19/12/2024 – 15h52
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Érica Diogo, do Iphan, disse que Horto é patrimônio nacional
As pouco mais de 600 famílias que moram na comunidade do Horto Florestal, no Rio de Janeiro, buscam uma definição de como se hospedar no local, que fica na região do Jardim Botânico. Em abril deste ano, a comunidade obteve uma importante vitória por permanecer no local, resultado de relatório produzido por um grupo de trabalho formado por representantes do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto de Pesquisas Jardim botânico. A propriedade do terreno é disputada há mais de quarenta anos pelas famílias locais e pela administração do Jardim Botânico.
Esta semana, o assunto chegou à Câmara. A Comissão Participativa de Legislação discutiu soluções para a região, que tem mais de um século, pois a ocupação ali começou em 1808, segundo o representante da Secretaria-Geral da Presidência da República, Renê Esteban Rojo, que afirma que, em De maio a dezembro de 2023, um grupo de trabalho analisou as possibilidades de garantia do direito à moradia. O grupo ouviu moradores, o Jardim Botânico e membros do governo e universidades.
Segundo ele, há casas no Horto Florestal em regiões de risco. “Não queríamos chegar e construir algo que, no futuro, pudesse fazer com que uma família sofresse algum tipo de problema por questões geomorfológicas, hidrológicas, enchentes, deslizamentos de terra, então precisávamos de um laudo para podermos ter certeza de que as famílias que estão lá, que lá permaneceriam, poderiam estar em situação tranquila”, explicou.
Perigo iminente
O representante da Secretaria-Geral da Presidência afirma que a prefeitura do Rio entregou um estudo que indica que cerca de 50 residências no Horto estavam em situação de perigo iminente. Nesse caso, as famílias seriam realocadas para áreas do Horto ou regiões próximas.
A intenção é que as ordens de reintegração de posse sejam anuladas enquanto decorrem as medidas de relocalização. Outra conclusão do grupo de trabalho é que as famílias do Horto não teriam a propriedade da terra, mas sim o direito de utilizá-la com a garantia de não haver mais famílias nas regiões. Esse aspecto foi destacado pelo advogado da Associação de Moradores e Amigos do Horto, Rafael Mota.
“A sugestão do governo federal é que esse título seja uma concessão de permissão de detenção. Nós, da comunidade, pleiteamos a concessão de concessão de direito real de uso. Mas o mais importante é que, independentemente do título que será concedido, penso que o que vai garantir que todos os interesses sejam garantidos são as condições que este instrumento trará para a permanência do residente”, observou.
Segundo ele, as condições do governo são as mesmas apresentadas pelos moradores, como a proibição de transferência de propriedade entre moradores e algumas restrições de uso. Não há outras diferenças, como reconheceu o presidente da Associação de Moradores e Amigos do Horto, Fábio Dutra Costa, que destacou que os moradores são contra o crescimento da comunidade.
“O que falta é um pouco mais de coragem dos representantes do governo. Precisamos de algum acordo que dê a nós e ao instituto segurança jurídica de que a comunidade não crescerá e também não haverá nenhum tipo de ação arbitrária do governo”, disse.
Bem caído
O Iphan está do lado da comunidade, afirma a coordenadora geral de Normalização e Gestão do Território do instituto, Érica Diogo.
“O Jardim Botânico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, é reconhecido como patrimônio nacional. Então toda aquela área também é protegida do ponto de vista cultural, além da dimensão ambiental e faz parte da preservação que também tem sido realizada por eles no local. Dentro deste trabalho que foi recentemente realizado por este grupo de trabalho técnico, a afirmação da instituição foi que a sua permanência é capaz de coexistir com a preservação do património cultural”, disse Érica Digo.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Laura Carneiro defendeu o direito dos moradores de usar o Horto
A deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), que representou a prefeitura do Rio, está confiante em um bom resultado.
“Um acordo vai acontecer. E esperamos que esse acordo aconteça na Câmara do TRF (Tribunal Regional Federal). Mas o governo federal também precisa entender, e eles só querem dar o direito à detenção, e nós lutamos para que eles tenham o direito de usar, que é o mínimo. Ninguém está pedindo a titularidade, está pedindo a garantia do direito à concessão de uso, que é um direito menos precário que o direito de detenção”, observou o deputado.
A reunião foi presidida pelo deputado Glauber Braga (Psol-RJ).
«Estamos a falar de mais de 600 famílias, o que é claramente compatível com a preservação ambiental do espaço. Porque é isso que esses moradores fazem há décadas. É justamente com esse entendimento que esperamos que o acordo que agora é encaminhado ao Judiciário possa acabar de uma vez por todas com essa insegurança, com toda essa tensão vivenciada diariamente pelos moradores”, observou Braga.
A comunidade mais recente do Horto Florestal foi formada ao longo do século XX por funcionários de antigas fábricas da região e, posteriormente, por trabalhadores do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico. A partir da década de 1980, a União ajuizou ações de reintegração de posse e obteve decisão favorável em quase todas elas, mas no contexto do direito à moradia introduzido pela Constituição de 1988, poucas decisões acabaram sendo implementadas.
Reportagem – Luiz Cláudio Canuto
Montagem – Roberto Seabra
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