18/07/2024 – 17:46
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Rogério Correia: muitas famílias nem tiveram as casas refeitas
A renegociação dos acordos de reparações socioeconômicas e ambientais em Mariana (MG) será uma das prioridades, neste segundo semestre, da Comissão Externa da Câmara dos Deputados de Fiscalização de Rompimentos de Barragens.
O objetivo é desbloquear apoio efetivo aos afetados pelo rompimento da Barragem de Fundão – das mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton –, que deixou 19 mortos e um rastro de poluição proveniente de rejeitos de minério de ferro ao longo da bacia do rio Doce, desde 5 de novembro de 2015.
O coordenador da comissão, deputado Rogério Correia (PT-MG), resumiu as recomendações já enviadas à Advocacia-Geral da União (AGU), aos governos de Minas Gerais e do Espírito Santo, aos ministérios públicos e defensorias públicas dos dois estados e às Regionais Tribunal do Governo Federal (TRF) da 6ª Região, responsável pela renegociação de acordos que, até hoje, não se concretizaram.
“São quase 100 propostas que reportamos e entregamos às autoridades. Vários problemas, ou quase todos, não foram superados. Os pescadores ainda não pescam, a água continua contaminada e os resíduos não foram removidos. Muitas, muitas famílias nem sequer tiveram suas casas reconstruídas. Então, vamos focar nessa renegociação no segundo semestre, com a visão de buscar um bom acordo para os afetados”, disse Correia.
As mineradoras sinalizaram aporte de mais de R$ 82 bilhões para reparos. Em junho, a AGU, em conjunto com outras instituições públicas, apresentou uma contraproposta de R$ 109 bilhões, sem contar o que as empresas já destinaram a Mariana.
Recomendações
Desde que foi reinstalada, em fevereiro de 2023, a comissão externa da Câmara dos Deputados aprovou 52 recomendações gerais para a renegociação de acordos sobre esse crime socioambiental.
O relatório da comissão elaborado pelo deputado Helder Salomão (PT-ES) defende, entre outros pontos:
- remuneração calculada por instituições independentes;
- criação do Conselho de Participação Social para acompanhar a renegociação; Isso é
- substituição dos Termos de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) pela obrigação das mineradoras pagarem por ações de reparação.
Outras 22 recomendações foram aprovadas em junho, em relatório da deputada Célia Xakriabá (Psol-MG), com foco específico nos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos ainda afetados pela contaminação por metais pesados no Rio Doce e suas terras tradicionais. O protagonismo dos atingidos e a proteção da saúde pública dominam as sugestões presentes nos dois relatórios sobre Mariana.
Política Nacional
No balanço de um ano e meio de atividades da comissão externa, Rogério Correia destacou as articulações em torno da aprovação definitiva da Política Nacional dos Direitos das Populações Atingidas por Barragens (Lei 14.755/23), também conhecido como PNAB.
“O PNAB é muito importante porque agora se sabe quem são os atingidos: estão registados, são reconhecidos e os seus direitos estão consagrados nesta legislação. Apresentamos outros [propostas de] leis que precisam ser acompanhadas, como uma nova lei ambiental no caso das mineradoras, que coloque maiores compromissos da sua parte com o meio ambiente e as questões sociais”, explicou o deputado.
Antônio Cruz/Agência Brasil
Comunidade de Bento Rodrigues foi destruída pelo rompimento da barragem em Mariana
Muitos desses projetos de lei apareceram na Comissão Parlamentar de Inquérito (IPC) sobre o crime socioambiental em Brumadinho (MG), que deixou 272 mortos após o rompimento da barragem Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em 2019.
Rogério Correia foi o relator da CPI, que chegou a propor a classificação do crime de “ecocídio” (PL 2787/19) e a inclusão da prevenção de desastres induzidos pela ação humana (PL 2791/19) na Proteção e Defesa Civil Política (Lei 12.608/12). Esses dois projetos já foram aprovados na Câmara e aguardam análise do Senado.
Os deputados também analisam propostas da CPI sobre novas normas para licenciamento ambiental (PL 2785/19) e um fundo especial para ações emergenciais em caso de desastres causados por projetos de mineração (PL 2789/19).
A actual comissão externa mantém vigilância para que estas questões não caiam no esquecimento, segundo Correia. “A comissão acaba se tornando quase permanente e fazemos todo esse monitoramento: são 43 barragens que têm algum nível de risco de rompimento”, afirmou.
Situação de risco
Um relatório do deputado Padre João (PT-MG) sobre barragens em risco foi aprovado em dezembro com 12 recomendações, que também levam em conta a maior frequência de eventos climáticos extremos no país.
Em agosto, a comissão votará o relatório do deputado Pedro Aihara (PRD-MG) com sugestões específicas para acordos de reparação de crimes socioambientais em Brumadinho.
Além disso, o deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) apresentará em breve um relatório sobre o aprimoramento da legislação que trata da segurança de barragens.
A comissão externa de barragens atua pela segunda legislatura seguido. A composição atual conta com 18 parlamentares. Desde 14 de fevereiro do ano passado, mais de 120 pessoas foram entrevistadas em 48 reuniões, 14 audiências públicas, 11 visitas técnicas, 7 reuniões técnicas e um seminário.
Relatório – José Carlos Oliveira
Montagem – Pierre Triboli
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