocupou os ministérios da Defesa e da Casa Civil durante seu governo e, posteriormente, acabou sendo escolhido como vice-candidato em sua chapa presidencial.
O golpe é o maior sofrido pelo ex-presidente desde que a investigação chegou a outro militar de alta patente, o tenente-coronel Mauro Cesar Cid, seu ex-ajudante de campo. Ator-chave, Cid concordou em se manifestar e forneceu declarações e provas que levaram à prisão de Braga Netto e ao indiciamento dele, de Bolsonaro e de outras 38 pessoas por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e crimes organização. Amplamente citado no relatório final da Polícia Federal, divulgado em 21 de novembro, como peça-chave na conspiração golpista, Braga Netto foi preso apenas três semanas depois, o que ajudou a aumentar a tensão entre outros investigados do caso. Segundo decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a medida só ocorreu agora porque ficou claro que o general tentou obstruir as investigações e que isso só foi confirmado no depoimento mais recente de Mauro Cid, no dia 5.
A preocupação se explica porque apenas Bolsonaro está acima de Braga Netto na hierarquia dos envolvidos na suposta trama. Poucas horas após a prisão, o ex-presidente saiu em defesa de seu ex-assessor por meio de postagem nas redes sociais em que criticava a decisão de Moraes. “Como alguém pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?” disse ele, citando relatório da PF enviado ao STF. A investigação, no entanto, permanece aberta. Tanto que os investigadores recolheram o celular de Braga Netto e mais de dez pen drives do coronel Flávio Peregrino, seu ex-assessor. Além disso, como o caso está com o procurador-geral da República, Paulo Gonet, que pode solicitar investigação adicional antes de decidir se deve apresentar queixa ao Supremo, não é possível afirmar que a investigação não possa ser obstruída.
Após a reação imediata, Bolsonaro e aqueles ao seu redor adotaram o silêncio. Para “orientação jurídica”, até Valdemar Costa Neto, presidente do PL de Braga Netto e Bolsonaro, anunciou que não daria mais entrevistas. Os filhos do capitão permaneceram em silêncio até quarta-feira, 18, quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) quebrou o silêncio em entrevista coletiva convocada por parlamentares da oposição. Repetiu a tese do pai — de que não havia nada a obstruir — e atacou duramente o comandante do Exército, Tomás Paiva, a quem chamou de “inepto” e “inútil” por não ter reagido à prisão de Braga Netto. “Eu poderia colocar uma abóbora em vez disso”, disse ele. A maior parte das críticas a Moraes e da defesa explícita de Braga Netto partiu de apoiadores nas redes e aliados secundários no Congresso, como o ex-vice-presidente e general Hamilton Mourão, hoje senador. “Todo mundo está com medo”, resume Gilson Machado, ex-ministro do Turismo na gestão Bolsonaro e proprietário de uma pousada em São Miguel dos Milagres, no litoral de Alagoas, onde Braga Netto estava hospedado pouco antes de sua prisão.
Apesar do medo, aqueles que cercavam o ex-presidente agiram nos bastidores. Uma das estratégias consistiu em suavizar as arestas dos planos de defesa jurídica de Braga Netto e Bolsonaro. A relação quase ruiu quando o defensor do ex-presidente, Paulo Cunha Bueno, em entrevista à GloboNews, disse que os conspiradores tirariam Bolsonaro do poder se o golpe fosse bem sucedido. A impressão que ele deu — e irritou Braga Netto — foi a de que Bolsonaro poderia deixar o aliado à própria sorte, o que não seria novidade no currículo do ex-presidente. Criticado por pessoas próximas a Bolsonaro, o advogado do general, Luiz Henrique Prata, foi substituído por José Luis Oliveira Lima, criminalista que já defendia o ex-ministro José Dirceu e encerrou o processo contra o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, na Lava-Jato. A comitiva de Bolsonaro, porém, considera remota a chance de um denunciante, mas também pensava assim em relação a Mauro Cid. A princípio, a tese a ser seguida pela nova defesa de Braga Netto será dizer que não houve orquestração golpista.
A preocupação não deve diminuir nos próximos dias. Embora Gonet deva decidir sobre a denúncia em fevereiro, ao final do recesso, já preocupa o fato de Alexandre de Moraes ter informado ao STF que continuará trabalhando normalmente durante a paralisação do Tribunal. Sem muito o que fazer, os bolsonaristas apostam até na estratégia de empurrar a situação até a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro —estimam que, com seu aliado de direita no poder, haverá menos ambiente político para prender Bolsonaro. Pensar que a marcha da PF, do Ministério Público e do Judiciário levará isso em conta só mostra o tamanho do sofrimento.
Publicado em VEJA em 20 de dezembro de 2024, edição nº. 2924
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