11/09/2024 – 14h04
Foi assinado nesta terça-feira (10), na Câmara dos Deputados, um protocolo que estabelece diretrizes para o combate à violência política contra as mulheres. O documento foi assinado pela Secretaria da Mulher da Câmara, pelo Grupo de Trabalho de Prevenção e Combate à Violência Política de Gênero da Procuradoria-Geral da República e pelo Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública.
O objetivo é melhorar o acolhimento de denúncias nos estados e municípios.
Coordenadora da bancada feminina na Câmara, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que o protocolo é necessário porque a violência política não está sendo devidamente enfrentada.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Benedita da Silva: reclamações feitas por mulheres não são devidamente recebidas
“Precisamos conversar sobre o que não acontece, sobre não receber denúncias, sobre não aceitar denúncias de mulheres. Vamos falar da demora e dos erros no julgamento dos casos”, destacou. “Só assim seremos capazes de pressionar aqueles que precisam de ser pressionados para que uma mudança radical possa acontecer na nossa política”, acrescentou.
Benedita comentou ainda que, com a assinatura do protocolo, a intenção é dizer claramente que “não há mais espaço para a violência política de género na nossa sociedade”.
Situação atual
Três anos depois da publicação da lei que tornou crime a violência política de género (Lei 14.192/21), o Brasil teve apenas duas condenações pelo crime, nenhuma delas definitiva e inapelávelisto é, sem possibilidade de recurso. Os dados são de 2021 a 2023. Além disso, uma em cada quatro representações de violência política baseada no género neste período foi arquivada ou encerrada.
Os dados constam do Relatório do Monitor de Violência Política de Gênero e Raça, publicado pelo Observatório Nacional das Mulheres na Política da Câmara dos Deputados, em parceria com o Instituto Alziras e a Agência Francesa de Desenvolvimento.
O relatório abrangeu 175 casos acompanhados pelo Grupo de Trabalho da Procuradoria-Geral Eleitoral. Dentre esses casos, todos envolvendo mulheres em cargos públicos, apenas 12 (ou 7% das representações) foram convertidos em ação penal eleitoral referente ao crime de violência política, por meio de denúncias criminais apresentadas pelo Ministério Público. Ministério Público.
De acordo com a lei, a violência política baseada no género não se limita a actos físicos ou ameaças explícitas. Pode se manifestar por meio de discursos de ódio, campanhas de desinformação, assédio virtual, tentativas de silenciamento ou qualquer outro ato que vise intimidar mulheres que desejam ou participam da política brasileira.
Mudanças na prática
Advogada da Mulher da Câmara dos Deputados, Soraya Santos (PL-RJ) destacou que muitas mulheres desistem de ser candidatas devido à violência política, que perdura também durante o exercício do cargo, quando são eleitas, e até impede esse exercício .
Ela explica que, como a lei que tipifica o crime é recente, é importante um protocolo para orientar os órgãos que irão aplicá-lo. Com o documento, o sistema de segurança do Estado poderá receber denúncias e encaminhá-las ao órgão competente – a Justiça Eleitoral no caso de crimes ocorridos durante as eleições.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Soraya Santos: mulheres desistem de ser candidatas devido à violência política
“A violência política pode ser cometida em conjunto com outros crimes, como ameaças, racismo, insultos, crimes digitais”, lembrou Soraya Santos. “As delegacias se comprometem a receber os autos e encaminhá-los aos órgãos competentes para defesa do exercício da cidadania das mulheres”, acrescentou.
Ação conjunta
A procuradora da Justiça Eleitoral, Raquel Branquinho destacou que a assinatura do protocolo é um passo importante no combate à violência política contra a mulher, pois somente com a atuação conjunta de todas as instituições o problema será de fato combatido.
“Todo o sistema de segurança do Estado estará trabalhando em conjunto com a Polícia Federal para combater esses crimes de assédio, perseguição, humilhação, constrangimento, qualquer tipo de crime de violência política que possa ser cometido contra candidatos ou deputados. , que já ocupam cargos”, explicou.
Papel das delegacias de polícia
O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública e secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, reiterou que o protocolo será importante durante o período eleitoral e também fora dele.
Mário Agra/Câmara dos Deputados
Raquel Branquinho: protocolo é um passo importante para combater a perseguição às mulheres na política
“Inicialmente, os crimes eleitorais atingem diretamente a Polícia Federal e a Justiça Federal, mas, com esse protocolo, as secretarias de segurança, principalmente por meio das Delegacias de Polícia Civil, poderão registrar as ocorrências, mesmo fora dos períodos eleitorais”, declarou.
Rede de orçamento feminino
Nesta quarta-feira (11), a Secretaria da Mulher da Câmara também lançou o Rede Orçamento Mulher para as eleições de 2024, com o objetivo de comprometer o poder público municipal na elaboração de orçamentos que visa superar as desigualdades entre homens e mulheres, inclusive do ponto de vista racial.
A ideia é que, ao assinarem uma carta, os candidatos a vereadores e prefeituras assumam um compromisso com a sociedade por políticas públicas mais justas e equitativas.
Isto significa, por exemplo, contemplar a participação de mulheres e pessoas de cor na secretaria ou em cargos; alocar recursos adequados para programas e políticas públicas que promovam a igualdade de oportunidades para mulheres e pessoas de cor; e incluir a perspectiva de confrontar a desigualdade entre homens e mulheres e a raça em todas as fases do processo orçamental.
“O orçamento público é uma das ferramentas mais poderosas para a implementação de políticas públicas. No entanto, historicamente, as decisões orçamentais muitas vezes não tiveram em conta as necessidades específicas das mulheres, dos negros e de outros grupos minoritários”, alertou Benedita da Silva. “Implementar um Orçamento das Mulheres significa alocar recursos para corrigir estas desigualdades.”
Relatório – Lara Haje
Edição – Marcelo Oliveira
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