12/06/2024 – 14:56
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Silas Câmara: a regulação deve ser eficiente e respeitar as liberdades
A Comissão de Comunicação da Câmara dos Deputados apresentará sugestões para o marco regulatório das redes sociais, conforme informou o presidente do colegiado, deputado Silas Câmara (Republicanos-AM).
A afirmação foi feita durante o seminário “Novos desafios regulatórios para o ecossistema digital”, que começou nesta quarta-feira (12) e terá continuidade na próxima semana. A ideia da comissão, segundo ele, é “trabalhar em paralelo com outras iniciativas do Congresso Nacional na área”.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), criou recentemente o grupo de trabalho que analisará o Projeto de Lei 2630/20que visa regular as redes sociais e combater as chamadas notícias falsas.
Silas Câmara disse que é a favor da regulamentação, e que os conceitos de liberdade de expressão e liberdade religiosa têm sido utilizados de forma distorcida pelos adversários da regulamentação. “Pretendemos produzir uma regulação que seja justa, eficiente, que respeite as liberdades, mas também que construa uma relação em que não seja pisoteado tudo o que é tradicional, tudo o que existe na comunicação”, avaliou.
O deputado destacou que as plataformas digitais utilizam, na maioria das vezes, produções mediáticas tradicionais sem qualquer tipo de remuneração e que este é um dos pontos que deve ser regulamentado.
Priorização de propostas
A deputada Dani Cunha (União-RJ), que solicitou a realização do evento, também destacou que o objetivo do seminário é auxiliar na produção de um marco regulatório moderno para plataformas, consistente com as expectativas brasileiras, destacando que 3/4 do a população nacional está conectada a alguma rede social todos os dias.
“Os debates que iniciamos hoje nos permitirão priorizar propostas que tramitam nesta Casa legislativa e que já estão prontas para votação, e indicar à sociedade que a Câmara dos Deputados está atuante nesse processo regulatório”, disse. “Nos últimos quatro anos, a não regulamentação das redes no Brasil gerou uma perda de receita de mais de R$ 200 bilhões”, acrescentou.
Potencial de receita
Professor da Universidade de Brasília (UnB), Bruno Fernandes apresentou estudo que mostra o potencial de arrecadação da taxação de serviços digitais. “Alguns países europeus decidiram implementar uma taxa específica, um imposto específico para serviços digitais, chamado ISD [digital service tax]”, explicou, lembrando que este regulamento serviu de base ao estudo.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Dani Cunha: Brasil já perdeu R$ 200 bilhões em receita por falta de regulamentação de rede
Ele citou algumas propostas tributárias em discussão no Congresso Nacional, além da reforma tributária e receitas estimadas se aprovadas e implementadas:
- o Projeto de Lei Complementar (PLP) 2.358/20, que trata da Cide digital (Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico), com alíquota de 1% a 5% e recursos destinados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). ) – receita estimada em cerca de R$ 16,5 bilhões;
- o Projeto de Lei Complementar 218/20, que trata do Contribuição Social sobre Serviços Digitais (CSSD), com alíquota de 3% sobre a receita bruta e destinação dos recursos arrecadados para programas federais de renda básica – receita estimada em quase R$ 10 bilhões;
- Projeto de Lei do Senado 131/20, que estabelece regime digital diferenciado da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), com alíquota de 10,6% sobre serviços digitais – receita estimada em R$ 35 bilhões.
Com a reforma tributária e a unificação dos impostos sobre o consumo, o potencial de arrecadação é de R$ 41 bilhões a R$ 82 bilhões. Mas isso ainda dependerá da regulamentação do tema, que ainda está em discussão no Congresso Nacional.
Reforma tributária
“A reforma tributária não nos exclui de seguir o exemplo de Itália, França e Espanha e colocar um imposto adicional e específico sobre as grandes plataformas digitais, como propõem os PLPs 218/20 e 2358/20”, apontou Othon de Azevedo Lopes, também professor da UnB.
“Outra coisa que pode ser feita é equalizar a tributação dos serviços digitais com os serviços de telecomunicações, pois são complementares e análogos, e sabemos que o Fust se aplica aos serviços de telecomunicações. [Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações] e Funtel (Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações)com alíquota de 1,5%”, acrescentou.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Nely Aquino: é preciso conscientizar a população sobre o uso seguro das plataformas
Deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) defende que a carga tributária das ligações grandes tecnologias é compatível com o do setor de rádio e TV. Ele também defende a aprovação pela Câmara de norma para responsabilizar quem dissemina notícias falsas.
Proteção de dados
O presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, deputado Nely Aquino (Podemos-MG), afirmou que o colegiado também quer auxiliar em medidas legislativas que melhorem o ecossistema digital do país. Para ela, os principais desafios da regulação incluem a proteção de dados e da privacidade dos usuários. “Precisamos criar regulamentações e estratégias que evitem o uso indevido e o vazamento de dados sensíveis, que podem afetar a população”, afirmou.
“Em relação às plataformas digitais, é necessário evitar que se transformem em plataformas de exaltação de discursos de ódio, de difusão de notícias falsas, de manipulação política e de fonte de fraudes e burlas”, acrescentou. Nely também defendeu a educação da população sobre o uso seguro das plataformas digitais.
Professor da Universidade de São Paulo, Juliano Maranhão observou que diversos serviços digitais são gratuitos e seu maior valor ou ativo são os dados. Lembrou que já existe regulamentação para a protecção e tratamento de dados, através do Lei de Proteção de Dados.
Inteligência artificial
Para o professor Juliano Maranhão, é importante pensar a regulação não olhando apenas para o passado – para a mídia tradicional – mas também para o futuro, levando em conta as ferramentas de inteligência artificial (IA), que, na sua avaliação, provocarão uma transformação tanto intensa como a provocada pelas plataformas digitais.
“Temos agora que fazer uma análise prospectiva e muito cuidadosa, porque estão a ocorrer transformações, sobre quais seriam as consequências da regulação para um mercado que está em transformação”, apontou. “Em vez de pensar apenas no poder de mercado no ambiente digital e de plataformas, pense em como será a alocação e as relações de poder neste novo mercado de inteligência artificial”, acrescentou. Segundo ele, isso é importante porque as próprias plataformas baseiam seu modelo de negócios na IA.
Modelo europeu
Segundo Juliano Maranhão, o modelo europeu, que serve de inspiração para a regulamentação de outros países, incluindo a última versão do PL 2630/20, baseia-se em uma estratégia geopolítica específica e nas condições de mercado da Europa, sendo necessário questionar se O Brasil deveria ter a mesma estratégia.
O consultor legislativo Cesar Mattos disse que ainda não está claro se o Regulamento de Serviços Digitais da União Europeia funcionou ou não, uma vez que apenas começou a ser implementado. Ele lembrou que o Projeto de Lei 2.768/22, do deputado João Maia (PP-RN), que confere à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o poder de regular o funcionamento e operação das plataformas digitais em operação no Brasil. O texto também cria uma taxa a ser paga pelas grandes empresas do setor.
Segundo ele, ainda não há consenso sobre o tema. O texto está sendo relatado à Comissão de Desenvolvimento Econômico pela deputada Any Ortiz (Cidadania-RS), que promoveu uma série de debates sobre o tema.
O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, afirmou que a regulação deve priorizar a defesa da cidadania, da democracia, o combate ao anonimato e garantir uma sociedade mais justa, saudável, livre de mentiras, violência e agressões no ambiente digital.
Relatório – Lara Haje
Montagem – Marcelo Oliveira
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