BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em uma das votações mais tensas de seu governo até agora, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 18 votos do PL de Jair Bolsonaro a favor da PEC (proposta de emenda à Constituição) de corte de gastos, que teve seu texto- base aprovada nesta quinta-feira (19/12) pela Câmara dos Deputados após desidratação.
Três membros do seu próprio partido foram contra a PEC, que foi aprovada no 1º turno com 344 votos – o texto precisava de 308 votos.
Um dos nomes petistas contrários ao texto foi Rui Falcão, que já havia informado colegas sobre sua posição contrária ao projeto. Os outros dois petistas que discordaram foram Marcon (RS) e Natália Bonavides (RN).
A votação da PEC foi adiada, pelo alto risco de que ela fosse derrotada, e o governo negociou até R$ 5 milhões em emendas às vésperas da aprovação, para destravar o texto.
Desde o início do obstáculo ao avanço do ministro da Fazenda, o pacote de gastos de Fernando Haddad, dois partidos do centro eram vistos como equilíbrio para o avanço das propostas: União Brasil e PSD.
Ambos compõem a Esplanada dos Ministérios de Lula, mas estavam insatisfeitos com o governo e tiveram seus dois dirigentes preteridos na disputa pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara.
Vivendo uma crise interna, 23 dos 59 deputados sindicais foram contra a PEC do governo. A sigla tem três ministros: Juscelino Filho (Comunicações), Celso Sabino (Turismo) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional).
O partido tem ligação com o empresário Marcos Moura, conhecido como Rei do Lixo e alvo da Polícia Federal (PF) em investigação sobre possível fraude de R$ 1,4 bilhão em fraudes em licitações.
Moura é próximo dos líderes do partido e parlamentares acreditam que a investigação pode afetar Elmar Nascimento (União-BA), atual líder do partido na Câmara.
Elmar tentou ser o sucessor de Lira, mas não conseguiu, e deve ser afastado da liderança na Câmara – disputa que dividiu os deputados na bancada.
O PSD mobilizou mais. O próprio líder do partido, Antônio Brito (PSD-BA), foi ao plenário pedir que seus apoiadores votassem pela aprovação da proposta.
No final, 34 dos 44 deputados do partido apoiaram o texto, incluindo Pedro Paulo (PSD-RJ), que foi em grande parte contra a matéria e até tentou criar uma PEC alternativa para cortar custos, para se opor ao governo.
A insatisfação dos deputados do PSD se deve, sobretudo, ao fato de a bancada se sentir esquecida e merecedora de mais reconhecimento de Lula, por ter entregue cerca de 40 dos seus 45 votos em outros temas importantes de interesse do governo até o momento.
O líder Brito foi um dos candidatos a concorrer à presidência da Câmara, mas não recebeu apoio do Executivo, que ficou ao lado de Hugo Motta (Republicanos-PB) – escolhido por Lira e que deveria ser o novo representante da Casa.
O PSD solicita uma reunião pessoal com Lula para expor as suas queixas e tentar alinhar a relação, já pensando na nova legislatura, a partir de 2025.
A deputada Duda Salabert (PDT-MG), uma das vice-líderes do governo na Câmara, também votou contra a proposta.
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Poucos momentos antes de o resultado ser anunciado, lideranças do centro e da base governista disseram apostar na aprovação da matéria, mas com placar apertado. Um deles estimou 327 votos.
Um cardeal do centro diz que o resultado mostra o trabalho e o comprometimento dos dirigentes, que mobilizaram desde cedo as respectivas bancadas. Disse ainda que, “mais uma vez, o Congresso fez um trabalho de articulação que o governo não faz”.
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