Com Lula e sem Milei, Mercosul incorpora Bolívia

Com Lula e sem Milei, Mercosul incorpora Bolívia



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega nesta segunda-feira (7/8) a Assunção, no Paraguai, onde participará da 64ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados. Um dos destaques do encontro será o anúncio da entrada plena da Bolívia no bloco comercial, após a aprovação do protocolo de adesão ocorrida no dia 3, pelo Senado boliviano.

Para o Correio Braziliense, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, destaca que, além da entrada definitiva da Bolívia, Lula pretende dar uma mensagem sobre a importância da solidariedade e da democracia, após a tentativa de golpe sofrida pelo presidente boliviano Luis Arco. Ele dirá que o Brasil e a Bolívia são exemplos de como a extrema direita conspira contra as instituições democráticas do continente, que precisam ser valorizadas e defendidas.

O grande ausente do encontro será o presidente da Argentina, Javier Milei, que ontem esteve em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, para participar de uma conferência de partidos de direita, organizada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem o dirigente argentino de estado atendido. Milei disse que Bolsonaro “sofre perseguição judicial”, mas não citou nomes.

Em menos de meia hora de discurso, centrou as suas críticas no socialismo como um modelo económico sem sustentabilidade: “Fazer justiça não é apenas ‘todos serem iguais’”. “Justiça é oferecer uma vida melhor. Justiça é que cada um seja dono dos seus sonhos”, acrescentou. Desta vez, Milei não atacou diretamente o petista, o que seria uma afronta intolerável.

Milei representa a ultradireita na América do Sul e se opõe ao bloco, cuja presidência, por rodízio, passará do Paraguai para o Uruguai. Milei faz ataques frequentes ao presidente Lula. No dia 2, nas redes sociais, ela disse que Lula foi “preso por corrupção”, que é “comunista” e se referiu a ele como um “perfeito dinossauro idiota”.

Tentativas de manter negociações progressistas dentro do bloco. Questionado sobre a relação entre os dois líderes, Amorim limitou-se a dizer que “a relação entre Brasil e Argentina é muito forte, mas que certos protocolos diplomáticos, independentemente dos sentimentos, têm de ser respeitados”.

“É obviamente importante neste momento”, disse Amorim sobre as relações comerciais entre os dois países. “Vamos lembrar que também existe uma cláusula democrática sem nenhuma interferência. Queremos que isso seja preservado. Outro aspecto que também queremos manter e reforçar é a questão do Mercosul Social. Isso é muito importante para o Brasil, mas acho que é importante para toda a região, num momento em que algumas doutrinas neoliberais extremistas estão em voga em alguns países”, destaca. O bloco económico representa atualmente o equivalente à 7ª maior economia do mundo, com um PIB de 2,86 biliões de dólares, e abrange 67% do território da América do Sul.

Em 2023, o Brasil exportou 23,56 mil milhões de dólares para o bloco e importou 17,09 mil milhões de dólares, com um excedente de quase 6,5 mil milhões de dólares. A maior parte das exportações brasileiras foram produtos manufaturados, e os principais bens comercializados entre os membros do bloco são automóveis, peças automotivas, energia e soja.

Para Márcio Coimbra, presidente do Instituto Monitor da Democracia e vice-presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), um ponto de atuação efetiva do Mercosul será o acordo com o Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata ( Fonplata). A entidade apoia a realização de estudos, projetos, programas, obras e iniciativas que promovam o desenvolvimento e a integração econômica dos países membros da Bacia do Prata: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Distância

O especialista, porém, destaca que Paraguai, Uruguai e Argentina, ideologicamente, estão distantes do Brasil. “As reuniões são pró-forma, com a presidência passando de uma pessoa para outra. A ausência de Milei mostra uma certa falta de prestígio do Mercosul, uma mensagem de que o bloco não é uma prioridade para ele. Isso é muito claro”. No entanto, destaca, “há uma perspectiva de acordos importantes com a China e queremos ver como os países do Mercosul podem participar nisso sem quebrar os princípios básicos do bloco”.

O Mercosul foi criado há 33 anos, por meio do Tratado de Assunção e, de acordo com o Protocolo de Ouro Preto, a presidência pro tempore do bloco é exercida pelos Estados Partes, de forma rotativa e em ordem alfabética, durante seis meses. Na cúpula de hoje, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, entregará a presidência do bloco ao presidente do Uruguai, de centro-direita Luis Lacalle Pou. Durante a liderança do Paraguai, foram realizadas 14 reuniões ministeriais em diversas áreas, com temas voltados para educação, saúde, justiça, trabalho, cultura, direitos humanos, meio ambiente, turismo, desenvolvimento social e população indígena.

Entre as medidas tomadas está também a criação de comités, um dos mais importantes dos quais é o controlo integrado de fronteiras. “É nesses comitês que se decidem as coisas mais concretas. É importante que a região considere um pouco a questão das fronteiras. De não ter filas, de ter mais facilidades, de decidir as coisas. Vamos sentar e conversar”, diz embaixador Gisela Padovan, secretária para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores.

Fronteiras

Na análise do especialista Ricardo Mendes, da consultoria Prospectiva Ricardo Mendes, porém, a agenda do Mercosul está vazia. “Basicamente, o Paraguai passará o bastão para o Uruguai. O Brasil deveria assumir questões políticas como a entrada da Bolívia, mas as divisões políticas não permitirão grandes avanços. Lula deveria levantar a questão da integração da infraestrutura e a questão climática devido às enchentes no Rio Grande do Sul e na Argentina”, ressalta.

A professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, porém, avalia que o petista continua tentando seguir como líder na América do Sul. “A participação de Lula no Mercosul reforça o seu papel de agente legítimo e que quer construir esses órgãos multilaterais, mas também reforça a importância do bloco, que reúne o principal parceiro comercial do Brasil e outros países com os quais nosso país faz fronteira”. Segundo ela, o país compartilha com os vizinhos questões geopolíticas fundamentais para a segurança nacional, como o controle de armas e a Itaipu Binacional.

“São questões relevantes em termos geoestratégicos. Vale destacar que o Brasil também desempenha um papel como potência regional na estabilização de conflitos. Daí a importância da visita do presidente à Bolívia. Estado Democrático de Direito eles não irão proliferar”, avalia Mayra. Amanhã, Lula irá a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para uma visita oficial ao presidente Luis Arce, em meio ao esforço para tentar impedir a ascensão da extrema direita na América do Sul. É a primeira vez que o presidente brasileiro visita o país neste terceiro mandato. O presidente da Bolívia, por sua vez, esteve no Brasil quatro vezes no último ano, o que reforça os laços estreitos entre os dois países.

Cenário ruim, ma non troppo

Ao recusar-se a participar da reunião do Mercosul, hoje, em Assunção, o presidente da Argentina, Javier Milei, lidera o pior momento político do bloco, cuja correlação de forças políticas mudou profundamente desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo com a entrada da Bolívia. Porém, devido à sua ausência e posição ambígua em relação à tentativa de golpe militar para destituir o presidente boliviano Luis Arce, a quem acusou de simular a sua própria destituição, o presidente argentino está isolado.

Apesar das diferenças ideológicas, devido ao peso económico do Brasil, maior mercado consumidor, e aos laços económicos consolidados com os seus vizinhos, o Presidente Lula continua a ser o grande garante das negociações dos acordos comerciais do Mercosul com os Emirados Árabes Unidos, a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) — bloco formado pela Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein — e, principalmente, pela União Europeia.

Os dois primeiros acordos estão quase concluídos; a terceira, depende da manutenção da atual presidente da Comissão Europeia, a democrata-cristã alemã Úrsula von der Leyen, o que é muito provável, porque o centro-direita venceu as eleições europeias. Embora a França se oponha ao acordo, devido à resistência dos seus agricultores, o novo presidente do Conselho Europeu, o antigo primeiro-ministro português António da Costa, um socialista, também apoia o acordo, que precisa de ser aprovado pelo parlamento por maioria. Em outras palavras, os franceses não têm poder de veto.

A chegada de Milei ao Brasil, para participar de um encontro de organizações de extrema direita em Santa Catarina, organizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que o governador Jorginho Melo (PL) legitimou institucionalmente, criou uma oportunidade para o presidente Lula assumir a bandeira da democracia como uma compromisso vital do Mercosul. Embora os políticos conservadores, os presidentes do Paraguai, Santiago Peña, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, que assumirá a presidência rotativa do bloco, sejam democratas.

A posição do chefe do Executivo brasileiro será corroborada pelo presidente da Bolívia, que chega ao encontro como exemplo de que a ameaça à democracia no continente é uma realidade. Ontem, na reunião dos chanceleres do bloco, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, deu o tom da posição de Lula na reunião de hoje: “No Brasil, também tivemos que enfrentar, ainda nos primeiros dias do terceiro mandato deste presidente, Lula, uma tentativa de reverter, através da violência, a vontade soberana do povo expressa nas urnas. No Brasil, como na Bolívia, a democracia venceu e tenho certeza de que sairá mais forte”.



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