04/07/2024 – 10h31
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Diego Cherulli: empresas devem investir na prevenção e melhorar o ambiente de trabalho
A Comissão de Seguridade Social, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados reuniu nesta quarta-feira (3) 14 representantes de trabalhadores, empresas e advogados em busca de consenso para reduzir a judicialização em torno da pensão especial paga a trabalhadores expostos a agentes prejudicial à saúde.
O tema é objeto de proposta – PLP 42/23, do deputado Alberto Fraga (PL-DF) – que reduz a idade mínima para concessão do benefício e aumenta o valor para 100% da média das contribuições. Outros três projetos (PLPs 245/19, 74/23 e 231/23) são analisados em conjunto para superar as regras transitórias em vigor desde a reforma da Previdência Social de 2019 (Emenda Constitucional 103).
A audiência pública foi solicitada pelos deputados Pastor Eurico (PL-PE) e Erika Kokay (PT-DF). Todos os convidados defenderam a regulamentação da aposentadoria especial, mas com motivos e sugestões de ajustes variados.
O representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Kieckbusch, afirmou que são concedidas cerca de 1.500 novas pensões especiais por mês, mais de 80% por decisão judicial, o que gera insegurança para as atividades económicas.
A CNI defende uma regulamentação com foco em medidas preventivas. “O empregador deve criar ambientes de trabalho mais seguros, saudáveis e resilientes para eliminar a necessidade de reforma especial e evitar processos judiciais”, afirmou Kieckbusch.
Acidentes de trabalho
O diretor do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDPREV) Diego Cherulli comparou os custos entre aposentadoria especial e auxílio-acidente. O INSS paga atualmente 438 mil pensões especiais, no valor total de R$ 2,4 bilhões por mês. Ao mesmo tempo, são cerca de 1 milhão de benefícios pagos por acidente, com um custo total de R$ 2,2 bilhões por mês.
“Ou seja, o gasto do governo com o benefício pago por acidente de trabalho é quase igual ao gasto com aposentadoria especial. Em vez de prevenir, garantir a vida e gerar bem-estar, estamos pagando por quem sofreu acidente, deixou de ter bem-estar ou morreu, porque também existe pensão por morte acidental”, afirmou.
Renato Araújo/Câmara dos Deputados
Pastor Eurico, relator do PLP 42/23: “Esperamos chegar a um denominador comum”
Com mais de 7 milhões de acidentes envolvendo trabalhadores formais desde 2012, o Brasil só fica atrás de Índia, China e Indonésia nesse ranking, segundo Adriane Bramante, especialista em direito previdenciário.
“São números que não param de subir: enquanto estamos discutindo isso, um trabalhador morreu em acidente de trabalho porque o ambiente de trabalho não é fiscalizado e é hostil”, comentou Adriane.
Terceirizado
A subnotificação também é alta. O presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes de Segurança (CNTV), José Santos, citou o caso dos trabalhadores terceirizados que, segundo ele, vivenciam a invisibilidade no ambiente de trabalho e são vistos como “descartáveis”.
“No dia a dia da nossa categoria costuma-se dizer que, com um segurança morto, a empresa coloca o uniforme em outro e a vida continua. Eles nos descartam. E também descartam isso por não nos verem como tendo direito”, lamentou.
Riscos
Diretor das Confederações Nacionais dos Trabalhadores Urbanos (CNU) e da Indústria (CNTI), Elvio Vargas citou categorias que não conseguiram obter aposentadoria especial, nem mesmo por meio de ações judiciais após a reforma previdenciária. É o caso dos eletricistas expostos a riscos de choque.
“Que empresa fica com o eletricista, aquele que sobe no poste, até os 65 anos? E então posso fazer a pergunta oposta também. Qual trabalhador estará apto a realizar um serviço especializado nessa idade? Não reconhecer a aposentadoria especial significa jogar esses trabalhadores no limbo”, argumentou.
Outras categorias também apresentaram peculiaridades de sua rotina de trabalho e solicitaram o direito à aposentadoria especial. O diretor da Federação Única dos Trabalhadores João Felchak citou a exposição dos petroleiros ao ruído e ao benzeno.
O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) apontou pressão atmosférica anormal, radiação ionizante, ruído e microvibração, além de fadiga, que coloca em risco a segurança do voo.
A exposição a agrotóxicos, doenças e violência na região fronteiriça foram alguns dos riscos apontados pelo Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura, Agrária e Pecuária (Sintap).
Critérios técnicos
Um dos consensos na regulamentação vem da aprovação do PLP 42/23 pela Comissão do Trabalho: a aposentadoria especial deve ser concedida com base na exposição ao risco e não por categoria.
A Associação Nacional dos Auditores Fiscais (Anfip) defende riscos mensurados no local e caso a caso, além de critérios técnicos na definição dos agentes nocivos, a fim de reduzir a judicialização. Outros debatedores fizeram sugestões específicas em relação à fiscalização, remoção não acidental e reinclusão de contribuintes individuais.
Relator da proposta na Comissão de Seguridade Social, Pastor Eurico aposta em um novo consenso: “Esperamos chegar juntos a um denominador comum”.
Além da Comissão de Segurança Social, o texto terá de ser analisado pelas comissões de Finanças e de Tributação; e Constituição e Justiça e Cidadania. Depois, passará pelo Plenário da Câmara. Se aprovado, seguirá para o Senado Federal.
Relatório – José Carlos Oliveira
Montagem – Marcelo Oliveira
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