Nesta sexta-feira (27/12) a Câmara dos Deputados pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a liberação de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão cujo destino foi definido pelos líderes partidários, sem aprovação dos órgãos colegiados.
As explicações da Câmara, porém, não foram consideradas satisfatórias pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Em resposta, pediu à Câmara que justificasse como ocorreu o processo de alocação de recursos.
Em tréplica enviada na noite de sexta-feira, a Câmara disse que a distribuição do dinheiro seguiu critérios estabelecidos pelo governo Lula (PT) em portaria. A norma, com brechas reveladas pela Folha, permitia que líderes partidários se apresentassem como autores de indicações de emendas, omitindo os verdadeiros solicitantes dos recursos.
O vaivém de petições e ordens faz parte de um novo embate entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal em torno de emendas parlamentares. Na segunda-feira (23/12), Dino suspendeu o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas da comissão por suposto descumprimento do Congresso de decisões do STF.
A destinação do dinheiro estava prevista em ofício enviado pela Câmara ao Executivo no dia 12 de dezembro, com assinatura de 17 líderes partidários da Câmara. O valor correspondeu à soma de 5.449 indicações de alterações da comissão.
Na prática, conforme revelou a revista Piauí, o documento fazia novas destinações de recursos, sem aprovação dos órgãos colegiados e sem que fosse identificado o verdadeiro autor do pedido.
O estado mais beneficiado seria Alagoas, terra da Lira, com quase R$ 500 milhões.
A manobra realizada na Câmara descumpriu as determinações do Supremo quanto às emendas parlamentares. Em agosto, o plenário do tribunal havia definido que os recursos só poderiam ser liberados se houvesse total transparência e rastreabilidade, o que inclui a identificação dos parlamentares que sugeriram a destinação do dinheiro.
A liberação inicial de mais de R$ 4 bilhões foi resultado de um acordo entre o governo Lula e líderes do Congresso. A suspensão do pagamento por parte de Dino gerou reações nos poderes Legislativo e Executivo.
Em uma das respostas ao Supremo nesta sexta-feira, os advogados da Câmara afirmaram que as indicações foram feitas pelos líderes partidários após consultas às respectivas bancadas.
O mesmo aconteceu com o Senado. Lideranças partidárias enviaram carta ao governo indicando mais de R$ 2 bilhões em emendas da comissão no dia 18 de dezembro, valor este, porém, não bloqueado por Dino.
A destinação dos recursos não foi analisada pelas comissões, segundo a Câmara, porque a legislação em vigor não previa esse processo.
“O Congresso Nacional, tanto o Senado quanto a Câmara, adotaram as diretrizes anteriores do Poder Executivo, justamente porque as alterações da comissão não são vinculantes”, diz a Câmara.
A Câmara afirmou ainda que as emendas da comissão são sempre aprovadas pelas comissões temáticas do ano anterior. São emendas de alto valor (cerca de R$ 500 milhões), e suas ações abrangem temas amplos, como “promoção do setor agrícola”.
Ao longo do ano, segundo a Câmara, os valores são liberados aos poucos, seguindo instruções das comissões.
Os presidentes dos colegiados enviam ofícios ao Executivo informando, por exemplo, que, dos R$ 500 milhões para “fomentar o setor agropecuário”, R$ 2 milhões deveriam ser repassados para a compra de tratores em um município pernambucano.
As indicações, porém, não são transparentes nem seguem critérios técnicos. Como mostrou a Folha, a liderança da Câmara utiliza recursos para negociações políticas – e Alagoas tende a ser privilegiada com mais recursos do que estados maiores.
“Até 25 de novembro de 2024, data de promulgação da Lei Complementar nº 210, não havia nenhuma norma que previsse a votação das indicações feitas pelo Parlamento. Havia apenas a exigência da LDO de 2024 de que as indicações das comissões fossem veiculadas por ofícios. de seus presidentes”, disse a Câmara no parecer enviado ao Supremo.
Portanto, segundo o documento, não se poderia falar em ilegalidade ou manobra por parte do Congresso ao liberar recursos para emendas de comissões por recomendação de líderes partidários.
“Reitera-se a plena legalidade do procedimento adotado pelos Dirigentes do Congresso Nacional, tanto da Câmara dos Deputados quanto do Senado Federal, sob orientação legal [do governo federal].”
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Apesar das reações do Congresso à nova suspensão de emendas parlamentares, a Câmara informou que não cabe a ela avaliar um possível recurso à decisão de Dino. O governo Lula também anunciou que não questionará a decisão.
“Esta Câmara reitera que não apresentará recurso à luz da decisão do eminente Relator, pois tal recurso caberia ao Congresso Nacional [composto por Câmara e Senado] e a Procuradoria-Geral da União e não a Câmara dos Deputados”, disse.
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