Se Jair Bolsonaro ainda sonhava com a possibilidade de se beneficiar de uma anistia política, consolidando-se como principal expoente da direita e concorrendo às eleições presidenciais de 2026, suas chances diminuíram consideravelmente depois que a Polícia Federal concluiu, no final de novembro, a investigação que aponta o capitão como organizador e beneficiário de uma conspiração que minaria a democracia para mantê-lo no poder. Acusado pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático e organização criminosa, o ex-presidente foi acusado de dirigir e executar um plano que previa, entre outras loucuras, atacar o ministro Alexandre de Moraes, o presidente eleito, Lula , e seu vice, Geraldo Alckmin. O grupo criminoso envolvia outras 39 pessoas, incluindo ex-ministros do governo e oficiais de diversas patentes das Forças Armadas. A julgar pelo que a PF concluiu, principalmente após a prisão do general Braga Netto, a situação jurídica do ex-presidente ficou extremamente complicada. Ele pode ser condenado a mais de 28 anos de prisão se for condenado.
O inquérito reuniu um conjunto de provas e depoimentos que mostram que Bolsonaro, após perder as eleições, desenvolveu planos com seus assessores mais próximos para impedir a posse de Lula. O ex-presidente já admitiu que conversou com generais sobre a possibilidade de implementação de medidas extremas, como a declaração do estado de sítio, mas isso, segundo ele, fazia parte de estratégias de contingência caso se confirmasse que houve fraude no processo eleitoral, o que não aconteceu. Sobre o ataque a Moraes, Lula e Alckmin, escrito por um general que exerceu cargo no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirma que desconhecia a ação. A investigação será agora analisada pela Procuradoria-Geral da República, que poderá ou não denunciar os envolvidos ou solicitar novas medidas — decisão que só deverá ser conhecida em 2025 e que dará início a um processo judicial que poderá durar anos. Há, portanto, ainda um longo caminho a percorrer até o desfecho do caso, mas uma coisa é certa: o cerco ao ex-presidente foi encerrado.
Publicado em VEJA em 20 de dezembro de 2024, edição nº 2.924
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